Conheça o poema Balõezinhos, de Manuel Bandeira, e confira nossa análise!
Balõezinhos é um poema escrito pelo poeta brasileiro Manuel Bandeira que está disponível em seu volume intitulado O ritmo dissoluto (1924).
Como o título sugere, é este um poema dedicado ao público infantil, e nele encontramos toda a delicadeza do poeta, que de praxe transmite mensagens profundas através de uma linguagem simples.
Balõezinhos é um poema que, representando uma cena do cotidiano, em que crianças observam um vendedor de balões, evoca-nos a beleza da inocência que deseja aquilo cujo valor excede o que o dinheiro compra.
Dito isso, preparamos esse texto para que você conheça o poema Balõezinhos, de Manuel Bandeira. Em seguida, você poderá conferir nossa análise.
Boa leitura!
Balõezinhos, de Manuel Bandeira
Na feira livre do arrebaldezinho
Um homem loquaz apregoa balõezinhos de cor:
— “O melhor divertimento para as crianças!”
Em redor dele há um ajuntamento de menininhos pobres,
Fitando com olhos muito redondos os grandes balõezinhos muito redondos.No entanto a feira burburinha.
Vão chegando as burguesinhas pobres,
E as criadas das burguesinhas ricas,
E mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza.Nas bancas de peixe,
Nas barraquinhas de cereais,
Junto às cestas de hortaliças
O tostão é regateado com acrimônia.Os meninos pobres não veem as ervilhas tenras,
Os tomatinhos vermelhos,
Nem as frutas,
Nem nada.Sente-se bem que para eles ali na feira os balõezinhos de cor são a única mercadoria útil e verdadeiramente indispensável.
O vendedor infatigável apregoa:
— “O melhor divertimento para as crianças!”
E em torno do homem loquaz os menininhos pobres fazem um círculo inamovível de desejo e espanto.
Análise do poema
- Tipo de verso: livre
- Número de e tipo de estrofes: 6 estrofes irregulares
- Número de versos: 21 versos
Balõezinhos é um poema construído em versos livres, portanto, é um poema que não utiliza nem metrificação, nem rima.
O poema é de apresentação simples e narra uma cena que ocorre numa feira, onde crianças rodeiam um vendedor de balões.
Estrutura do poema
Balõezinhos possui 21 versos divididos em 6 estrofes irregulares.
O poema é escrito em versos livres, que não seguem nenhum padrão métrico ou rítmico.
Os versos também não utilizam rimas, e valem-se de uma linguagem coloquial, o que sugere uma leitura leve e despretensiosa.
Vocabulário do poema
Balõezinhos é um poema destinado ao público infantil que, como outras produções de Manuel Bandeira, descreve uma cena simples, inserindo porém algumas palavras de uso pouco comum, que dão todo um charme ao poema.
O objetivo destas palavras, para além da precisão e originalidade descritiva, é despertar a surpresa e a curiosidade naquele que lê, o qual certamente ficará contente ao aprender uma nova palavra e observá-la inserida num contexto próximo de sua realidade.
De qualquer forma, não será possível entender o poema Balõezinhos caso não saibamos, de antemão, o significado de algumas palavras do poema, que listamos abaixo:
- Arrabalde: lugar muito afastado do centro de uma cidade; subúrbio.
- Loquaz: falador, verboso, eloquente.
- Apregoar: anunciar em voz alta.
- Regatear: questionar ou insistir para obter preço mais baixo; pechinchar.
- Acrimônia: estado ou qualidade do que é acre, azedo; aspereza.
- Tenro: mole, macio; delicado, mimoso; que apresenta a cor verde; fresco, viçoso.
- Infatigável: que não sente ou revela fadiga; incansável.
- Inamovível: que não pode ser movido de um lugar para outro, imóvel; pertinaz, ferrenho.
Sentido do poema
Balõezinhos é um poema que retrata um vendedor de balões, numa feira, cercado por crianças.
Estas crianças, que não têm dinheiro para comprar os balões, ficam a admirá-los e a desejá-los, e nisto consiste a dramaticidade do poema.
Assim são os primeiros versos:
Na feira livre do arrebaldezinho
Um homem loquaz apregoa balõezinhos de cor:
— “O melhor divertimento para as crianças!”
Em redor dele há um ajuntamento de menininhos pobres,
Fitando com olhos muito redondos os grandes balõezinhos muito redondos.
Temos, já aqui, a descrição da cena dramatizada pelo poema: “um homem loquaz”, numa feira, anuncia balões rodeado de “um ajuntamento de menininhos pobres”, os quais fitam “com olhos muito redondos” os balões à venda.
Percebemos, em primeiro lugar, a delicadeza conferida a esta cena pelos diminutivos: “arrebaldezinho”, “balõezinhos” e “menininhos” reforçam a singeleza da cena narrada, além de dotá-la de uma candura peculiar.
