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Poema Meninos carvoeiros, de Manuel Bandeira (com análise)

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Conheça o poema Meninos carvoeiros, de Manuel Bandeira, e confira nossa análise!

Meninos carvoeiros é um poema escrito pelo poeta brasileiro Manuel Bandeira que está disponível em seu volume intitulado O ritmo dissoluto (1924).

O poema é datado de 1921 e aborda a rotina de trabalhadores do comércio de carvão, expondo-lhes as dificuldades e como, apesar delas, conseguem extrair e irradiar alegria.

Sendo assim, preparamos esse texto para que você conheça o poema Meninos carvoeiros, de Manuel Bandeira. Em seguida, você poderá conferir nossa análise.

Boa leitura!

Meninos carvoeiros, de Manuel Bandeira

Os meninos carvoeiros
Passam a caminho da cidade.
– Eh, carvoero!
E vão tocando os animais com um relho enorme.

Os burros são magrinhos e velhos.
Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.
A aniagem é toda remendada.
Os carvões caem.

(Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe, dobrando-se com um
gemido.)

– Eh, carvoero!
Só mesmo estas crianças raquíticas
Vão bem com estes burrinhos descadeirados.
A madrugada ingênua parece feita para eles…
Pequenina, ingênua miséria!
Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis!
– Eh, carvoero!

Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado,
Encarapitados nas alimárias,
Apostando corrida,
Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados!

Análise do poema

  • Tipo de verso: livre
  • Número de e tipo de estrofes: 5 estrofes irregulares
  • Número de versos: 20 versos

Meninos carvoeiros é um poema construído em versos livres, portanto, é um poema que não utiliza nem metrificação, nem rima.

O poema é de linguagem simples e pode ser resumido na representação da rotina de trabalhadores do comércio de carvão.

Estrutura do poema

Meninos carvoeiros possui 20 versos divididos em 5 estrofes irregulares, segundo a versão que dispomos da Global Editora (2020).

O poema não utiliza nem metrificação, nem rima, nem obedece a nenhum padrão rítmico regular.

Poderíamos dividir o poema em duas partes, levando em consideração a presença do narrador naquilo que é descrito: na primeira parte, que vai até a terceira estrofe, o que temos é uma descrição objetiva da cena; a partir de então, o narrador demonstra-nos, ainda que indiretamente, sua simpatia pelos pequenos trabalhadores, tomando o poema uma forma de quase exaltação.

Sentido do poema

Meninos carvoeiros é um poema muito característico da face que talvez seja a mais destacada e comovente de Manuel Bandeira.

O poema exemplifica a refinadíssima capacidade da Bandeira em extrair beleza de situações prosaicas, através de uma linguagem também prosaica que, no entanto, parece-nos brilhante e comovente.

Assim começa o poema:

Os meninos carvoeiros
Passam a caminho da cidade.
– Eh, carvoero!
E vão tocando os animais com um relho enorme.

Nesta primeira estrofe, temos a descrição objetiva de uma cena em que “meninos carvoeiros”, isto é, meninos que trabalham com o comércio de carvão, “passam a caminho da cidade”.

O terceiro verso replica aquilo que os tais meninos gritavam de praxe enquanto passavam “a caminho da cidade”, para anunciarem o carvão.

É interessante como este enxuto verso, ao utilizar o discurso direto e valer-se da oralidade em “carvoero”, e não “carvoeiro”, faz com que a cena tome grande vivacidade em nossa mente e seja mais potente do que jamais seria o discurso indireto.

Os burros são magrinhos e velhos.
Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.
A aniagem é toda remendada.
Os carvões caem.

Nesta segunda estrofe, permanece o poema a descrever objetivamente a cena.

Aqui, percebemos o caráter extremamente humilde de tais trabalhadores, que dispõem de burros “magrinhos e velhos”, com aniagem “toda remendada”.

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Através de “os carvões caem”, podemos inferir que os pequenos carvoeiros não possuem a instrumentação necessária para transportá-los com segurança, e que portanto trabalham em condições precárias.

