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Poema Meu destino, de Cora Coralina (com análise)

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Conheça o poema Meu destino, de Cora Coralina, e confira nossa análise!

Meu destino é um poema escrito pela poetisa brasileira Cora Coralina, disponível no seu livro intitulado Meu Livro de Cordel (1976).

O poema sumariamente aborda o destino, e como ele foi determinante para que dois caminhos se cruzassem, para não mais se separarem.

Dito isso, preparamos esse texto para que você conheça o poema Meu destino, de Cora Coralina. Em seguida, você poderá conferir nossa análise.

Boa leitura!

Meu destino, de Cora Coralina

Nas palmas de tuas mãos
leio as linhas da minha vida.
Linhas cruzadas, sinuosas,
interferindo no teu destino.

Não te procurei, não me procuraste –
íamos sozinhos por estradas diferentes.
Indiferentes, cruzamos.

Passavas com o fardo da vida…
Corri ao teu encontro.
Sorri. Falamos.
Esse dia foi marcado
com a pedra branca
da cabeça de um peixe.

E, desde então, caminhamos
juntos pela vida…

Análise do poema

  • Tipo de verso: livre
  • Número e tipo de estrofes: 4 estrofes irregulares
  • Número de versos: 15 versos

Meu destino é um poema construído em versos livres, portanto, é um poema que não utiliza nem metrificação, nem rima.

O poema é escrito em linguagem simples e leve, como num tom de calma reflexão.

Estrutura do poema

Meu destino possui 15 versos dispostos em quatro estrofes irregulares.

O poema é construído em versos livres, não utiliza rimas e não segue nenhum padrão métrico ou rítmico.

A maneira em que o poema está disposto, aliada à linguagem em que é construído, sugerem uma leitura leve e despretensiosa.

Sentido do poema

Meu destino é um poema que sugere uma reflexão sobre a atuação do destino em nossas vidas.

Naturalmente, já pelo título podemos imaginar um eu lírico a refletir sobre algo determinante em sua trajetória.

Assim começa o poema:

Nas palmas de tuas mãos
leio as linhas da minha vida.
Linhas cruzadas, sinuosas,
interferindo no teu destino.

Vemos, pois, que o eu lírico associa a outra pessoa o seu próprio destino.

Quando, nos primeiros dois versos, ele faz a referência às palmas das mãos, ele está aludindo à quiromancia, que é uma técnica divinatória que acredita que, pelas linhas de uma mão, é possível predizer o futuro de alguém.

Ocorre, porém, que diferente da quiromancia tradicional, onde as linhas de uma mão se referem ao futuro da pessoa em questão, o eu lírico diz que é sua própria vida que está escrita nas mãos do outro.

Com esta metáfora, quer ele nos sugerir que eram ambos predestinados um ao outro e que o destino de ambos estava entrelaçado.

Não te procurei, não me procuraste –
íamos sozinhos por estradas diferentes.
Indiferentes, cruzamos.

Nesta estrofe, percebemos reforçado o mesmo caráter de predestinação já explicitado na estrofe anterior: nenhum dos dois “procurou” o outro, ambos trilhavam caminhos separados e, “indiferentes”, encontraram-se.

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Tal nos sugere um encontro simultaneamente inesperado e surpreendente.

Passavas com o fardo da vida…
Corri ao teu encontro.
Sorri. Falamos.
Esse dia foi marcado
com a pedra branca
da cabeça de um peixe.

Nesta estrofe, notamos uma mudança na atitude do eu lírico: enquanto o outro “passava com o fardo da vida”, isto é, provavelmente passava por um momento de dificuldade, o eu lírico toma a iniciativa e “corre-lhe ao encontro”.

Aqui, dá-se o contato decisivo: “Sorri. Falamos.”

A partir deste momento, a trajetória de ambos estaria entrelaçada, o que nos sugerem os versos que dizem que “esse dia foi marcado com a pedra branca da cabeça de um peixe”.

