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Eco: o que é, características e exemplos

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Saiba o que é eco em poesia, conheça suas características e veja exemplos de sua aplicação!

O eco é um recurso estilístico por vezes encontrado na poesia portuguesa.

Embora surja no discurso naturalmente e possa, também, configurar descuido ou vício de linguagem, se trabalhado criativamente, o eco pode proporcionar efeitos interessantes.

A seguir, elucidaremos o que é eco em poesia, quais são suas características e daremos exemplos de sua aplicação.

Definição de eco

Em poesia, eco é o recurso estilístico que consiste em fazer suceder a um verso, rimando com ele, uma palavra ou grupo de palavras.

O eco é também conhecido em retórica por homeoteleuto ou homeoteleuton, significando simplesmente a repetição de terminações de palavras e configurando um vício de estilo.

Curiosamente, é este vício de estilo, originalmente registrado por Aristóteles, considerado por alguns como a matriz da rima, criada posteriormente.

Como recurso poético, o eco, para além do efeito de reiteração sonora, oferece algumas possibilidades interessantes ao poeta, como veremos a seguir.

Aplicação do eco

Uma das aplicações mais frequentes do eco observamos nestes versos atribuídos a Gregório de Matos:

Que falta nesta cidade?
— Verdade!
Que mais por sua desonra?
— Honra!
Falta mais que se lhe ponha?
— Vergonha!

(…)

Quem a pôs neste socrócio?
— Negócio!
Quem causa tal perdição?
— Ambição!
E o maior desta loucura?
— Usura!

(…)

E que justiça a resguarda?
— Bastarda!
É grátis distribuída?
— Vendida!
Que tem, que a todos assusta?
— Injusta!

Nestes versos, o que primeiro percebemos é aquilo que configura o eco: a repetição das terminações em palavras subsequentes, tal como ocorre com o emprego do termo na retórica.

Mas há, porém, uma grande diferença no emprego do eco como recurso estilístico, que aquele observado em períodos desagradáveis como “não dão explicação sobre a demissão do João”.

Nos versos acima, observamos que o eco, para além da ênfase gerada pela reiteração sonora, opera como se respondesse a sonoridade anterior, algo que se encaixa perfeitamente no sentido e intenção dos versos.

Esse tipo de composição é mais frequente noutras línguas, como o francês e o inglês (nesta, é denominada echo verse), onde fica explícita a dinâmica de perguntas e respostas em eco como a essência da composição, como neste exemplo de George Herbert:

O who will show me those delights on high?
Echo: I.
Thou, Echo, thou art mortall, all men know.
Echo: No.
Wert thou not born among the trees and leaves?
Echo: Leaves.
And are there any leaves that still abide?
Echo: Bide.
What leaves are they? impart the matter wholly.
Echo: Holy.

É também comum o emprego do eco como a complementar o verso anterior. como vemos neste exemplo de Rubén Darío:

Tuve en momentos distantes,
antes,
que amar los dulces cabellos
bellos
de la ilusión que primera
era
en mi alcázar andaluz
luz

Notamos, finalmente, que quase sempre o emprego do eco se dá através de versos monossílabos ou dissílabos, que entremeiam versos mais longos e têm no eco sua principal aplicação na língua portuguesa.

Exemplo de eco

Abaixo daremos mais um exemplo da aplicação do eco em português.

A sonâmbula, de Fagundes Varela

Virgem de loiros cabelos
– Belos, –
Como cadeia de amores,
Onda vás tão triste agora
– Hora –
De tão sinistros horrores?

Sob nuvem lutulenta
— Lenta, —
Se esconde a pálida lua;
Na sombra os gênios combatem;
— Batem —
Os ventos a rocha nua

Noite medonha e funesta
– Esta –
Fundos mistérios encerra!
Não corras, olha, repara,
– Para, –
Escuta as vozes da serra!…

Dos furacões nas lufadas,
– Fadas –
Traidoras passam nos ares!
Cruentos monstros e espiam!
– Piam –
As corujas nos palmares!

Bela doida, se soubesses
– Esses –
Esses gritos o que dizem,
Ah! por certo que ouviras,
– Viras –
Que tredas coisas predizem!

Mas, infeliz, continuas!
– Nuas –
As tuas espáduas são!
E sob teus pés mofinos,
– Finos, –
Prendem-se às urzes do chão!

O orvalho teu rosto molha;
– Olha –
Como branca e fria estás!
Virgem de loiros cabelos,
– Belos –
Por Deus! conta-me onde vás!

Nestes ervaçais sem termos,
– Ermos –
Ninguém pode te acudir…
Toma sentido, sossega,
– Cega! –
Vê, são horas de dormir!

Teus olhos giram incertos;
– Certos –
Contudo teus passos vão!
Teu ser que a ilusão persegue
– Segue –
O impulso de oculta mão!

Ai! dormes! Talvez risonho
– Sonho –
Te chame a bailes brilhantes!
Talvez vozes que te encantam
– Cantam –
A teus ouvidos amantes!

Talvez seus ligeiros passos
– Paços –
Pisem d’oiro construídos!
Talvez quanto há de perfume
– Fume –
Pra agradar teus sentidos!

Mas ah ! Na cabana agora,
– Ora –
Tua pobre mãe por ti;
E teu pai além divaga,
– Vaga –
Sem saber que andas aqui!

Virgem de loiros cabelos
– Belos, –
Como cadeia de amores,
Onda vás tão triste agora
– Hora –
De tão sinistros horrores?