Confira a nossa seleção com os melhores poemas de Cora Coralina!
Cora Coralina é, hoje, uma das poetisas brasileiras mais conhecidas e mais queridas pelo público.
Sua história é interessantíssima, e o que mais parece impressionar é ter ela começado a publicar versos apenas na velhice.
Talvez por isso, a poesia de Cora Coralina parece inteiramente dotada do tom de alguém que, no fim da vida, reflete sobre como viveu e quais lições pôde tirar de suas experiências.
Assim, podemos entender com facilidade um dos segredos do sucesso desta poetisa: a nós, seus leitores, a poesia de Cora Coralina soa-nos como se fossem conselhos de uma querida avó.
Sendo assim, preparamos uma seleção com os 10 melhores poemas de Cora Coralina para que você possa conhecer um pouco mais da obra desta poetisa.
Boa leitura!
Poemas de Cora Coralina
Meu destino
Nas palmas de tuas mãos
leio as linhas da minha vida.
Linhas cruzadas, sinuosas,
interferindo no teu destino.Não te procurei, não me procuraste –
íamos sozinhos por estradas diferentes.
Indiferentes, cruzamos.Passavas com o fardo da vida…
Corri ao teu encontro.
Sorri. Falamos.
Esse dia foi marcado
com a pedra branca
da cabeça de um peixe.E, desde então, caminhamos
juntos pela vida…
Meu destino é um poema que sugere uma reflexão sobre a atuação do destino em nossas vidas.
Este, que é sem dúvida um dos melhores poemas de Cora Coralina, é também um belo cartão de visita de sua obra.
Sentimos, ao percorrer estes versos, imergir-nos nas calmas reflexões de alguém que rememora o passado, lembrando-se de um lance decisivo.
O poema evoca o momento do primeiro encontro entre o eu lírico e o seu ser amado, momento após o qual jamais se separaram.
Os versos destacam o caráter inesperado do encontro entre ambos, reforçando que nenhum dos dois forçou tal encontro, como a dizer-nos que ele simplesmente aconteceu.
Meu destino, pois, convida-nos a refletir sobre o destino e a importância que adquirem em nossas vidas alguns momentos especiais.
- Confira nossa análise completa de Meu destino, de Cora Coralina.
O cântico da terra
Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor.Eu sou a fonte original de toda vida.
Sou o chão que se prende à tua casa.
Sou a telha da coberta de teu lar.
A mina constante de teu poço.
Sou a espiga generosa de teu gado
e certeza tranquila ao teu esforço.
Sou a razão de tua vida.
De mim vieste pela mão do Criador,
e a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim acharás descanso e Paz.Eu sou a grande Mãe Universal.
Tua filha, tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste
e o pão de tua casa.E um dia bem distante
a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio
tranquilo dormirás.Plantemos a roça.
Lavremos a gleba.
Cuidemos do ninho,
do gado e da tulha.
Fartura teremos
e donos de sítio
felizes seremos.
O cântico da terra é um poema que celebra a conexão entre o ser humano e a terra e exalta a importância desta para a vida.
O poema é construído como se fosse a terra a dizer de sua própria importância; ela diz ser a fonte original da vida, e portanto dela derivarem o homem, a mulher, o amor, a árvore, a fonte, o fruto e a flor.
A exposição se estende, e então vamos refletindo sobre quantas coisas realmente dependem da terra, como o nosso alimento, nossa casa, nosso vestuário e nossa própria vida.
Enfim, a terra se autoproclama a Mãe Universal, responsável por sustentar toda a criação divina, e para onde deve retornar o homem, que nela encontra descanso, paz e felicidade.
A Procura
Andei pelos caminhos da Vida.
Caminhei pelas ruas do Destino –
procurando meu signo.
Bati na porta da Fortuna,
mandou dizer que não estava.
Bati na porta da Fama,
falou que não podia atender.
Procurei a casa da Felicidade,
a vizinha da frente me informou
que ela tinha se mudado
sem deixar novo endereço.
Procurei a morada da Fortaleza.
Ela me fez entrar: deu-me veste nova,
perfumou-me os cabelos,
fez-me beber de seu vinho.
Acertei o meu caminho.
