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Por que “O Corvo”, de Edgar Allan Poe, é tão bom? (5 lições do poema)

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Confira as lições que o famosíssimo poema “O Corvo”, de Edgar Allan Poe, tem para nos ensinar!

The Raven (em português, “O Corvo”), de Edgar Allan Poe, é um dos poemas mais conhecidos da literatura mundial.

Este pequeno poema emana uma energia, uma sonoridade que coloca-o entre os mais belos poemas jamais escritos em língua inglesa e, sem dúvida, é o melhor poema de Edgar Allan Poe.

“O Corvo” atraiu a atenção de vários dos mais ilustres nomes da literatura em língua portuguesa e recebeu inúmeras traduções, como, por exemplo, de Machado de Assis e de Fernando Pessoa.

Só por isso já é possível medir a importância e a grandeza deste poema.

Mas o curioso é que Poe, num ensaio intitulado The Philosophy of Composition (em português, “A Filosofia da Composição”), disseca tecnicamente os elementos e o processo criativo que envolveu a composição deste poema, dando-nos ensinamentos extremamente valiosos.

Sendo assim, preparamos esse texto reunindo algumas das lições mais importantes que podemos tirar de “O Corvo”, de Edgar Allan Poe, e aplicar em nossos próprios poemas.

Boa leitura!

Um bom poema depende mais de planejamento que de intuição

Logo no início de “A Filosofia da Composição”, Edgar Allan Poe diz que tomará “O Corvo” como exemplo para nos explicar seu método de composição poética, afirmando o que traduzimos livremente a seguir:

Seleciono “O Corvo” por ser meu poema mais conhecido. É meu intento tornar manifesto que nenhum elemento de sua composição é fruto de acidente ou intuição — que o trabalho prosseguiu, passo a passo, até sua conclusão, com a precisão e a consequência rígida de um problema matemático.

Então Poe nos mostra, em detalhes, como definiu previamente todos os elementos que comporiam o poema antes de sentar-se a criar.

A comparação que Poe faz entre a composição de um poema e a resolução de um problema matemático é extremamente instrutiva e nos mostra que é necessário progredir em etapas bem definidas para criar um poema que apresente um resultado final satisfatório.

Embora o que se chama “intuição” possa ter um papel importante na criação poética, não é ela a responsável pela harmonia de um poema: esta é fruto da adequação dos versos a um padrão rítmico e melódico previamente definido — noutras palavras, é fruto de planejamento.

Um poeta profissional não se senta para criar do zero

Outra lição importantíssima que podemos tirar do método de Edgar Allan Poe é que, de forma alguma, um poeta profissional senta-se diante da folha ou da tela branca para criar do zero.

Como já notamos, a harmonia de um poema, sua coerência interna é fruto de uma rígida adequação a um padrão predefinido pelo autor.

Para que seja possível conciliar tantas variáveis, como as há na poesia, é preciso defini-las antes que se comece a efetivamente criar o poema.

Do contrário, o autor se verá diante de uma infinidade de elementos para serem determinados de uma só vez. Então ocorre o que se chama “bloqueio criativo” — algo ainda mais frequente na poesia que na prosa e que simplesmente não existe para um poeta profissional.

Um poeta profissional jamais se senta diante da tela ou da folha branca.

Quando senta-se para criar, já definiu os elementos que comporão seu poema: o número de versos, a disposição das rimas, a estrofação, o tom do poema, o cenário, a ação, os efeitos melódicos… tudo isso já está determinado, portanto, o poeta venceu estes problemas e pode concentrar-se em realizar o que já idealizou.

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Um poema deve girar em torno de um objetivo central

Em poesia, tudo fica mais simples quando sabemos exatamente aquilo que vamos criar.

Ainda em “A Filosofia da Composição”, Edgar Allan Poe nos mostra como absolutamente todos os elementos de “O Corvo” convergem para um objetivo central, atuando conjuntamente, fortalecendo a unidade da composição.

Segundo Poe, a poesia deve visar a criação da Beleza; a Beleza, por sua vez, em sua manifestação mais elevada, “invariavelmente estimula a alma sensível às lágrimas”.

