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Epigrama: o que é, características e exemplos

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Saiba o que é epigrama em poesia, conheça suas características e veja exemplos de sua aplicação!

O epigrama é um tipo de poema que, pelo uso, consagrou-se como forma satírica por excelência.

Sua brevidade característica, quando bem trabalhada, confere uma potência e uma incisividade notáveis à composição.

A seguir, elucidaremos o que é epigrama em poesia, quais são suas características e daremos exemplos de sua aplicação.

Definição de epigrama

O epigrama é uma composição poética, breve e satírica, que expressa um pensamento ou um conceito malicioso de forma incisiva.

Na poesia clássica, porém, o epigrama não se restringia à sátira, destinando-se a praticamente qualquer assunto, especialmente à lembrança de eventos memoráveis ou à exaltação de personalidades exemplares.

O que caracterizava o epigrama, e ainda o caracteriza, é a concisão: o epigrama contém poucos versos, o mais das vezes dispostos numa única estrofe.

O termo epigrama é derivado do grego epigramma (“inscrição, título”).

História do epigrama

Originalmente, o epigrama consistia numa inscrição gravada em lápides, estátuas, edifícios ou monumentos; daí o significado da palavra, em grego antigo, equivaler a “inscrição”, “título”.

Posteriormente, ainda na Grécia, o epigrama desenvolveu-se em gênero literário, cujos registros temos reunidos na célebre Antologia Palatina, compilada, segundo J. A. Cuddon, por volta do ano 925, e que consiste majoritariamente em epigramas.

A tradição não somente se preservou na literatura latina, mas evoluiu a partir dos dois autores que talvez sejam os maiores epigramatistas da literatura universal: Catulo e Marcial.

Como diz a The Princeton Encyclopedia of Poetry and Poetics, Catulo, ao empregar epigramas para descrever fatos da vida cotidiana e de relações pessoais, desvelou o potencial lírico deste tipo de composição.

Já Marcial, inspirando-se em Catulo, adicionou mordacidade ao gênero, hoje consagrado quase unanimemente à sátira.

A forte influência greco-latina fez com que muitos autores cultivassem os epigramas a partir do Renascimento, dentre os quais destacamos Góngora, Quevedo, Byron, George Bernard Shaw, Dryden e Jonathan Swift.

Aplicação do epigrama

O uso consagrou o epigrama à sátira e, portanto, o epigrama presta-se à exposição incisiva de pensamentos ou ditos mordazes.

Os epigramas são geralmente monostróficos, embora possam apresentar-se com mais de uma estrofe; a brevidade, contudo, é característica fundamental.

Em português, o metro preferido costuma ser o heptassílabo, rimas são normalmente utilizadas e, em razão do tom humorístico empregado, nota-se um uso acima da média dos chamados versos agudos nas composições.

Estes são empregados especialmente no fechamento das estrofes, em razão de seu efeito enfático que fortalece ainda mais o caráter incisivo dos epigramas.

Ad Curso de Poesia

Um dos poetas portugueses que mais escreveu epigramas foi Bocage, e a medicina era um de seus alvos preferidos, como podemos observar no epigrama seguinte:

Um homem rico, outro pobre
Grave moléstia prostrou.
Qual deles morreu? O rico,
Que mais remédios tomou.

Ou neste outro:

A morte era uma idiota
Antes de aforismos ter;
Mas depois que há medicina
Já sabe ler, e escrever.

Em duas estrofes:

“Ante mim não vales nada
(Disse a Morte à Medicina);
Eu de tudo quanto existe
Sou a fatal assassina.”

“Ui! (a mãe dos aforismos
Responde à Parca amarela)
Olha a tola! Eu sou o mesmo,
Mas com mais método que ela.”

Em três:

Um Filósofo enfermou;
Não tinha mal de perigo,
Mas sofreu a medicina
Por agradar a um amigo.

Consentiu que receitasse
Hipocrático impostor,
E logo para um criado
Disse, brando, e sem tremor:

“Não deixes lá na botica
Esse amargo fruto do erro;
Inda tem mais serventia:
Supre os escritores de enterro.”

Notamos, contudo, que quanto mais se alonga o epigrama, mais ele perde sua feição característica, isto é, sua incisividade.

Também notamos que, em geral, ao último verso do epigrama é de praxe reservado o cerne do dito ou pensamento, tal como ocorre com as chamadas “chaves de ouro” dos sonetos.

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Em razão do caráter mordaz dos epigramas, há quem chame este último verso, em vez de “chave de ouro”, de “ferro em brasa”.

Exemplos de epigrama

Abaixo daremos mais alguns exemplos de epigrama em português:

A um panfletário, de Alberto Ramos

Este epigrama utiliza versos decassílabos:

Os velhacos e os maus, juiz inclemente,
zurzes com a pena rábida e ferina…
Só não falas de ti — pois francamente
perdes o tema da melhor verrina.

O epigrama, de Fontoura Xavier

Este epigrama mescla diferentes metros numa sextilha:

O epigrama é uma centelha
Do espírito do Diabo,
Faísca como um pirilampo; e ao cabo
Se assemelha
A uma abelha,
Por ter ferrão no rabo!…

Estando enfermo um poeta, de Bocage

Este epigrama emprega redondilhas em duas quadras:

Estando enfermo um poeta
Foi visitá-lo um doutor,
E em rigorosa dieta
Logo, logo o mandou pôr.

“Regule-se, coma pouco”
Diz-lhe o médico eminente:
“Ai senhor! (acode o louco)
Por isso é que estou doente.”