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Sextilha: o que é, características e exemplos

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Saiba o que é sextilha em poesia, conheça suas características e veja exemplos de sua aplicação!

A sextilha é um tipo estrófico antigo na poesia portuguesa, e passou por notável evolução.

Encontramo-la geralmente rimada e dificilmente aliada a outros tipos estróficos; é comum vê-la tanto contendo versos de mesma extensão, quanto combinando metros diferentes.

A seguir, elucidaremos o que é sextilha em poesia, quais são suas características e daremos exemplos de sua aplicação.

Definição de sextilha

Em poesia, sextilha (ou sexteto) é o nome que se dá à estrofe composta de seis versos.

Geir Campos destaca, em seu Pequeno dicionário de arte poética, que o termo sextilha aplica-se especialmente a versos de arte menor, isto é, versos que, segundo a nossa contagem, possuem sete ou menos sílabas poéticas.

As sextilhas geralmente apresentam-se rimadas, combinando uma, duas ou três rimas diferentes, sendo a primeira a forma usual das cantigas populares antigas.

A maioria das vezes, encontramos sextilhas ou isométricas, ou a combinar dois metros diferentes, sendo eles um metro principal e um quebrado.

Aplicação da sextilha

As cantigas populares antigas constituem aquilo que temos como os primeiros registros de aplicação sistemática da sextilha em português.

Essas cantigas apresentavam apenas uma rima posicionada nos versos pares da estrofe, isto é, no 2º, 4º e 6º versos, segundo o esquema rímico abcbdb, tal como neste exemplo do repentista paraibano Francisco Pequeno:

Uma morrinha no gado
É derrota em fazendeiro,
E o cavalo que não presta
É derrota do vaqueiro;
A derrota de um país
É dever no estrangeiro!

Era também característico destas sextilhas a utilização de rimas pobres, que contribuíam para a uma evidente monotonia, algumas vezes condenada por estudiosos da poesia portuguesa.

Daí o contraste entre a prática antiga e moderna: nesta, a sextilha adota formas rímicas mais variadas e pode, também, combinar metros diferentes, o que lhe confere dinamismo muito maior.

Alguns exemplos de Casimiro de Abreu evidenciarão o que está dito.

Primeiramente, uma sextilha isométrica de esquema rímico aabccb (muito cultivado pelos românticos):

Quando tu passas n’aldeia
Diz o povo a boca cheia:
Mulher mais linda não há!
Ai, vejam como é bonita,
Coas tranças presas na fita,
Coas flores no samburá!

Agora, o mesmo esquema rímico aplicado a uma estrofe heterométrica que combina decassílabos e hexassílabos:

À roda da bandeira sacrossanta
Um povo esperançoso se levanta
Infante e a sorrir.
A nação do letargo se desperta,
E, livre marcha pela estrada aberta
Às glórias do porvir.

Encontramos outros metros e combinações rímicas nas sextilhas portuguesas, variando, também, o posicionamento dos versos quebrados nas sextilhas heterométricas.

Exemplos de aplicação da sextilha

Abaixo daremos alguns exemplos de aplicação da sextilha em português.

Tenho tanto sentimento, de Fernando Pessoa

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

Este inferno de amar, de Almeida Garrett

Este inferno de amar — como eu amo! —
Quem mo pôs aqui n’alma… quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida — e que a vida destrói —
Como é que se veio a atear,
Quando — ai quando se há-de ela apagar?

Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez… — foi um sonho —
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar…
Quem me veio, ai de mim! despertar?

Só me lembra que um dia formoso
Eu passei… dava o sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? — Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei…

Canção do exílio, de Gonçalves Dias

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Sextilha: o que é, características e exemplos. [S.I.] 2024. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/sextilha-sexteto-caracteristicas-exemplos/. Acesso em: 2 mai. 2024.