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Verso pentassílabo (ou redondilha menor): o que é, características e exemplos

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Saiba o que é pentassílabo (ou redondilha menor) em poesia, conheça suas características e veja exemplos de sua aplicação!

O pentassílabo é um dos metros mais amplamente utilizados em português; comparado aos metros menores, sua ocorrência é muito mais frequente e data de séculos.

Nativo da poesia galego-portuguesa, este metro era o de menor extensão empregado isoladamente pelos trovadores.

A seguir, elucidaremos o que é pentassílabo na poesia, quais são suas características e daremos exemplos de sua aplicação.

Definição de pentassílabo

Em poesia, pentassílabo (ou redondilha menor) é o nome que se dá ao verso que possui cinco sílabas poéticas, segundo a contagem silábica praticada em português.

Nesta contagem, também chamada contagem francesa ou contagem de Castilho, considera-se para efeito de definição do metro o número de sílabas poéticas do verso até sua última sílaba tônica.

Desta forma, o pentassílabo pode possuir cinco, seis ou sete sílabas poéticas reais, a depender se sua última sílaba tônica recai em palavra aguda, grave ou esdrúxula, respectivamente.

Este verso é também conhecido como redondilho menor, verso de redondilha menor e redondilho pentassilábico.

Embora o termo “redondilha” se referisse, a princípio, apenas a uma estrofe de esquema rímico abba, hoje popularizou-se o uso do termo para referir-se também aos metros em que tais estrofes eram comumente construídas, isto é, chama-se “redondilha menor” o verso pentassílabo, e “redondilha maior” o heptassílabo.

Quanto à acentuação, o verso pentassílabo possui, normalmente, duas ou três sílabas fortes.

Características do verso pentassílabo

O verso pentassílabo é o primeiro metro, entre os menores, cuja aplicação se dá majoritariamente em estrofes isométricas.

Contudo, este metro também aparece combinado a versos de maior e menor extensão, destacadamente ao hendecassílabo.

O pentassílabo usualmente segue um entre dois esquemas rítmicos:

  1. trocaico: com acentuação na primeira, terceira e quinta sílabas (~ – ~ – ~)
  2. anfibráquico: com acentuação na segunda e quinta sílabas (– ~ – – ~)

O primeiro esquema comporta as variações intensivas 1-5 e 3-5, sem que se quebre o ritmo dos versos.

Quanto ao segundo esquema, vemo-lo frequentemente aplicado exclusivamente em composições inteiras, muitas vezes combinado a versos hendecassílabos.

Se consideramos, para efeito de análise rítmica, a sílaba átona final de versos graves, percebemos que, nestes versos, tal esquema concretiza um ritmo anfibráquico perfeito, o que confere uma musicalidade muito acentuada às composições.

Finalmente, destacamos que, embora os esquemas supracitados sejam os mais frequentes, o pentassílabo pode apresentar acentuação em qualquer uma das quatro sílabas, como exemplificado por Manuel Bandeira, em A versificação em língua portuguesa, na quadra abaixo:

Trépida batia,
A gota no vidro,
Escorrendo logo,
E sem cair, trêmula.

Exemplos de verso pentassílabo

Abaixo veremos alguns exemplos de aplicação do verso pentassílabo em estrofes isométricas e heterométricas:

Ad Curso de Poesia

Verso pentassílabo em estrofes isométricas

Os sapos, de Manuel Bandeira

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
— “Meu pai foi à guerra!”
— “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: — “Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.

O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.”

Clame a saparia
Em críticas céticas:
“Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas…”

Urra o sapo-boi:
— “Meu pai foi rei” — “Foi!”
— “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”

Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
— “A grande arte é como
Lavor de joalheiro.

Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quando é vário,
Canta no martelo.”

Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
— “Sei!” — “Não sabe!” — “Sabe!”

Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;

Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No porão profundo
E solitário, é

Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio…

O canto do Guerreiro, de Gonçalves Dias

I

Aqui na floresta
Dos ventos batida,
Façanhas de bravos
Não geram escravos,
Que estimem a vida
Sem guerra e lidar.
— Ouvi-me, Guerreiros,
— Ouvi meu cantar.