A Procura é um poema que sugere uma reflexão sobre o o curso de nossas vidas.
O poema é a expressão de um eu lírico que fortaleceu-se com as adversidades e nelas encontrou força para seguir adiante.
São versos que, em suma, transmitem a mensagem de alguém que “aceitou o seu caminho”, isto é, alguém que se tornou resistente às decepções da vida e tornou-se capaz de aceitá-la como ela é.
A Procura é um poema que parece nos dizer que é preciso ter coragem diante de nossas frustrações e ter perseverança no curso de nossa existência, pois, um dia, poderemos enfim encontrar o nosso “caminho”.
- Confira nossa análise completa de A Procura, de Cora Coralina.
Todas as vidas
Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé do borralho,
olhando para o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço…
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai de santo…Vive dentro de mim
a lavadeira do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d’água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde de são-caetano.Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute benfeito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada, sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.Vive dentro de mim
a mulher roceira.
– Enxerto da terra,
meio casmurra.
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos
Seus vinte netos.Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha…
Fingindo alegre seu triste fado.Todas as vidas dentro de mim:
Na minha vida –
a vida mera das obscuras.
Todas as vidas é um poema muito interessante que nos revela as várias faces da identidade de Cora Coralina.
Embora saibamos que um eu lírico não necessariamente tem de representar o artista detrás de si, aqui claramente temos traços da personalidade da poetisa goiana, retratados como diferentes personalidades dentro de uma pessoa só.
Neste poema, ficamos com uma forte impressão da simplicidade e da difícil vida da poetisa, e impressiona vê-la ressaltando em si mesma a “lavadeira”, a “cozinheira”, a “roceira” e, sobretudo, a “analfabeta”.
É tocante ver como um caminho como esse, de dificuldades, ausência de educação formal e muito trabalho, acabou desembocando na poesia.
Ressalva
Este livro foi escrito
por uma mulher
que no tarde da Vida
recria a poetiza sua própria
Vida.Este livro
foi escrito por uma mulher
que fez a escalada da
Montanha da Vida
removendo pedras
e plantando flores.Este livro:
Versos… Não.
Poesia… Não.
Um modo diferente de contar velhas estórias.
Ressalva é o poema que abre o livro Poemas dos becos de Goiás e estórias mais (1965), o primeiro publicado por Cora Coralina.
Destacamo-lo por nos mostrar, de uma só vez, o estilo e a trajetória da autora que, “no tarde da vida”, começou a fazer versos.
O poema parece-nos bonito sobretudo por explicitar a possibilidade de recriar-nos pela literatura.
Aliás, é isso o que diz fazer o eu lírico, que nos mostra ter encontrado na poesia uma nova motivação para viver, já na velhice.
Nos poucos versos de Ressalva, entramos em contato com a simplicidade e a atmosfera que irá permear toda a obra de Cora Coralina.
Becos de Goiás
Beco da minha terra…
Amo tua paisagem triste, ausente e suja.
Teu ar sombrio. Tua velha umidade andrajosa.
Teu lodo negro, esverdeado, escorregadio.
E a réstia de sol que ao meio-dia desce, fugidia,
e semeia polmes dourados no teu lixo pobre,
calçando de ouro a sandália velha,
jogada no teu monturo.Amo a prantina silenciosa do teu fio de água,
descendo de quintais escusos
sem pressa,
e se sumindo depressa na brecha de um velho cano.
Amo a avenca delicada que renasce
na frincha de teus muros empenados,
e a plantinha desvalida, de caule mole
que se defende, viceja e floresce
no agasalho de tua sombra úmida e calada.Amo esses burros de lenha
que passam pelos becos antigos. Burrinhos dos morros,
secos, lanzudos, mal zelados, cansados, pisados.
Arrochados na sua carga, sabidos, procurando a sombra,
no range-range das cangalhas.E aquele menino, lenheiro ele, salvo seja.
Sem infância, sem idade.
Franzino, maltrapilho,
pequeno para ser homem,
forte para ser criança.
Ser indefeso, indefinido, que só se vê na minha cidade.Amo e canto com ternura
todo o errado da minha terra.Becos da minha terra,
discriminados e humildes,
lembrando passadas eras…Beco do Cisco.
