Conheça o poema Consoada, de Manuel Bandeira, e confira nossa análise!
Consoada é um poema de Manuel Bandeira que está disponível em sua obra Opus 10 (1954).
O poema aborda um dos temas preferidos de Bandeira, a morte, e é bem característico do estilo em que o poeta gostava de se expressar.
Consoada alia simplicidade a uma profundidade implícita, quer dizer, os versos aparentemente simples encerram uma profunda reflexão sobre a vida.
Sendo assim, preparamos esse texto para que você conheça Consoada, de Manuel Bandeira. Em seguida, você poderá conferir nossa análise do poema.
Boa leitura!
Consoada, de Manuel Bandeira
Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
— Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.
Análise do poema
- Tipo de verso: livre
- Número de estrofes: 1 estrofe
- Número de versos: 10 versos
Consoada é um poema construído em versos livres, portanto, é um poema que não utiliza nem metrificação, nem rima.
O poema é de apresentação simples e, embora possua algumas palavras rebuscadas, une-as a um vocabulário e imagens do cotidiano, o que sugere uma leitura despretensiosa.
Estrutura do poema
Consoada possui 10 versos dispostos em uma única estrofe.
O poema utiliza versos livres, que não obedecem a nenhum padrão métrico ou rítmico específico.
Abre o poema a conjunção subordinativa temporal “quando”, e a ela segue-se uma reflexão sobre o que irá acontecer no dia em que tal situação se concretizar.
Sentido do poema
Resumidamente, Consoada é uma reflexão sobre a morte.
Embora seja simples a imagem evocada pelo poema, isto é, a imagem do eu lírico refletindo sobre o dia em que chegará a morte, há algumas metáforas e alguns vocábulos não usuais que conferem um caráter talvez abstruso ou enigmático para o poema.
Para compreender o sentido de Consoada, precisamos, portanto, esclarecer o sentido de algumas palavras, o que faremos abaixo:
- Consoada: é a ceia que acontece na noite de Natal ou na véspera de Ano-Novo;
- caroável: afável, gentil, afetuoso (a);
- iniludível: que não pode induzir em erro ou engano, evidente, inequívoco (a);
- sortilégio: feitiço, encantamento.
Vemos, pois, que o título do poema, “Consoada”, sugere uma ceia, um banquete, que naturalmente seria um banquete fictício preparado pelo eu lírico para o dia em que ocorresse a situação descrita no primeiro verso:
Quando a Indesejada das gentes chegar
“Indesejada das gentes” é metáfora para se referir à morte. Obviamente, “indesejada” porque normalmente as pessoas não desejam morrer.
Reflete então o eu lírico que, não sabendo se será a morte “dura ou caroável”, afável ou severa, não sabe ele se terá medo ou irá sorrir, quer dizer, não sabe ele se estará preparado para encará-la e aceitá-la.
Talvez sorria, ou diga:
— Alô, iniludível!
Aqui, evidentemente, o eu lírico utiliza bom humor para supor que talvez cumprimentaria a morte com um “alô”, isto é, como se fosse ela uma pessoa conhecida.
Então, ainda neste “talvez”, diz o eu lírico que permitiria que a noite descesse com seus “sortilégios”, ou seja, com seus mistérios e encantos.
“Descer a noite” é um eufemismo para suavizar um verso que poderia ser traduzido como: “Minha vida foi boa, pode me matar”.
A partir deste passo, o eu lírico finaliza o poema dizendo que a morte encontrará “lavrado o campo, a casa limpa, a mesa posta, com cada coisa em seu lugar”.
Consoada, assim, finaliza sugerindo que, quando chegar a morte, o eu lírico talvez experimentará a sensação de dever cumprido após uma vida dedicada e bem-sucedida que o preparou, enfim, para aceitá-la tranquilamente.
Portanto, Consoada é um poema que nos passa uma mensagem que idealiza um encontro pacífico com a morte, um encontro através de um banquete, sem tristezas nem arrependimentos.
Sobre Manuel Bandeira
Manuel Bandeira nasceu em Recife, em 19 de abril de 1886.
Além de poeta, foi professor, cronista, crítico literário e professor.
Aos dez anos, deixou Recife com destino ao Rio de Janeiro, onde, de 1897 a 1902, cursou o secundário no colégio hoje chamado Pedro II, bacharelando-se em letras.
Em 1903, matriculou-se na Escola Politécnica de São Paulo para fazer o curso de engenheiro-arquiteto, abandonando-o no ano seguinte por sofrer de tuberculose.
A doença levou-o a vários sanatórios e fê-lo mudar seguidamente de cidade. Entre 1913 a 1914, esteve recuperando-se em Clavadel, na Suíça.
Parecia a tuberculose sugerir que seria curta a vida do jovem poeta; mas, curiosamente, viveu ele até os 82 anos.
Retornando da Suíça ao Brasil, Manuel Bandeira iniciou sua produção literária em periódicos. Em 1917, publicou sua primeira obra, A cinza das horas, e dali em diante passaria os seus anos em intensa produção artística, dando luz a uma das mais ricas obras da poesia moderna brasileira.
Em 1940, foi eleito para a cadeira 24 da Academia Brasileira de Letras.
Em 13 de outubro de 1968, faleceu, célebre e amplamente considerado um dos maiores poetas da literatura brasileira.
Obras poéticas de Manuel Bandeira
- A cinza das horas (1917)
- Carnaval (1919)
- O ritmo dissoluto (1924)
- Libertinagem (1930)
- Estrela da manhã (1936)
- Lira dos cinquent’anos (1940)
- Belo belo (1948)
- Mafuá do Malungo (1948)
- Opus 10 (1954)
- Estrela da tarde (1960)
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema Consoada, de Manuel Bandeira.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver o que escrevemos sobre O navio negreiro, de Castro Alves.
Um abraço e até a próxima!