II

Valente na guerra,
Quem há, como eu sou?
Quem vibra o tacape
Com mais valentia?
Quem golpes daria
Fatais, como eu dou?
— Guerreiros, ouvi-me;
— Quem há, como eu sou?

III

Quem guia nos ares
A frecha emplumada,
Ferindo uma presa,
Com tanta certeza,
Na altura arrojada
Onde eu a mandar?
— Guerreiros, ouvi-me,
— Ouvi meu cantar.

IV

Quem tantos imigos
Em guerras preou?
Quem canta seus feitos
Com mais energia?
Quem golpes daria
Fatais, como eu dou?
— Guerreiros, ouvi-me:
— Quem há, como eu sou?

V

Na caça ou na lide,
Quem há que me afronte?!
A onça raivosa
Meus passos conhece,
O imigo estremece,
E a ave medrosa
Se esconde no céu.
— Quem há mais valente,
— Mais destro que eu?

VI

Se as matas estrujo
Co’os sons do Boré,
Mil arcos se encurvam,
Mil setas lá voam,
Mil gritos reboam,
Mil homens de pé
Eis surgem, respondem
Aos sons do Boré!
— Quem é mais valente,
— Mais forte quem é?

VII

Lá vão pelas matas;
Não fazem ruído:
O vento gemendo
E as matas tremendo
E o triste carpido
Duma ave a cantar,
São eles — guerreiros,
Que faço avançar.

VIII

E o Piaga se ruge
No seu Maracá,
A morte lá paira
Nos ares frechados,
Os campos juncados
De mortos são já:
Mil homens viveram,
Mil homens são lá.

IX

E então se de novo
Eu toco o Boré;
Qual fonte que salta
De rocha empinada,
Que vai marulhosa,
Fremente e queixosa,
Que a raiva apagada
De todo não é,
Tal eles se escoam
Aos sons do Boré.
— Guerreiros, dizei-me,
— Tão forte quem é?

Verso pentassílabo em estrofes heterométricas

Seus olhos, de Gonçalves Dias

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
De vivo luzir,
Estrelas incertas, que as águas dormentes
Do mar vão ferir;

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Têm meiga expressão,
Mais doce que a brisa, – mais doce que o nauta
De noite cantando, – mais doce que a frauta
Quebrando a solidão.

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
De vivo luzir,
São meigos infantes, gentis, engraçados
Brincando a sorrir.

São meigos infantes, brincando, saltando
Em jogo infantil,
Inquietos, travessos; – causando tormento,
Com beijos nos pagam a dor de um momento,
Com modo gentil.

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Assim é que são;
Às vezes luzindo, serenos, tranquilos,
Às vezes vulcão!

Às vezes, oh! sim, derramam tão fraco,
Tão frouxo brilhar,
Que a mim me parece que o ar lhes falece,
E os olhos tão meigos, que o pranto umedece
Me fazem chorar.

Assim lindo infante, que dorme tranquilo,
Desperta a chorar;
E mudo e sisudo, cismando mil coisas,
Não pensa – a pensar.

Nas almas tão puras da virgem, do infante,
Às vezes do céu
Cai doce harmonia duma Harpa celeste,
Um vago desejo; e a mente se veste
De pranto co’um véu.

Quer sejam saudades, quer sejam desejos
Da pátria melhor;
Eu amo seus olhos que choram sem causa
Um pranto sem dor.

Eu amo seus olhos tão negros, tão puros,
De vivo fulgor;
Seus olhos que exprimem tão doce harmonia,
Que falam de amores com tanta poesia.
Com tanto pudor.

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Assim é que são;
Eu amo esses olhos que falam de amores
Com tanta paixão.

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Verso pentassílabo (ou redondilha menor): o que é, características e exemplos. [S.I.] 2023. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/verso-pentassilabo-caracteristicas-exemplos/. Acesso em: 25 out. 2024.