Beco do Cotovelo.
Beco do Antônio Gomes.
Beco das Taquaras.
Beco do Seminário.
Bequinho da Escola.
Beco do Ouro Fino.
Beco da Cachoeira Grande.
Beco da Calabrote.
Beco do Mingu.
Beco da Vila Rica…Conto a estória dos becos,
dos becos da minha terra,
suspeitos… mal-afamados
onde família de conceito não passava.
“Lugar de gentinha” – diziam, virando a cara.
De gente do pote d’água.
De gente de pé no chão.Becos de mulher perdida.
Becos de mulheres da vida.
Renegadas, confinadas
na sombra triste do beco.
Quarto de porta e janela.
Prostituta anemiada,
solitária, hética, engalicada,
tossindo, escarrando sangue
na umidade suja do beco.Becos mal-assombrados.
Becos de assombração…
Altas horas, mortas horas…
Capitão-mor – alma penada,
terror dos soldados, castigado nas armas.
Capitão-mor, alma penada,
num cavalo ferrado,
chispando fogo,
descendo e subindo o beco,
comandando o quadrado – feixe de varas…
Arrastando espada, tinindo esporas…Mulher-dama. Mulheres da vida,
perdidas,
começavam em boas casas, depois,
baixavam pra o beco.
Queriam alegria. Faziam bailaricos.
– Baile Sifilítico – era ele assim chamado.
O delegado-chefe de Polícia – brabeza –
dava em cima…
Mandava sem dó, na peia.
No dia seguinte, coitadas,
cabeça raspada à navalha,
obrigadas a capinar o Largo do Chafariz,
na frente da Cadeia.Becos da minha terra…
Becos de assombração.
Românticos, pecaminosos…
Têm poesia e têm drama.
O drama da mulher da vida, antiga,
humilhada, malsinada.
Meretriz venérea,
desprezada, mesentérica, exangue.
Cabeça raspada à navalha,
castigada a palmatória,
capinando o largo,
chorando. Golfando sangue.(ÚLTIMO ATO)
Um irmão vicentino comparece.
Traz uma entrada grátis do São Pedro de Alcântara.
Uma passagem de terceira no grande coletivo de São Vicente.
Uma estação permanente de repouso – no aprazível
São Miguel.Cai o pano.
Becos de Goiás é um poema em que o eu lírico expressa sua ligação com a própria terra.
O poema é interessante por descrever com minúcia especialmente os aspectos negativos dos “becos” da terra do eu lírico, de forma que este mesmo assim diz amá-los, como se constituíssem uma dimensão de si mesmo.
Vemo-los pintados como a representar toda uma variedade de pessoas humildes, e mesmo serem rejeitados por “famílias de conceito” que se referiam a eles como “lugar de gentinha”.
O que parece fazer o eu lírico, além de evocar-nos a imagem de suas origens, é alertar-nos para uma realidade que muitos procuram ignorar.
Aninha e suas pedras
Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.
Aninha e suas pedras é um dos mais conhecidos poemas de Cora Coralina.
Incluímo-lo nesta lista porque, apesar de pequeno, ele encerra uma mensagem profunda.
Para além da oralidade e do tom intimista, confidente, que estabelece uma relação entre o eu lírico e o leitor, Aninha e suas pedras parece estimular nossa resistência e nosso entusiasmo pela vida.
Além do belo conselho “faz de tua vida mesquinha um poema”, o eu lírico incentiva o leitor a “recriar” sempre a própria vida, a “recomeçar”, algo que, em suma, significa “não perder a motivação”.
Associando o viver à poesia, contudo, o eu lírico dá um passo além, e sugere que a arte perdura depois que morremos, e portanto nos preserva.
Amigo
Vamos conversar
como dois velhos que se encontram
no fim da caminhada.
Foi o mesmo nosso marco de partida.
Palmilhamos juntos a mesma estrada.Eu era moça.
Sentia sem saber
seu cheiro de terra,
seu cheiro de mato,
seu cheiro de pastagens.É que havia dentro de mim,
no fundo obscuro de meu ser
vivências e atavismo ancestrais:
fazendas, latifúndios,
engenhos e currais.Mas… ai de mim!
