Saiba o que é rondel em poesia, conheça suas características e veja exemplos de sua aplicação!
O rondel é uma composição poética de forma fixa francesa, construída sobre duas rimas e dois estribilhos.
Sua introdução na língua portuguesa deu-se no final do século XIX e, desde então, encontramos alguns poetas que o empregaram.
A seguir, elucidaremos o que é rondel em poesia, quais são suas características e daremos exemplos de sua aplicação.
Definição de rondel
O rondel é uma composição poética de 13 versos, divididos em 3 estrofes, sendo duas quadras e uma quintilha, conforme o esquema rímico ABba abAB abbaA, de forma que A e B são versos que se repetem como estribilho.
O termo rondel é derivado do francês rondeau, que originou-se como um tipo de canção medieval empregada nas chamadas rondes.
Estas consistiam numa espécie de dança de roda, acompanhada de canto; geralmente, os estribilhos eram cantados por um coro.
Destas mesmas rondes, surgiram variadas composições de forma fixa para além do rondel, como o rondó, o rondelete e o rondel duplo.
O rondel é tradicionalmente construído em octossílabos, embora não seja difícil encontrá-los em decassílabos na poesia medieval francesa; modernamente, outros metros são também utilizados.
História do rondel
O rondel surgiu no século XIII, na França, como uma forma de canção popular empregada nas ditas rondes.
Inicialmente, o termo rondel não era aplicado a uma forma rigidamente fixa, mas a diversas variações de composições que tinham como característica o uso de refrões e apenas duas rimas.
Como consta na The Princeton Encyclopedia of Poetry and Poetics, Eustache Deschamps apresentou cinco variações de rondel em seu livro L’Art de dictier (1392), uma das quais viria a ser conhecida como triolé.
A forma de rondel que se fixou, com 13 versos, parece ter evoluído deste mesmo triolé, que consiste numa única estrofe de oito versos, também construído sobre duas rimas e dois estribilhos, conforme o esquema rímico ABaAabAB.
Geir Campos, em Pequeno dicionário de arte poética, por este motivo refere-se ao triolé como “rondel primitivo”; algo que também é sugerido por J. A. Cuddon no The Penguin Dictionary of Literary Terms and Literary Theory.
Embora o rondel tenha sido cultivado na França durante toda a Idade Média, sua introdução em português deu-se apenas no século XIX, através de Eugénio de Castro.
Ao menos, é isto o que o autor afirma no prefácio de Oaristos (1890), atribuindo a si mesmo a introdução do “delicioso ritmo francês”, chamado rondel, na língua portuguesa.
Aplicação do rondel
O rondel é tradicionalmente empregado no gênero lírico, com a finalidade de expressar sentimentos delicados e galantes.
Os rondéis portugueses seguem esta tradição, embora nem sempre sigam o padrão métrico francês.
Um exemplo de rondel clássico, construído em octossílabos, encontramos em Viola chinesa, de Camilo Pessanha:
Ao longo da viola morosa
Vai adormecendo a parlenda,
Sem que, amadornado, eu atenda
A lenga-lenga fastidiosa.Sem que o meu coração se prenda,
Enquanto, nasal, minuciosa,
Ao longo da viola morosa,
Vai adormecendo a parlenda.Mas que cicatriz melindrosa
Há nele, que essa viola ofenda
E faz que as asitas distenda
Numa agitação dolorosa?
Ao longo da viola, morosa…
Como natural ao gênero lírico, encontra-se também rondéis portugueses que abordam a temática amorosa.
Outros metros utilizados em nossa língua para esta forma poética são o decassílabo, o heptassílabo e o dodecassílabo; veremos algumas destas variações a seguir.
Exemplos de aplicação do rondel
Abaixo daremos alguns exemplos de aplicação do rondel em português.
Oaristos, de Eugénio de Castro
Nesta obra, Eugénio de Castro atribui a si mesmo a introdução do rondel na língua portuguesa.
O exemplo a seguir é um rondel clássico construído em octossílabos.
IV
A lilial Virgem Maria,
Todas as tardes, ao poente,
Surge na lua marcescente,
— Celestial janela fria.Dessa janela liquescente
Vê tudo, tudo, e tudo espia,
A lilial Virgem Maria
Todas as tardes, ao poente.Lá vem a lua fugidia…
Sê minha amiga, ó Flor dormente!
Esse teu ar indiferente,
Esse teu ar desgostaria
A lilial Virgem Maria.
Ao longe os barcos de flores, de Camilo Pessanha
Neste rondel, Camilo Pessanha emprega versos decassílabos:
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila,
– Perdida voz que de entre as mais se exila,
– Festões de som dissimulando a horaNa orgia, ao longe, que em clarões cintila
E os lábios, branca, do carmim desflora…
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila.E a orquestra? E os beijos? Tudo a noite, fora,
Cauta, detém. Só modulada trila
A flauta flébil… Quem há-de remi-la?
Quem sabe a dor que sem razão deplora?
Só, incessante, um som de flauta chora…
Marinha, de Olavo Bilac
Este rondel de Olavo Bilac apresenta duas variações interessantes.
A primeira delas é o metro: são versos dodecassílabos, raros neste tipo de composição.
A segunda delas é o esquema rímico, que apresenta-se ABab baaB ababA, distanciando-se ligeiramente do rondel tradicional.
Sobre as ondas oscila o batel docemente…
Sopra o vento a gemer… Treme enfunada a vela…
Na água mansa do mar passam tremulamente
Áureos traços de luz, brilhando esparsos nela.Lá desponta o luar… Tu, palpitante e bela,
Canta! Chega-te a mim! Dá-me essa boca ardente!
Sobre as ondas oscila o batei docemente…
Sopra o vento a gemer… Treme enfunada a vela…Vagas azuis, parai! Curvo céu transparente,
Nuvens de prata, ouvi!… Ouça na altura a estrela,
Ouça de baixo o oceano, ouça o luar albente:
Ela canta!… e, embalado ao som do canto dela,
Sobre as ondas oscila o batel docemente.