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Verso livre: o que é, características e exemplos

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Saiba o que é verso livre em poesia, conheça suas características e veja exemplos de sua aplicação!

O verso livre é provavelmente o tipo de verso mais cultivado em português desde o século passado.

Isso se deu, principalmente, em razão do movimento literário chamado Modernismo que, embora não tenha inventado este tipo de verso, empregou-o e expandiu sua utilização de maneira sem precedentes.

A seguir, elucidaremos o que é verso livre em poesia, quais são suas características e daremos exemplos de sua aplicação.

Definição de verso livre

Verso livre é o nome dado ao verso que não utiliza um padrão métrico regular.

Este tipo de verso, também chamado verso irregular, pode ou não utilizar rimas e caracteriza-se mais por qualidades negativas que positivas, sendo difícil enquadrá-lo num padrão formal.

Em suma, os versos livres possuem duas características principais:

  1. Organizam o discurso em versos, o que os diferencia da prosa.
  2. Dispensam a metrificação a apresentam-se em extensão variada, o que os diferencia dos versos brancos.

É difícil traçar a origem do verso livre e, embora tenhamos exemplos como a Bíblia do Rei Jaime e, muito antes, a Epopeia de Gilgamés construídas neste tipo de verso, é a partir do século XIX que temos sua aplicação sistemática na literatura europeia, numa declarada rebelião contra a prática ortodoxa e numa busca por novas possibilidades expressivas.

Por essa razão, é frequentemente atribuída a Walt Whitman, chamado por muitos de “pai do verso livre”, a introdução deste verso na poesia moderna.

Ainda no século XIX, o verso livre popularizou-se muito rapidamente na França e, de Paris, o maior centro cultural de então, o verso livre expandiu-se para outras terras, de forma que sua utilização passou a ser a principal característica a marcar um poeta como “moderno”.

Na poesia portuguesa, os mais conhecidos praticantes do verso livre são Fernando Pessoa, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade.

Aplicação do verso livre

As possibilidades do verso livre são praticamente ilimitadas e inúmeros recursos expressivos já foram explorados neste tipo de composição.

Embora se possa dizer que o verso livre não se conforme a aspectos formais fixos, exceto o fato de não utilizar metrificação e organizar o discurso em versos, isso de forma alguma quer dizer que se trate de um verso sem técnica.

Entre as variadíssimas possibilidades deste verso, é comum encontrarmos a utilização do paralelismo, do encadeamento, da aliteração, da assonância, da disposição visual criativa dos versos, da supressão da pontuação, entre muitas outras técnicas.

Em suma, é um tipo de verso que objetiva não limitar a criatividade do autor e busca encorajá-lo à experimentação.

Exemplos de aplicação do verso livre

Abaixo daremos alguns exemplos de aplicação do verso livre em português.

Trem de ferro, de Manuel Bandeira

Café com pão
Café com pão
Café com pão

Virge Maria que foi isto maquinista?

Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força

Oô…
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!

Oô…
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô…
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matá minha sede
Oô…
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô…

Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente…

Ritmo, de Mário Quintana

Na porta
a varredeira varre o cisco
varre o cisco
varre o cisco

Na pia
a menininha escova os dentes
escova os dentes
escova os dentes

No arroio
a lavadeira bate roupa
bate roupa
bate roupa

Até que enfim
‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ se desenrola
‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ toda a corda
e o mundo gira imóvel como um pião!

Não tenho pressa. Pressa de quê?, de Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)

Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra.
Não; não sei ter pressa.
Se estendo o braço, chego exatamente aonde o meu braço chega —
Nem um centímetro mais longe.
Toco só onde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E vivemos vadios da nossa realidade.
E estamos sempre fora dela porque estamos aqui.

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Verso livre: o que é, características e exemplos. [S.I.] 2024. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/verso-livre-caracteristicas-exemplos/. Acesso em: 30 abr. 2024.