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Limerique: o que é, características e exemplos

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Saiba o que é limerique (ou limerick) em poesia, conheça suas características e veja exemplos de sua aplicação!

Na poesia inglesa, o limerique é a forma poética mais popular em versos de temática cômica ou satírica.

Seu emprego disseminou-se a partir da segunda metade do século XIX na poesia inglesa, e naturalmente expandiu-se para outros idiomas, chegando também ao nosso português.

A seguir, elucidaremos o que é limerique em poesia, quais são suas características e daremos exemplos de sua aplicação.

Definição de limerique

O limerique é uma composição poética popular monostrófica, que consiste numa quintilha de esquema rímico aabba.

A denominação limerique é derivada do inglês limerick: é nesta língua que essa forma poética originou-se e se popularizou.

De praxe, a temática do limerique é cômica ou satírica, com versos humorísticos ou mordazes, não raro obscenos, que buscam, em suma, expressar algo absurdo ou simplesmente engraçado.

O padrão construtivo tradicional do limerique é acentual, de forma que o primeiro, segundo e quinto versos (rimas a) encerram três acentos, e o terceiro e quarto versos (rimas b) encerram dois acentos.

O ritmo dos versos é geralmente anapéstico ou anfibráquico; em português, este último costuma ser o preferido, resultando em versos maiores octossílabos e versos menores pentassílabos, estes acentuados na segunda e quinta sílaba, aqueles na segunda, quinta e oitava.

É característico do limerique, também, que o último verso opere uma reviravolta no poema, ou ao menos seja um enunciado de caráter decisivo; contudo, em exemplos mais antigos desta forma, é comum encontrarmos um quinto verso que consista simplesmente na repetição do primeiro.

História do limerique

A história do limerique é controversa e há, entre os acadêmicos, muito debate sobre suas origens, que permanecem obscuras.

Roland Greene e Stephen Cushman afirmam que os primeiros exemplos do uso desta forma poética remontam ao século XIII, e que ela esteve presente na tradição oral inglesa.

J. A. Cuddon, em The Penguin Dictionary of Literary Terms and Literary Theory, transcreve estas linhas, que diz datarem de um manuscrito do século XI:

The lion is wondrous strong
And full of the wiles of wo;
And whether he pleye
Or take his preye
He cannot do but slo [i.e. slay].

O que não deixa dúvida é que a popularização do limerique deve-se ao livro A Book of Nonsense, de Edward Lear, publicado em 1846.

Embora o autor não utilizasse o termo limerick para referir aos seus poemas, a associação foi inevitável, posto que por sua influência disseminou-se o emprego desta forma poética.

O termo limerick foi empregado pela primeira vez na Inglaterra na segunda metade do século XIX e há, basicamente, duas teorias a respeito de sua origem.

A primeira delas diz que a denominação é simples referência à cidade ou ao condado de Limerick, na Irlanda.

Há quem sustente, inclusive, que o limerique é originário de uma forma poética francesa antiga, e chegou à cidade de Limerick no século XVIII, trazida da França por veteranos das guerras anglo-francesas.

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A outra teoria mais comum é que o termo limerick surgiu de uma espécie de jogo de salão em que os participantes tinham de improvisar uma composição cujo último verso tinha de ser “Will you come up to Limerick?” (Você virá até Limerick?).

Aplicação do limerique

A índole do limerique é expressar algo absurdo e engraçado em linguagem coloquial.

Daí se derivam as suas aplicações, que abrangem desde ditos espirituosos a sátiras mordazes.

Em português, talvez o emprego mais notável do limerique, ou de algo próximo ao limerique inglês, é o que faz Sounsândrade em O Guesa.

Nesta obra, quintilhas satíricas são utilizadas em muitos trechos, como na “Dança de Tatuturema”, em que o poeta faz uma sátira representando o inferno amazônico.

Em verdade, não são limeriques perfeitos, como manda a tradição inglesa; contudo, a inspiração não parece ter vindo de outro lugar, como se vê nestes versos:

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— Carimbavam as faces
Bocetadas em flor,
Altos seios carnudos,
Pontudos,
Onde há sestas de amor.

Aqui, notamos que o primeiro verso é branco, e os versos maiores estão construídos em ritmo anapéstico, tal como se costuma fazer na poesia inglesa.

Outra aplicação dos limeriques, derivada de seu caráter leve e despretensioso, deu-se em português na poesia infanto-juvenil.

Hoje, muito em razão disso, é comum vermos os limeriques explorados em sala de aula com finalidade educativa.

No exemplo abaixo, de Tatiana Belinky, temos limeriques perfeitamente anfibráquicos, direcionados ao público infantil:

Na vida há muita beleza,
Amigos, amor, natureza,
Há risos, sabores,
Há sons e há cores.
Deixemos pra lá a tristeza!

Aqui, o padrão construtivo do limerique é rigorosamente observado, tanto no que tange ao esquema rímico (aabba), tanto no esquema acentual (2-5-8 nos octossílabos e 2-5 nos pentassílabos).

Exemplos de aplicação do limerique

Abaixo daremos dois exemplos de aplicação do limerique.

Minhocas, de Tatiana Belinky

Neste exemplo, novamente Tatiana Belinky emprega o ritmo anfibráquico num limerique destinado ao público infantil:

Ao ver uma velha coroca
fritando um filé de minhoca
o Zé Minhocão
falou pro irmão:
“Não achas melhor ir pra toca?”

A Book of Nonsense, de Edward Lear

A popularização dos limeriques na língua inglesa deu-se em razão desta obra, embora o próprio autor não se referisse aos seus versos como limeriques.

Abaixo um deles, em tradução portuguesa de Vinícius Alves:

Havia um senhor em Berlim,
Mais magro que o meu dedo mindim,
Até que num dia errado,
À massa ele foi misturado,
Pelas doceiras que faziam quindim.

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Limerique: o que é, características e exemplos. [S.I.] 2024. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/limerique-o-que-e-caracteristicas-exemplos/. Acesso em: 26 out. 2024.