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Poema A Procura, de Cora Coralina (com análise)

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Conheça o poema A Procura, de Cora Coralina, e confira nossa análise!

A Procura é um poema escrito pela poetisa brasileira Cora Coralina, disponível no seu livro intitulado Meu Livro de Cordel (1976).

O poema é uma reflexão a respeito das dificuldades que a vida nos oferece e a necessidade de encontrarmos força para vencê-las.

Dito isso, preparamos esse texto para que você conheça o poema A Procura, de Cora Coralina. Em seguida, você poderá conferir nossa análise.

Boa leitura!

A Procura, de Cora Coralina

Andei pelos caminhos da Vida.
Caminhei pelas ruas do Destino –
procurando meu signo.
Bati na porta da Fortuna,
mandou dizer que não estava.
Bati na porta da Fama,
falou que não podia atender.
Procurei a casa da Felicidade,
a vizinha da frente me informou
que ela tinha se mudado
sem deixar novo endereço.
Procurei a morada da Fortaleza.
Ela me fez entrar: deu-me veste nova,
perfumou-me os cabelos,
fez-me beber de seu vinho.
Acertei o meu caminho.

Análise do poema

  • Tipo de verso: livre
  • Número de estrofes: 1 estrofe
  • Número de versos: 16 versos

A Procura é um poema construído em versos livres, portanto, é um poema que não utiliza nem metrificação, nem rima.

O poema é escrito em linguagem simples e leve, como se o eu lírico relembrasse o passado e calmamente nos contasse sua trajetória.

Estrutura do poema

A Procura possui 16 versos dispostos em uma única estrofe.

O poema é construído em versos livres, não utiliza rimas e não segue nenhum padrão métrico ou rítmico.

A maneira em que o poema está disposto, aliada à linguagem informal em que é construído, sugerem uma leitura leve e despretensiosa.

Sentido do poema

A Procura sugere uma reflexão sobre o o curso de nossas vidas.

O poema faz parte da obra Meus Livro de Cordel (1976) e, conforme indicado pelo título, possui algumas características marcantes da literatura de cordel, a saber: a oralidade e a linguagem informal.

O poema está escrito de maneira a expressar uma meditação do eu lírico a respeito da própria trajetória.

Assim são os primeiros versos:

Andei pelos caminhos da Vida.
Caminhei pelas ruas do Destino –
procurando meu signo.

Com estes versos, quer o eu lírico dizer que percorreu diferentes “caminhos” em busca de um sentido para a sua vida, ou seja, que procurou entre diversas possibilidades aquela que lhe seria mais adequada, aquela que seria mais condizente com a sua própria individualidade.

Tais versos sugerem, também, que experimentou o eu lírico uma fase de indecisão, uma fase em que não sabia realmente quem era ou qual rumo deveria seguir em sua vida.

Bati na porta da Fortuna,
mandou dizer que não estava.
Bati na porta da Fama,
falou que não podia atender.
Procurei a casa da Felicidade,
a vizinha da frente me informou
que ela tinha se mudado
sem deixar novo endereço.

Estes versos indicam que, durante algum tempo, o eu lírico teve de enfrentar dificuldades e fracassos.

A personificação dos substantivos abstratos fortuna, fama e felicidade, isto é, a representação deles como se fossem pessoas e possuíssem casas, serve para ilustrar visualmente uma suposta ação de indiferença ou recusa da parte deles para com o eu lírico.

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“Bati na porta da Fortuna”, “bati na porta da Fama”, “procurei a casa da Felicidade” são metáforas que sugerem o eu lírico ter buscado por fortuna, fama e felicidade, ou talvez ter ansiado por elas.

Em todas estas situações, teve ele o intento frustrado, o que nos indica adversidades, obstáculos e dissabores.

Finalmente, são estes os versos que encerram o poema:

Procurei a morada da Fortaleza.
Ela me fez entrar: deu-me veste nova,
perfumou-me os cabelos,
fez-me beber de seu vinho.
Acertei o meu caminho.

Com Fortaleza, quer o eu lírico dizer que fortaleceu-se com as adversidades e encontrou força para seguir adiante, e que aprendeu a aceitar as decepções e tornou-se resistente a elas.

Assim, A Procura transmite-nos uma mensagem de que é preciso ter coragem diante de nossas frustrações e ter perseverança no curso de nossas vidas, pois, um dia, poderemos enfim realizar-nos e encontrar o nosso “caminho”.

Sobre Cora Coralina

Cora Coralina (pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas) nasceu na Cidade de Goiás (GO), em 20 de agosto de 1889.

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Foi criada às margens do rio Vermelho, e fez os estudos primários na Escola da Mestre Silvina.

Iniciou sua carreira literária aos 14 anos com o conto Tragédia na Roça, publicado no Anuário Histórico e Geográfico do Estado de Goiás.

Aos 15 anos, tornou-se “Cora”, um derivativo de coração, que posteriormente seria acompanhado de Coralina.

Casou-se, teve seis filhos e afastou-se de Goiás por 45 anos, vivendo em São Paulo.

Seu marido faleceu em 1934. Pouco depois, viúva, retornou a Goiás, onde passou a exercer a ocupação de doceira.

Publicou o seu primeiro livro, Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais (1965), apenas aos 76 anos, e em seguida despontou como uma das principais vozes da poesia moderna brasileira.

Em 1970, tomou posse da cadeira número 5 da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás.

Em 1982, mesmo tendo estudado somente até o equivalente ao segundo ano do atual Ensino Fundamental, recebeu o título de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal de Goiás.

No ano seguinte, foi a vencedora do concurso Intelectual do Ano do Troféu Juca Pato, tornando-se a primeira mulher a receber tal honraria.

Em 1984, foi eleita Símbolo da Mulher Trabalhadora Rural pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO).

Faleceu em Goiânia, em 10 de abril de 1985.

Após sua morte, amigos e parentes criaram a Associação Casa de Cora Coralina, uma entidade sem fins lucrativos que mantém o Museu Cora Coralina, que transformou em museu a casa em que Cora Coralina passou seus últimos dias.

Obras de Cora Coralina

  • Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais (1965)
  • Meu Livro de Cordel (1976)
  • Vintém de Cobre: Meias confissões de Aninha (1983)
  • Estórias da Casa Velha da Ponte (1985)
  • Meninos Verdes (1986)
  • Tesouro da Casa Velha (1996)
  • A Moeda de Ouro que o Pato Engoliu (1999)
  • Vila Boa de Goiás (2001)
  • O Prato Azul-Pombinho (2002)

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema A procura, de Cora Coralina.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de conferir o que escrevemos sobre Psicologia de um vencido, de Augusto dos Anjos.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Poema A Procura, de Cora Coralina (com análise). [S.I.] 2023. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poema-a-procura-cora-coralina-analise-poesia/. Acesso em: 14 mai. 2024.