Era moça da cidade.
Escrevia versos e era sofisticada.
Você teve medo.
O medo que todo homem sente
da mulher letrada.Não pressentiu, não adivinhou
aquela que o esperava
mesmo antes de nascer.Indiferente
tomaste teu caminho
por estrada diferente.
Longo tempo o esperei
na encruzilhada,
depois… depois…
carreguei sozinha
a pedra do meu destino.Hoje, no tarde da vida,
apenas,
uma suave e perdida relembrança.
Amigo é um poema que encerra uma reflexão sobre o tempo e sobre as escolhas que fazemos na vida.
Os versos são escritos por uma narradora e sugerem dor e arrependimento na constatação de uma oportunidade perdida, isto é, a oportunidade de um amor real que poderia ter se concretizado, mas não o fez.
É um poema que, embora em tom sereno, expressa um desalento que tem na “suave e perdida relembrança” a única coisa que restou de um amor que poderia ter marcado uma vida.
Amigo é belo por lembrar-nos que, às vezes, pequenos detalhes podem alterar por completo o curso de nossa existência.
- Confira nossa análise completa de Amigo, de Cora Coralina.
Mulher da Vida
Mulher da Vida,
Minha irmã.De todos os tempos.
De todos os povos.
De todas as latitudes.
Ela vem do fundo imemorial das idades
e carrega a carga pesada
dos mais torpes sinônimos,
apelidos e apodos:
Mulher da zona,
Mulher da rua,
Mulher perdida,
Mulher à toa.Mulher da Vida,
Minha irmã.Pisadas, espezinhadas, ameaçadas.
Desprotegidas e exploradas.
Ignoradas da Lei, da Justiça e do Direito.Necessárias fisiologicamente.
Indestrutíveis.Sobreviventes.
Possuídas e infamadas sempre
por aqueles que um dia
as lançaram na vida.
Marcadas. Contaminadas.
Escorchadas. Discriminadas.Nenhum direito lhes assiste.
Nenhum estatuto ou norma as protege.
Sobrevivem como a erva cativa
dos caminhos,
pisadas, maltratadas e renascidas.Flor sombria, sementeira espinhal
gerada nos viveiros da miséria,
da pobreza e do abandono,
enraizada em todos os quadrantes
da Terra.Um dia, numa cidade longínqua, essa
mulher corria perseguida pelos homens
que a tinham maculado. Aflita, ouvindo
o tropel dos perseguidores e o sibilo
das pedras,
ela encontrou-se com a Justiça.
A Justiça estendeu sua destra poderosa
e lançou o repto milenar:
“Aquele que estiver sem pecado
atire a primeira pedra”.As pedras caíram
e os cobradores deram as costas.O Justo falou então a palavra
de equidade:
“Ninguém te condenou, mulher… nem
eu te condeno”.A Justiça pesou a falta pelo peso
do sacrifício e este excedeu àquela.
Vilipendiada, esmagada.
Possuída e enxovalhada,
ela é a muralha que há milênios
detém as urgências brutais do homem
para que na sociedade
possam coexistir a inocência,
a castidade e a virtude.Na fragilidade de sua carne maculada
esbarra a exigência impiedosa do macho.Sem cobertura de leis
e sem proteção legal,
ela atravessa a vida ultrajada
e imprescindível, pisoteada, explorada,
nem a sociedade a dispensa
nem lhe reconhece direitos
nem lhe dá proteção.
E quem já alcançou o ideal dessa mulher,
que um homem a tome pela mão,
a levante, e diga: minha companheira.Mulher da Vida,
Minha irmã.No fim dos tempos.
No dia da Grande Justiça
do Grande Juiz.
Serás remida e lavada
de toda condenação.E o juiz da Grande Justiça
a vestirá de branco
em novo batismo de purificação.
Limpará as máculas de sua vida
humilhada e sacrificada
para que a Família Humana
possa subsistir sempre,
estrutura sólida e indestrutível
da sociedade,
de todos os povos,
de todos os tempos.Mulher da Vida,
Minha irmã.Declarou-lhes Jesus: Em verdade vos digo que publicanos e
meretrizes vos precedem no Reino de Deus.
