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Verso dissílabo: o que é, características e exemplos

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Saiba o que é dissílabo em poesia, conheça suas características e veja exemplos de sua aplicação!

O dissílabo, assim como o monossílabo, é um tipo de verso pouco utilizado na língua portuguesa, e o encontramos majoritariamente como metro secundário em versos cuja predominância cabe a outros metros.

Contudo, comparado ao monossílabo, sua aplicação é mais frequente, tanto isoladamente, quanto acompanhado de versos de maior extensão.

A seguir, elucidaremos o que é dissílabo na poesia, quais são suas características e daremos exemplos de sua aplicação.

Definição de dissílabo

Em poesia, dissílabo é o nome que se dá ao verso que possui duas sílabas poéticas, segundo a contagem silábica praticada em português.

Nesta contagem, também chamada contagem francesa ou contagem de Castilho, considera-se para efeito de definição do metro o número de sílabas poéticas do verso até sua última sílaba tônica.

Desta forma, o dissílabo pode possuir duas, três ou quatro sílabas poéticas reais, a depender se sua sílaba tônica recai em palavra aguda, grave ou esdrúxula, respectivamente.

Quanto à acentuação, o verso dissílabo possui, de praxe, apenas uma sílaba forte.

Características do verso dissílabo

Comparado ao monossílabo, o dissílabo apresenta possibilidades de realização mais abundantes, e por isso o encontramos mais frequentemente, seja em composições heterométricas, seja em isométricas.

Também é de se notar que, neste metro, encontram-se composições mais longas; embora, comparado a metros maiores, suas possibilidades sejam ainda limitadas.

No verso dissílabo, a primeira sílaba é de praxe fraca, quer por natureza, quer por posição.

Exemplos de verso dissílabo

Abaixo veremos alguns exemplos de aplicação do verso dissílabo em estrofes heterométricas e isométricas.

Em negrito, destacamos a sílaba tônica dos versos dissílabos.

Verso dissílabo em estrofes heterométricas

Metamorfose, de Cecília Meireles

Neste poema, Cecília Meireles criativamente mescla dissílabos a tetrassílabos, utilizando aqueles para fechar tercetos iniciados por estes:

Súbito pássaro
dentro dos muros
caído,

pálido barco
na onda serena
chegado.

Noite sem braços!
Cálido sangue
corrido.

E imensamente
o navegante
mudado.

Seus olhos densos
apenas sabem
ter sido.

Seu lábio leva
um outro nome
mandado.

Súbito pássaro
por altas nuvens
bebido.

Pálido barco
nas flores quietas
quebrado.

Nunca, jamais
e para sempre
perdido

o eco do corpo
no próprio vento
pregado.

Capricho, de Castro Alves

Este poema é composto de seis sétimas que mesclam dissílabos a alguns outros metros, com interessante efeito:

Ai! quando
Brando
Vai o vento
Lento
À lua
Nua
Perpassar sutil;

E a estrela
Vela,
E sobr’a linfa
A ninfa
Suspira
Mira
O divinal perfil;

Num leito
Feito
De cheirosas
Rosas,
Risonhos
Sonhos
Sonharemos nós;

Revoltos,
Soltos
Os cabelos
Belos,
Vivace
A face,
Tremulante a voz

Cantos
E prantos
Que suspira
A lira,
A alfombra,
À sombra,
Encontrarei pra ti;

Celuta,
Escuta
De meu seio
O enleio…
Vem, linda,
Ainda
Há solidões aqui.

Verso dissílabo em estrofes isométricas

A valsa, de Casimiro de Abreu

Sem sombra de dúvida, este poema é o exemplo mais emblemático da aplicação do dissílabo em português.

Nestes versos, destacamos também a habilidosa utilização das palavras agudas com efeito de pausa no discurso.

Tu, ontem,
Na dança
Que cansa,
Voavas
Co’as faces
Em rosas
Formosas
De vivo,
Lascivo
Carmim;
Na valsa
Tão falsa,
Corrias,
Fugias,
Ardente,
Contente,
Tranquila,
Serena,
Sem pena
De mim!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!…
– Não negues,
Não mintas…
– Eu vi!…

Valsavas:
– Teus belos
Cabelos,
soltos,
Revoltos,
Saltavam,
Voavam,
Brincavam
No colo
Que é meu;
E os olhos
Escuros
Tão puros,
Os olhos
Perjuros
Volvias,
Tremias,
Sorrias,
P’ra outro
Não eu!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!…
– Não negues,
Não mintas…
– Eu vi!…

Meu Deus!
Eras bela
Donzela,
Valsando,
Sorrindo,
Fugindo,
Qual silfo
Risonho
Que em sonho
Nos vem!
Mas esse
Sorriso
Tão liso
Que tinhas
Nos bios
De rosa,
Formosa,
Tu davas,
Mandavas
A quem?!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!…
– Não negues,
Não mintas…
– Eu vi!…

Calado,
Sozinho,
Mesquinho,
Em zelos
Ardendo,
Eu vi-te
Correndo
Tão falsa
Na valsa
Veloz!
Eu triste
Vi tudo!
Mas mudo
Não tive
Nas galas
Das salas,
Nem falas,
Nem cantos,
Nem prantos,
Nem voz!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!…
– Não negues
Não mintas…
– Eu vi!

Na valsa
Cansaste;
Ficaste
Prostrada,
Turbada!
Pensavas,
Cismavas,
E estavas
Tão lida
Então;
Qual lida
Rosa
Mimosa
No vale
Do vento
Cruento
Batida,
Caída
Sem vida.
No chão!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!…
– Não negues
Não mintas…
– Eu vi!

Obs.: Neste poema, há duas ocorrências interessantes, em que um verso monossílabo e um verso trissílabo são contados como dissílabos, em razão de, no primeiro caso, o verso ter de considerar como sua a última sílaba do verso precedente e, no segundo, o verso ter de ser considerado com uma sílaba a menos, pertencendo sua primeira sílaba ao verso anterior.

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O primeiro caso está na seguinte sequência:

Qual pálida
Rosa

Sobre ela, Péricles Eugênio da Silva Ramos, no ensaio Sistemas de contagem dos versos, diz o seguinte:

(…) a última sílaba de “pálida” pertence na realidade ao verso seguinte “Rosa”, que tem uma sílaba a menos, como era de necessidade, sem o que se quebraria o ritmo uniforme do poema.

Pelo mesmo motivo, o inverso ocorre na seguinte sequência:

Meu Deus!
Eras bela

A primeira sílaba de “eras” pertence, na prática, ao verso anterior.

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Verso dissílabo: o que é, características e exemplos. [S.I.] 2023. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/verso-dissilabo-caracteristicas-exemplos/. Acesso em: 29 out. 2024.