A partir da estrofe seguinte, o poema muda de tom e as descrições, antes objetivas, passam a ser entremeadas de um colorido todo especial:

– Eh, carvoero!
Só mesmo estas crianças raquíticas
Vão bem com estes burrinhos descadeirados.
A madrugada ingênua parece feita para eles…
Pequenina, ingênua miséria!
Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis!
– Eh, carvoero!

Continuamos a nos deparar com a descrição das condições precárias em que trabalham estes “meninos”; agora, porém, vemos que o narrador dá brilho à tal situação, revelando-nos uma beleza que, até então, parecia inexistente.

O narrador pinta-nos as “crianças raquíticas” e os “burrinhos descadeirados” como feitos para “a madrugada ingênua”; quer dizer, a bela e “ingênua miséria” que eles representam ao trabalhar tão duro, em tal horário e em tais condições, harmoniza-se com a beleza da noite, segundo o narrador do poema.

O ápice desta estrofe, naturalmente, dá-se com as exclamações de seu quinto e sexto verso, que se nos parecem como um grito de exaltação que expressa toda a simpatia que sente o narrador pelos pequenos carvoeiros.

Sugere-nos o narrador que, apesar de todas as dificuldades, os trabalhadores não deixam de ser felizes e trabalham como se brincassem.

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Esta “ingenuidade” destes meninos, que segundo o narrador harmoniza-se com a “madrugada ingênua”, não pode senão nos encantar e nos comover.

Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado,
Encarapitados nas alimárias,
Apostando corrida,
Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados!

Nesta, que é a última estrofe do poema, o narrador parece justificar os versos nos quais se refere à “ingênua miséria” e ao fato de que os trabalhadores lhe parecem trabalhar como se brincassem.

O bonito efeito desta estrofe é derivado de sua divisão lógica: os dois primeiros versos referem-se à situação miserável dos “carvoeirinhos”; os dois últimos descrevem, no entanto, a enorme alegria com que trabalham a despeito da própria miséria.

Assim, Meninos carvoeiros é um poema que expressa a beleza da postura daqueles que, apesar de humildes e apesar de suportarem uma vida difícil, permanecem irradiando alegria.

Sobre Manuel Bandeira

Manuel Bandeira nasceu em Recife, em 19 de abril de 1886.

Além de poeta, foi professor, cronista, crítico literário e professor.

Aos dez anos, deixou Recife com destino ao Rio de Janeiro, onde, de 1897 a 1902, cursou o secundário no colégio hoje chamado Pedro II, bacharelando-se em letras.

Em 1903, matriculou-se na Escola Politécnica de São Paulo para fazer o curso de engenheiro-arquiteto, abandonando-o no ano seguinte por sofrer de tuberculose.

A doença levou-o a vários sanatórios e fê-lo mudar seguidamente de cidade. Entre 1913 a 1914, esteve recuperando-se em Clavadel, na Suíça.

Parecia a tuberculose sugerir que seria curta a vida do jovem poeta; mas, curiosamente, viveu ele até os 82 anos.

Retornando da Suíça ao Brasil, Manuel Bandeira iniciou sua produção literária em periódicos. Em 1917, publicou sua primeira obra, A cinza das horas, e dali em diante passaria os seus anos em intensa produção artística, dando luz a uma das mais ricas obras da poesia moderna brasileira.

Em 1940, foi eleito para a cadeira 24 da Academia Brasileira de Letras.

Em 13 de outubro de 1968, faleceu, célebre e amplamente considerado um dos maiores poetas da literatura brasileira.

Obras poéticas de Manuel Bandeira

  • A cinza das horas (1917)
  • Carnaval (1919)
  • O ritmo dissoluto (1924)
  • Libertinagem (1930)
  • Estrela da manhã (1936)
  • Lira dos cinquent’anos (1940)
  • Belo belo (1948)
  • Mafuá do Malungo (1948)
  • Opus 10 (1954)
  • Estrela da tarde (1960)

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema Meninos carvoeiros, de Manuel Bandeira.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver o que escrevemos sobre Adormecida, de Castro Alves.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Poema Meninos carvoeiros, de Manuel Bandeira (com análise). [S.I.] 2023. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poema-meninos-carvoeiros-manuel-bandeira/. Acesso em: 14 mai. 2024.