Essa alusão é suscetível a diferentes interpretações, e pode parecer enigmática àqueles que não conhecem seu sentido na cultura popular.

A princípio, podemos dizer que o peixe referido trata-se de uma corvina, que não é exatamente uma espécie, mas uma nomenclatura aplicada a diferentes espécies de peixes muito comuns nas Américas, e que apresenta uma “pedra branca” na cabeça.

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Esta pedra, chamada otólito, é uma pequena estrutura formada de carbonato de cálcio que nos fornece informações como o crescimento, longevidade e até o ambiente em que o peixe viveu: é, portanto, uma pedra fundamental que, posicionada na cabeça do peixe, parece constituir-lhe a essência.

Na cultura popular, porém, ela simboliza o amor, a paz, e acredita-se que tenha poderes curativos. Diz-se, inclusive, que ela era utilizada como amuleto por franceses no século XVI.

Destas acepções, podemos imaginar o que quis o eu lírico sugerir com essa metáfora.

Finalmente, assim o poema é encerrado:

E, desde então, caminhamos
juntos pela vida…

Percebemos, assim, que o poema evocou um momento marcante, o momento do primeiro encontro entre o eu lírico e o seu ser querido, após o qual a vida de ambos jamais se separou.

Nenhum dos dois forçou tal encontro: ele, determinante como foi, simplesmente aconteceu.

Meu destino, portanto, é um poema que reflete sobre o destino e a importância que adquirem em nossas vidas alguns momentos especiais.

Sobre Cora Coralina

Cora Coralina (pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas) nasceu na Cidade de Goiás (GO), em 20 de agosto de 1889.

Foi criada às margens do rio Vermelho, e fez os estudos primários na Escola da Mestre Silvina.

Iniciou sua carreira literária aos 14 anos com o conto Tragédia na Roça, publicado no Anuário Histórico e Geográfico do Estado de Goiás.

Aos 15 anos, tornou-se “Cora”, um derivativo de coração, que posteriormente seria acompanhado de Coralina.

Casou-se, teve seis filhos e afastou-se de Goiás por 45 anos, vivendo em São Paulo.

Seu marido faleceu em 1934. Pouco depois, viúva, retornou a Goiás, onde passou a exercer a ocupação de doceira.

Publicou o seu primeiro livro, Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais (1965), apenas aos 76 anos, e em seguida despontou como uma das principais vozes da poesia moderna brasileira.

Em 1970, tomou posse da cadeira número 5 da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás.

Em 1982, mesmo tendo estudado somente até o equivalente ao segundo ano do atual Ensino Fundamental, recebeu o título de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal de Goiás.

No ano seguinte, foi a vencedora do concurso Intelectual do Ano do Troféu Juca Pato, tornando-se a primeira mulher a receber tal honraria.

Em 1984, foi eleita Símbolo da Mulher Trabalhadora Rural pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO).

Faleceu em Goiânia, em 10 de abril de 1985.

Após sua morte, amigos e parentes criaram a Associação Casa de Cora Coralina, uma entidade sem fins lucrativos que mantém o Museu Cora Coralina, que transformou em museu a casa em que Cora Coralina passou seus últimos dias.

Obras de Cora Coralina

  • Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais (1965)
  • Meu Livro de Cordel (1976)
  • Vintém de Cobre: Meias confissões de Aninha (1983)
  • Estórias da Casa Velha da Ponte (1985)
  • Meninos Verdes (1986)
  • Tesouro da Casa Velha (1996)
  • A Moeda de Ouro que o Pato Engoliu (1999)
  • Vila Boa de Goiás (2001)
  • O Prato Azul-Pombinho (2002)

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema Meu destino, de Cora Coralina.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de conferir o que escrevemos sobre Aos afetos, e lágrimas derramadas na ausência da dama a quem queria bem, de Gregório de Matos.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Poema Meu destino, de Cora Coralina (com análise). [S.I.] 2023. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poema-meu-destino-cora-coralina-poesia/. Acesso em: 14 mai. 2024.