O vendedor, então, anuncia seus produtos como “o melhor divertimento para as crianças” e os meninos, que não podem comprá-los, ficam a fitá-los com “olhos muito redondos”, o que nos sugere que eles estão encantados e desejam fortemente os balões.
Toda essa cena nos comove, desde o vendedor que anuncia simplíssimos balões como “o melhor divertimento para as crianças”, quanto estas que os querem e não podem tê-los.
Em seguida, o poema nos descreve o “burburinho” e o movimento da feira, em que vão chegando mais e mais pessoas, todas elas de situação humilde, e se dirigem a outras barraquinhas.
O verso “O tostão é regateado com acrimônia” sugere as pessoas pechinchando muito nas barraquinhas, e novamente reforça a pobreza daqueles que estão presentes na feira, aqueles para os quais um tostão (moeda brasileira da época) tem grande valor.
Após descrever o ambiente da feira, o narrador do poema novamente torna o foco aos meninos, “que não veem nada”, somente os balões.
Para eles, “os balõezinhos de cor são a única mercadoria útil e verdadeiramente indispensável”.
Novamente, é algo que nos comove, especialmente em se tratando de crianças pobres, para as quais “ervilhas tenras”, “tomatinhos vermelhos” e “frutas” poderiam exercer grande atração.
Não, elas só querem os balõezinhos, que representam aquilo que, embora não seja útil nem necessário, encanta e diverte.
Temos, aqui, toda a bela inocência característica das crianças, indiferentes aos adultos que, na mesma feira, pechincham “com acrimônia” produtos indispensáveis.
O poema é finalizado com os seguintes versos:
O vendedor infatigável apregoa:
— “O melhor divertimento para as crianças!”
E em torno do homem loquaz os menininhos pobres fazem um círculo inamovível de desejo e espanto.
Pelo adjetivo “infatigável” podemos concluir que, embora não esteja vendendo, o vendedor continua a anunciar seus balões — e com isso podemos inferir, também, a humildade do homem, que precisa de vendê-los e provavelmente já está ali há algum tempo, sem no entanto desistir.
O último verso é um reforço para a cena retratada no poema e nos insinua que, embora não possam comprar os balões, os menininhos não sairão de perto do vendedor e continuarão a fitá-los, desejando-os e permanentemente em espanto, como se os balões exercessem sobre elas uma atração invencível, e nada mais importasse.
Podemos também interpretar estes versos como a resolução das crianças em sempre sonhar, ou seja, mesmo que jamais possam ter os balõezinhos, elas jamais deixarão de sonhar em tê-los — algo que, novamente, é bonito e nos gera comoção.
Assim, Balõezinhos é um poema que retrata simultaneamente a difícil realidade da pobreza e a belíssima imagem daqueles que são capazes de sonhar.
Sobre Manuel Bandeira
Manuel Bandeira nasceu em Recife, em 19 de abril de 1886.
Além de poeta, foi professor, cronista, crítico literário e professor.
Aos dez anos, deixou Recife com destino ao Rio de Janeiro, onde, de 1897 a 1902, cursou o secundário no colégio hoje chamado Pedro II, bacharelando-se em letras.
Em 1903, matriculou-se na Escola Politécnica de São Paulo para fazer o curso de engenheiro-arquiteto, abandonando-o no ano seguinte por sofrer de tuberculose.
A doença levou-o a vários sanatórios e fê-lo mudar seguidamente de cidade. Entre 1913 a 1914, esteve recuperando-se em Clavadel, na Suíça.
Parecia a tuberculose sugerir que seria curta a vida do jovem poeta; mas, curiosamente, viveu ele até os 82 anos.
Retornando da Suíça ao Brasil, Manuel Bandeira iniciou sua produção literária em periódicos. Em 1917, publicou sua primeira obra, A cinza das horas, e dali em diante passaria os seus anos em intensa produção artística, dando luz a uma das mais ricas obras da poesia moderna brasileira.
Em 1940, foi eleito para a cadeira 24 da Academia Brasileira de Letras.
Em 13 de outubro de 1968, faleceu, célebre e amplamente considerado um dos maiores poetas da literatura brasileira.
Obras poéticas de Manuel Bandeira
- A cinza das horas (1917)
- Carnaval (1919)
- O ritmo dissoluto (1924)
- Libertinagem (1930)
- Estrela da manhã (1936)
- Lira dos cinquent’anos (1940)
- Belo belo (1948)
- Mafuá do Malungo (1948)
- Opus 10 (1954)
- Estrela da tarde (1960)
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema Balõezinhos, de Manuel Bandeira.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver o que escrevemos sobre o poema Amor fiel, de Gregório de Matos.
Um abraço e até a próxima!