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Verso hendecassílabo: o que é, tipos, características e exemplos

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Saiba o que é hendecassílabo em poesia, conheça suas características e veja exemplos de sua aplicação!

O hendecassílabo é um tipo de verso que, embora não tenha sido tão explorado como o decassílabo ou o dodecassílabo, possui composições belíssimas em português.

Poetas como Gonçalves Dias e Casimiro de Abreu, citando apenas dois exemplos, cultivaram este metro e deixaram-nos composições, para dizer como Manuel Said Ali, “lindas e inesquecíveis”.

A seguir, elucidaremos o que é hendecassílabo na poesia, quais são suas características e daremos exemplos de sua aplicação.

Definição de hendecassílabo

Em poesia, hendecassílabo é o nome que se dá ao verso que possui onze sílabas poéticas, segundo a contagem silábica praticada em português.

Nesta contagem, também chamada contagem francesa ou contagem de Castilho, considera-se para efeito de definição do metro o número de sílabas poéticas do verso até sua última sílaba tônica.

Desta forma, o hendecassílabo pode possuir onze, doze ou treze sílabas poéticas reais, a depender se sua última sílaba tônica recai em palavra aguda, grave ou esdrúxula, respectivamente.

Este verso é também chamado arte maior, por influência espanhola, embora o termo “arte maior” seja às vezes aplicado mais genericamente, para se referir aos versos que possuem a partir de oito sílabas poéticas.

Quanto à acentuação, o verso hendecassílabo possui, normalmente, quatro ou seis sílabas fortes.

Características do verso hendecassílabo

O verso hendecassílabo, por sua extensão, permite uma vasta gama de possibilidades de realização.

Contudo, o mais das vezes vemo-lo aplicado como uma junção de dois pentassílabos de idêntico esquema acentual, o que resulta, como percebemos, num ritmo uniforme.

Tal disposição permite que o hendecassílabo seja utilizado, além de isoladamente, em estrofes heterométricas associado ao pentassílabo, o que frequentemente ocorre.

Portanto, o hendecassílabo é um metro geralmente utilizado em composições de cadência estrófica, ou silábico-acentual.

Cabe ressaltar que, apesar deste uso mais comum, também encontramos composições que utilizam o hendecassílabo com paridade apenas silábica, como é comum em outros metros, variando o ritmo de verso para verso.

Tipos de hendecassílabo

O hendecassílabo possui, em português, dois tipos básicos, de disposição acentual fixa e ritmo extremamente característico.

O primeiro deles reproduz um ritmo anfibráquico, e o segundo um ritmo trocaico.

Encontramos ambos os tipos em estrofes isométricas e heterométricas, nestas, conforme explicado no tópico anterior, a associação geralmente se dá ao pentassílabo.

Abaixo, daremos exemplos de ambos os tipos.

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Tipo 1: esquema acentual 2-5-8-11 (- ~ – – ~ – – ~ – – ~)

Este é o tipo de hendecassílabo mais comum, e reproduz um ritmo anfibráquico perfeito, considerando que, a maioria das vezes, o verso é terminado em palavra grave.

O anfíbraco, aplicado à fonética portuguesa, consiste numa sequência de uma sílaba forte entre duas fracas (– ~ –).

Portanto, considerando a terminação usualmente grave, o hendecassílabo deste tipo consiste em quatro anfíbracos.

A sonoridade destes versos é belíssima e muito característica.

Abaixo um exemplo, com nosso destaque para as sílabas fortes:

No berço pendente de ramos floridos,
Em que eu pequenino feliz dormitava,
Quem é que esse berço, com todo o cuidado,
Cantando cantigas, alegre embalava?
(Casimiro de Abreu)

Um emprego estilístico bastante comum e eficaz neste tipo de verso é a utilização de vocábulos agudos com efeito de ênfase.

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Geralmente, estes vocábulos fecham as estrofes e, em razão de interromperem o verso uma sílaba antes do esperado, causam uma pausa vigorosa e enfática.

Um exemplo desta aplicação:

No meio das tabas de amenos verdores,
Cercadas de troncos — cobertos de flores,
Alteiam-se os tetos d’altiva nação;
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,
Teveis na guerra, que em densas coortes
Assombram das matas a imensa extensão.
(Gonçalves Dias)

Também é comum, para dar mais dinamismo ao poema, a utilização dos já citados pentassílabos como versos quebrados.