(Evangelho de São Mateus 21, 31)
Mulher da Vida é um belo de poema de Cora Coralina que merece menção em nossa lista.
Este poema tem uma abordagem interessante porque vai na contramão do senso comum e combate preconceitos antiquíssimos que, o mais das vezes, representam a boa e velha hipocrisia.
O poema, em resumo, humaniza a prostituta através de um eu lírico que a chama de “minha irmã” e transmite uma mensagem de empatia e compreensão.
Ofertas de Aninha (aos moços)
Eu sou aquela mulher
a quem o tempo
muito ensinou.
Ensinou a amar a vida.
Não desistir da luta.
Recomeçar na derrota.
Renunciar a palavras e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos.
Ser otimista.Creio numa força imanente
que vai ligando a família humana
numa corrente luminosa
de fraternidade universal.
Creio na solidariedade humana.
Creio na superação dos erros
e angústias do presente.Acredito nos moços.
Exalto sua confiança,
generosidade e idealismo.
Creio nos milagres da ciência
e na descoberta de uma profilaxia
futura dos erros e violências do presente.Aprendi que mais vale lutar
do que recolher dinheiro fácil.
Antes acreditar do que duvidar.
Para fechar nossa lista, nada melhor do que um poema que transmite o lado mais positivo e otimista de Cora Coralina.
Ofertas de Aninha (aos moços) é um poema que parece sintetizar o mais importante do aprendizado de uma vida.
Quando pensamos em Aninha (Cora Coralina), já na velhice, a compor estes versos, logo entendemos sua profundidade, pois logo pensamos na vida sofrida e repleta de obstáculos que a poetisa enfrentou e está exposta em poemas anteriores.
Após todo este esforço, o eu lírico revela-nos as lições que aprendeu, que soam como recomendações de como devemos viver nossas vidas: com coragem, perseverança, otimismo e amor.
Sobre Cora Coralina
Cora Coralina (pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas) nasceu na Cidade de Goiás (GO), em 20 de agosto de 1889.
Foi criada às margens do rio Vermelho, e fez os estudos primários na Escola da Mestre Silvina.
Iniciou sua carreira literária aos 14 anos com o conto Tragédia na Roça, publicado no Anuário Histórico e Geográfico do Estado de Goiás.
Aos 15 anos, tornou-se “Cora”, um derivativo de coração, que posteriormente seria acompanhado de Coralina.
Casou-se, teve seis filhos e afastou-se de Goiás por 45 anos, vivendo em São Paulo.
Seu marido faleceu em 1934. Pouco depois, viúva, retornou a Goiás, onde passou a exercer a ocupação de doceira.
Publicou o seu primeiro livro, Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais (1965), apenas aos 76 anos, e em seguida despontou como uma das principais vozes da poesia moderna brasileira.
Em 1970, tomou posse da cadeira número 5 da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás.
Em 1982, mesmo tendo estudado somente até o equivalente ao segundo ano do atual Ensino Fundamental, recebeu o título de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal de Goiás.
No ano seguinte, foi a vencedora do concurso Intelectual do Ano do Troféu Juca Pato, tornando-se a primeira mulher a receber tal honraria.
Em 1984, foi eleita Símbolo da Mulher Trabalhadora Rural pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO).
Faleceu em Goiânia, em 10 de abril de 1985.
Após sua morte, amigos e parentes criaram a Associação Casa de Cora Coralina, uma entidade sem fins lucrativos que mantém o Museu Cora Coralina, que transformou em museu a casa em que Cora Coralina passou seus últimos dias.
Obras de Cora Coralina
- Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais (1965)
- Meu Livro de Cordel (1976)
- Vintém de Cobre: Meias confissões de Aninha (1983)
- Estórias da Casa Velha da Ponte (1985)
- Meninos Verdes (1986)
- Tesouro da Casa Velha (1996)
- A Moeda de Ouro que o Pato Engoliu (1999)
- Vila Boa de Goiás (2001)
- O Prato Azul-Pombinho (2002)
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que você tenha gostado de nossa seleção de poemas de Cora Coralina.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas infantis de Vinícius de Moraes.
Um abraço e até a próxima!