Saiba o que é quintilha em poesia, conheça suas características e veja exemplos de sua aplicação!
A quintilha é um tipo estrófico de variada aplicação em português.
Encontramo-la geralmente rimada, e geralmente composta de versos de mesma extensão; diferentemente da quadra, porém, é difícil encontrá-la aliada a outros tipos estróficos.
A seguir, elucidaremos o que é quintilha em poesia, quais são suas características e daremos exemplos de sua aplicação.
Definição de quintilha
Em poesia, quintilha (ou quinteto) é o nome que se dá à estrofe composta de cinco versos.
Geir Campos destaca, em seu Pequeno dicionário de arte poética, que o termo quintilha aplica-se especialmente a versos de arte menor, isto é, versos que, segundo a nossa contagem, possuem sete ou menos sílabas poéticas.
Tais versos, aliás, especialmente os heptassílabos, são os que mais frequentemente encontramos em quintilhas portuguesas.
Em geral, as quintilhas apresentam todas as possibilidades rímicas possíveis entre duas rimas diferentes, evitando-se tão somente o rimarem três versos em sequência.
Alguns esquemas possíveis são abaab, abbab, ababa, abbaa, sendo os dois primeiros os mais frequentes na poesia clássica.
Também é comum encontrarmos o primeiro verso branco (ou solto), conforme esquemas como abccb ou abcbc.
Aplicação da quintilha
A aplicação mais conhecida da quintilha na literatura universal é proveniente dos tradicionais limeriques da poesia inglesa.
Esta forma fixa consiste numa única quintilha característica por seu esquema rímico aabba e temática geralmente humorística ou jocosa.
Em português, encontramos quem tenha praticado tal formato, embora o mais comum tenha sido construir poemas que consistem em séries de quintilhas.
Especialmente nas quintilhas de arte menor, também é comum o utilizá-las como se faz na literatura inglesa: com o propósito de sátiras.
Outra aplicação corriqueira da quintilha se dá em fábulas.
Exemplos de aplicação da quintilha
Abaixo daremos alguns exemplos de aplicação da quintilha em português.
Sossega, coração! Não desesperes!, de Fernando Pessoa
Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solene pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.
Seus olhos, de Gonçalves Dias
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
De vivo luzir,
Estrelas incertas, que as águas dormentes
Do mar vão ferir;Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Têm meiga expressão,
Mais doce que a brisa, – mais doce que o nauta
De noite cantando, – mais doce que a frauta
Quebrando a solidão.Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
De vivo luzir,
São meigos infantes, gentis, engraçados
Brincando a sorrir.São meigos infantes, brincando, saltando
Em jogo infantil,
Inquietos, travessos; – causando tormento,
Com beijos nos pagam a dor de um momento,
Com modo gentil.Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Assim é que são;
Às vezes luzindo, serenos, tranquilos,
Às vezes vulcão!Às vezes, oh! sim, derramam tão fraco,
Tão frouxo brilhar,
Que a mim me parece que o ar lhes falece,
E os olhos tão meigos, que o pranto umedece
Me fazem chorar.Assim lindo infante, que dorme tranquilo,
Desperta a chorar;
E mudo e sisudo, cismando mil coisas,
Não pensa – a pensar.Nas almas tão puras da virgem, do infante,
Às vezes do céu
Cai doce harmonia duma Harpa celeste,
Um vago desejo; e a mente se veste
De pranto co’um véu.Quer sejam saudades, quer sejam desejos
Da pátria melhor;
Eu amo seus olhos que choram sem causa
Um pranto sem dor.Eu amo seus olhos tão negros, tão puros,
De vivo fulgor;
Seus olhos que exprimem tão doce harmonia,
Que falam de amores com tanta poesia.
Com tanto pudor.Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Assim é que são;
Eu amo esses olhos que falam de amores
Com tanta paixão.
O Menino Azul, de Cecília Meireles
O menino quer um burrinho
para passear.
Um burrinho manso,
que não corra nem pule,
mas que saiba conversar.O menino quer um burrinho
que saiba dizer
o nome dos rios,
das montanhas, das flores,
de tudo o que aparecer.O menino quer um burrinho
que saiba inventar histórias bonitas
com pessoas e bichos
e com barquinhos no mar.E os dois sairão pelo mundo
que é como um jardim
apenas mais largo
e talvez mais comprido
e que não tenha fim.(Quem souber de um burrinho desses,
pode escrever
para a Ruas das Casas,
Número das Portas,
ao Menino Azul que não sabe ler.)
Amostra da poesia local, de Murilo Mendes
Tenho duas rosas na face,Nenhuma no coração.No lado esquerdo da faceCostuma também dar alface,No lado direito não.