Abaixo um exemplo que os utiliza e também utiliza vocábulos agudos, com idêntico efeito enfático do exemplo anterior.

Perceba que, apesar dos pentassílabos, o ritmo dos versos não se quebra:

Dormia deitada na rede de penas,
O céu por dossel,
De leve embalada no quieto balanço,
Qual nauta cismando num largo bem manso
Num leve batel!
(Casimiro de Abreu)

Tipo 2: esquema acentual 1-3-5-7-9-11 (~ – ~ – ~ – ~ – ~ – ~)

Este tipo de hendecassílabo é frequentemente associado a Guerra Junqueiro, que o utilizou com grande brilho.

Ele reproduz um ritmo trocaico e, tal como o tipo anterior, não despreza a última sílaba átona do verso (que geralmente é grave) para efeitos rítmicos.

Pelo mesmo motivo, os vocábulos agudos, aqui, também são capazes de produzir um efeito de ênfase e pausa no fim dos versos.

Consiste o troqueu, adaptado à nossa fonética, em uma sílaba forte seguida de uma fraca (~ –). Portanto, neste tipo de hendecassílabo temos seis troqueus.

Um exemplo:

Oh que ação renhida! balas sobre balas
(Franklin Dória)

É interessante observar que, em muitos casos, vemos uma ou mais sílabas fracas em posições destinadas a sílabas fortes, sem que o poema perca o seu andamento característico.

Assim, encontra-se facilmente variações 1-3-5-7-11, 1-3-5-9-11, 1-5-7-11, etc., componentes de estrofes com esta base trocaica.

Um exemplo, destacando apenas as sílabas fortes por natureza:

Ao cavalo as deas largo e sigo absorto.
Darda o sol mais rijo, como acesa frágua;
Vão-me os olhos vendo tudo em roda morto,
Tudo chão de areias, sem um pingo d’água.
(Alberto de Oliveira)

Outras variações

Como dissemos, acima exemplificamos os dois tipos mais comuns de hendecassílabo.

Suas possibilidades de realização, porém, são muito mais numerosas.

Abaixo daremos alguns exemplos de poetas que exploraram algumas formas não ortodoxas.

Esquema acentual 1-4-8-11:

Tenho os relâmpagos, deixai-me sem velas:
(António Nobre)

Esquema acentual 2-6-9-11:

Aquele cordeirinho que eu vi nascer
(Cecília Meireles)

Esquema acentual 3-6-8-11:

As espumas do mar que vamos pisando
(Cecília Meireles)

Esquema acentual 2-4-6-11:

Encontro todas, menos a que procuro
(Cassiano Ricardo)

Todas essas variações e muitas outras são encontradas, geralmente em estrofes de cadência apenas silábica.

Isso não quer dizer que, eventualmente, não possam ser encontradas ou empregadas em estrofes de cadência acentual, tal como é comum para este verso.

Exemplos de verso hendecassílabo

Abaixo disponibilizamos alguns exemplos de aplicação do verso hendecassílabo:

Seus olhos, de Gonçalves Dias

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
De vivo luzir,
Estrelas incertas, que as águas dormentes
Do mar vão ferir;

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Têm meiga expressão,
Mais doce que a brisa, – mais doce que o nauta
De noite cantando, – mais doce que a frauta
Quebrando a solidão.

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
De vivo luzir,
São meigos infantes, gentis, engraçados
Brincando a sorrir.

São meigos infantes, brincando, saltando
Em jogo infantil,
Inquietos, travessos; – causando tormento,
Com beijos nos pagam a dor de um momento,
Com modo gentil.

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Assim é que são;
Às vezes luzindo, serenos, tranquilos,
Às vezes vulcão!

Às vezes, oh! sim, derramam tão fraco,
Tão frouxo brilhar,
Que a mim me parece que o ar lhes falece,
E os olhos tão meigos, que o pranto umedece
Me fazem chorar.

Assim lindo infante, que dorme tranquilo,
Desperta a chorar;
E mudo e sisudo, cismando mil coisas,
Não pensa – a pensar.

Nas almas tão puras da virgem, do infante,
Às vezes do céu
Cai doce harmonia duma Harpa celeste,
Um vago desejo; e a mente se veste
De pranto co’um véu.

Quer sejam saudades, quer sejam desejos
Da pátria melhor;
Eu amo seus olhos que choram sem causa
Um pranto sem dor.

