Saiba o que é monossílabo em poesia, conheça suas características e veja exemplos de sua aplicação!
O monossílabo é um tipo de verso pouco frequente na língua portuguesa, usado majoritariamente como metro secundário em versos cuja predominância cabe a outros metros.
Contudo, além da aplicação como metro secundário, encontramos em língua portuguesa alguns exemplos de poemas construídos inteiramente em monossílabos.
A seguir, elucidaremos o que é monossílabo na poesia, quais são suas características e daremos exemplos de sua aplicação.
Definição de monossílabo
Em poesia, monossílabo é o nome que se dá ao verso que possui uma sílaba poética, segundo a contagem silábica praticada em português.
Nesta contagem, também chamada contagem francesa ou contagem de Castilho, considera-se para efeito de definição do metro o número de sílabas poéticas do verso até sua última sílaba tônica.
Desta forma, o monossílabo pode possuir uma, duas ou três sílabas poéticas reais, a depender se sua sílaba tônica recai em palavra aguda, grave ou esdrúxula, respectivamente.
Quanto à acentuação, o verso monossílabo possui, sempre, apenas uma sílaba forte.
Características do verso monossílabo
O verso monossílabo é pouquíssimo empregado isoladamente, e vários autores nem o consideram metro autônomo.
Olavo Bilac e Guimarães Passos, por exemplo, não o mencionam em seus tratados. Manuel Said Ali diz o seguinte, em Versificação portuguesa:
Linhas excessivamente curtas, de uma, duas sílabas, quer dizer, monossílabo ou dissílabo sem acentuação final, aparecem às vezes com o valor de eco, refrão, etc. no fim e no meio de outras mais longas constitutivas da estrofe. Tais elementos secundários são imprestáveis para, por si sós, formar poemas.
Disso percebemos que a aplicação do monossílabo é geralmente limitada a estrofes heterométricas e, quando em estrofes isométricas, não vai além de uns poucos versos, sob o risco de entediar.
Exemplos de verso monossílabo
Abaixo veremos alguns exemplos de aplicação do verso monossílabo em estrofes heterométricas e isométricas.
Em negrito, destacamos a sílaba tônica dos versos monossílabos.
Verso monossílabo em estrofes heterométricas
A sonâmbula, de Fagundes Varela
Neste poema, os monossílabos são utilizados com o efeito estilístico de eco entremeando versos heptassílabos.
Abaixo, o poema na íntegra:
Virgem de loiros cabelos
– Belos, –
Como cadeia de amores,
Onda vás tão triste agora
– Hora –
De tão sinistros horrores?Sob nuvem lutulenta
— Lenta, —
Se esconde a pálida lua;
Na sombra os gênios combatem;
— Batem —
Os ventos a rocha nuaNoite medonha e funesta
– Esta –
Fundos mistérios encerra!
Não corras, olha, repara,
– Para, –
Escuta as vozes da serra!…Dos furacões nas lufadas,
– Fadas –
Traidoras passam nos ares!
Cruentos monstros e espiam!
– Piam –
As corujas nos palmares!Bela doida, se soubesses
– Esses –
Esses gritos o que dizem,
Ah ! por certo que ouviras,
– Viras –
Que tredas coisas predizem!Mas, infeliz, continuas!
– Nuas –
As tuas espáduas são!
E sob teus pés mofinos,
– Finos, –
Prendem-se às urzes do chão!O orvalho teu rosto molha;
– Olha –
Como branca e fria estás!
Virgem de loiros cabelos,
– Belos –
Por Deus! conta-me onde vás!Nestes ervaçais sem termos,
– Ermos –
Ninguém pode te acudir…
Toma sentido, sossega,
– Cega! –
Vê, são horas de dormir!Teus olhos giram incertos;
– Certos –
Contudo teus passos vão!
Teu ser que a ilusão persegue
– Segue –
O impulso de oculta mão!Ai! dormes! Talvez risonho
– Sonho –
Te chame a bailes brilhantes!
Talvez vozes que te encantam
– Cantam –
A teus ouvidos amantes!Talvez eus ligeiros passos
– Paços –
Pisem d’oiro construídos!
Talvez quanto há de perfume
– Fume –
Pra agradar teus sentidos!Mas ah! Na cabana agora,
– Ora –
Tua pobre mãe por ti;
E teu pai além divaga,
– Vaga –
Sem saber que andas aqui!Virgem de loiros cabelos
– Belos, –
Como cadeia de amores,
Onda vás tão triste agora
– Hora –
De tão sinistros horrores?
Na tarde morta, de Eduardo Guimarães
Neste poema, os monossílabos são inseridos em meio a dissílabos:
Na tarde,
morta
que sino
chora?Não chora,
canta,
repica,
tine…
Danças, de Mário de Andrade
Neste poema, construído em versos livres, há algumas sequências de monossílabos:
quebra
queima
reina
dança
sangue
gosma…
Teus lábios dançam:
— Por piedade!
Não é domingo nem dia-santo!
Filha, tu danças para dormir!(Mário de Andrade)
Verso monossílabo em estrofe isométrica
Serenata sintética, de Cassiano Ricardo
Este poema é um dos raros exemplos do emprego de monossílabos isoladamente em português.
Como se pode perceber, é um poema curtíssimo, que disponibilizamos na íntegra abaixo:
Lua
morta.
Rua
torta.
Tua
porta.