A melancolia é, portanto, o mais legítimo de todos os tons poéticos.

Partindo deste princípio, Poe nos revela em que pensou para idealizar “O Corvo”:

“De todos os temas melancólicos qual, segundo a compreensão universal da humanidade, é o mais melancólico?” A morte, foi a (minha) resposta óbvia.

Assim, o objetivo central do poema foi definido como expressar a melancolia em sua forma mais pura, mais plena e mais forte.

Para alcançá-lo, Poe começou a listar elementos que sugerem a ideia de melancolia: uma noite chuvosa; um homem lamentando a morte da mulher amada; um corvo…

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A todos estes, Poe adicionou a repetição, em todas as estrofes, do fonema que, para ele, é o mais melancólico e carrancudo da língua inglesa: o “o” fechado (presente em palavras como more, nevermore).

Assim, fica muito óbvio entender o porquê de “O Corvo” emanar uma energia tão forte: o poema inteiro foi construído em torno deste objetivo.

Não há poesia sem música

Em outro ensaio, intitulado “The Poetic Principle” (em português, “O Princípio Poético”), Edgar Allan Poe explica-nos mais de sua concepção poética, e podemos ter mais justificativas de por que “O Corvo” é um poema tão bom.

Diz Poe:

A música, quando combinada com uma ideia aprazível, é poesia; a música, sem a ideia, é simplesmente música; a ideia, sem a música, é a prosa, segundo sua própria definição.

Por muito que já se tenha dito e praticado em contrário, a música continua, e sempre continuará, a ser um elemento fundamental em construções verdadeiramente poéticas.

Se tomamos “O Corvo” como exemplo, é muito fácil notar que grande parte de seu efeito é derivado dos elementos musicais que o constituem.

A regularidade rítmica que se estende por todo o poema somada às rimas e à repetição já mencionada do fonema “o” fechado criam uma unidade encantadora.

O poema jamais teria o mesmo efeito caso lhe fossem retirados os elementos musicais, que reforçam sobremaneira o tom poético estipulado por Poe.

Concisão é força

Para fechar, outra lição muito interessante que podemos tirar de “O Corvo” e diretamente ligada à concepção poética de Edgar Allan Poe: em poesia, concisão é força.

Poe é radical neste ponto, e faz a seguinte e polêmica declaração em “O Princípio Poético”:

Considero que um poema longo não existe. Sustento que a frase “um poema longo” é simplesmente uma contradição de termos.

E justifica-se:

O valor de um poema está na proporção da excitação que ele gera. Mas todas as excitações são, necessariamente, transitórias. Esse grau de excitação que daria direito a um poema ser assim chamado não pode ser sustentado ao longo de uma composição de qualquer comprimento.

Portanto, Poe defende que, para que haja unidade e força, um poema não pode ter um grande número de versos.

Sendo assim, deve-se construí-lo de forma a consistir num movimento único de elevação até que se alcance o patamar desejado, encerrando-o antes que esta “excitação” enfraqueça, portanto, sem que o poema deixe o patamar ao qual se elevou.

Embora seja um ponto discutível, não há dúvida de que “O Corvo”, se estendido, tornar-se-ia maçante e, portanto, é um ótimo exemplo de boa aplicação deste princípio.

Bônus: adaptações de “O Corvo”, de Edgar Allan Poe, para o cinema

O poema “O Corvo” já recebeu várias adaptações para o cinema ao redor do mundo.

A última delas, dirigida por James McTeigue, veio a público em 2012. É um filme de suspense cujo trailer disponibilizamos abaixo:

 

Deixamos também a versão da famosíssima série de animação Os Simpsons para o poema de Poe:

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado deste texto e conhecido alguns motivos que tornam “O Corvo”, de Edgar Allan Poe, um poema tão bom.

Se você gostou desse conteúdo, não deixe de ver o que escrevemos sobre poesia e imagens.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Por que “O Corvo”, de Edgar Allan Poe, é tão bom? (5 lições do poema). [S.I.] 2022. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/por-que-o-corvo-de-edgar-allan-poe-poema-bom/. Acesso em: 15 mai. 2024.