Eu amo seus olhos tão negros, tão puros,
De vivo fulgor;
Seus olhos que exprimem tão doce harmonia,
Que falam de amores com tanta poesia.
Com tanto pudor.

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Assim é que são;
Eu amo esses olhos que falam de amores
Com tanta paixão.

Minha mãe, de Casimiro de Abreu

Da pátria formosa distante e saudoso,
Chorando e gemendo meus cantos de dor,
Eu guardo no peito a imagem querida
Do mais verdadeiro, do mais santo amor:
— Minha Mãe! —

Nas horas caladas das noites d’estio
Sentado sozinho co’a face na mão,
Eu choro e soluço por quem me chamava
— “Oh filho querido do meu coração!” —
— Minha Mãe! —

No berço, pendente dos ramos floridos
Em que eu pequenino feliz dormitava:
Quem é que esse berço com todo o cuidado
Cantando cantigas alegre embalava?
— Minha Mãe! —

De noite, alta noite, quando eu já dormia
Sonhando esses sonhos dos anjos dos céus,
Quem é que meus lábios dormentes roçava,
Qual anjo da guarda, qual sopro de Deus?
— Minha Mãe! —

Feliz o bom filho que pode contente
Na casa paterna de noite e de dia
Sentir as carícias do anjo de amores,
Da estrela brilhante que a vida nos guia!
— Uma Mãe! —

Por isso eu agora na terra do exílio,
Sentado sozinho co’a face na mão,
Suspiro e soluço por quem me chamava:
— “Oh filho querido do meu coração!” —
— Minha Mãe! —

A moleirinha, de Guerra Junqueiro

Pela estrada plana toc, toc, toc
Guia o jumentinho uma velhinha errante
Como vão ligeiros, ambos a reboque,
Antes que anoiteça, toc, toc, toc
A velhinha atrás, o jumentinho adiante!…

Toc, toc, a velha vai para o moinho,
Tem oitenta anos, bem bonito rol!…
E contudo alegre como um passarinho,
Toc, toc, e fresca como o branco linho,
De manhã nas relvas a corar ao sol.

Vai sem cabeçada, em liberdade franca,
O jerico ruço duma linda cor;
Nunca foi ferrado, nunca usou retranca,
Tange-o, toc, toc, moleirinha branca
Com o galho verde duma giesta em flor.

Vendo esta velhita, encarquilhada e benta,
Toc, toc, toc, que recordação!
Minha avó ceguinha se me representa…
Tinha eu seis anos, tinha ela oitenta,
Quem me fez o berço fez-lhe o seu caixão!…

Toc, toc, toc, lindo burriquito,
Para as minhas filhas quem mo dera a mim!
Nada mais gracioso, nada mais bonito!
Quando a virgem pura foi para o Egito,
Com certeza ia num burrico assim.

Toc, toc, é tarde, moleirinha santa!
Nascem as estrelas, vivas, em cardume…
Toc, toc, toc, e quando o galo canta,
Logo a moleirinha, toc, se levanta,
Pra vestir os netos, pra acender o lume…

Toc, toc, toc, como se espaneja,
Lindo o jumentinho pela estrada chã!
Tão ingênuo e humilde, dá-me, salvo seja,
Dá-me até vontade de o levar à igreja,
Baptizar-lhe a alma, pra fazer cristã!

Toc, toc, toc, e a moleirinha antiga,
Toda, toda branca, vai numa frescata…
Foi enfarinhada, sorridente amiga,
Pela mó da azenha com farinha triga,
Pelos anjos loiros com luar de prata!

Toc, toc, como o burriquito avança!
Que prazer d’outrora para os olhos meus!
Minha avó contou-me quando fui criança,
Que era assim tal qual a jumentinha mansa
Que adorou nas palhas o menino Deus…

Toc, toc, é noite… ouvem-se ao longe os sinos,
Moleirinha branca, branca de luar!…
Toc, toc, e os astros abrem diamantinos,
Como estremunhados querubins divinos,
Os olhitos meigos para a ver passar…

Toc, toc, e vendo sideral tesoiro,
Entre os milhões d’astros o luar sem véu,
O burrico pensa: Quanto milho loiro!
Quem será que mói estas farinhas d’oiro
Com a mó de jaspe que anda além no Céu!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Verso hendecassílabo: o que é, tipos, características e exemplos. [S.I.] 2023. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/verso-hendecassilabo-caracteristicas-exemplos/. Acesso em: 1 dez. 2024.