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Verso sáfico: o que é, características e exemplos

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Saiba o que é verso sáfico em poesia, conheça suas características e veja exemplos de sua aplicação!

O verso sáfico é um tipo de verso muito comum em composições portuguesas e aparece frequentemente combinado ao verso heroico.

Assim como o heroico, o verso sáfico foi introduzido em português por Sá de Miranda, no século XVI, por influência da poesia italiana.

A seguir, elucidaremos o que é verso sáfico na poesia, quais são suas características e daremos exemplos de sua aplicação.

Definição de verso sáfico

Em português, verso sáfico é o nome que se dá ao verso decassílabo que possui acentuação na 4ª e 8ª sílabas poéticas.

Como o decassílabo, por definição, pressupõe acentuação na 10ª sílaba, o verso sáfico caracteriza-se por acentuação obrigatória na 4ª, 8ª e 10ª sílabas, segundo o esquema acentual 4-8-10.

A denominação é derivada da poetisa grega Safo, que valeu-se com muito brilho de versos decassílabos (segundo nossa contagem), em quadras que hoje também são conhecidas como estrofes sáficas, que consistiam em três decassílabos (ainda segundo a nossa contagem) aliados a um verso curto final (em nossa contagem, seria algo como um pentassílabo agudo ou um tetrassílabo grave).

Em português, as chamadas odes sáficas são formadas por quartetos de três decassílabos e um tetrassílabo.

Características do verso sáfico

O verso sáfico, como está dito, caracteriza-se por apresentar acentuação obrigatória na 4ª e 8ª sílabas, segundo o esquema acentual 4-8-10.

Além da acentuação nestas sílabas, é comum vermos, em português, versos sáficos que apresentem acentuação ou na primeira, ou na segunda sílaba.

A maioria das vezes, encontramos versos sáficos misturados a versos heroicos, conforme a tradição italiana que, embora não se restrinja exclusivamente a estes dois esquemas acentuais, apresenta-os predominantes.

Abaixo daremos alguns exemplos de verso sáfico, com nosso destaque para as sílabas tônicas.

Esquema acentual 4-8-10:

Sonoridade potencial dos seres
(Augusto dos Anjos)

Desesperada solidão. Sozinho
(Mauro Mota)

A realidade esquálida estrangula
(Dante Milano)

Esquema acentual 1-4-8-10:

De África as terras e do Oriente os mares
(Camões)

Serras e serras de fervente água
(Bocage)

Lira quebrada, coração sem forças
(Gonçalves Dias)

Esquema acentual 2-4-8-10:

Amei outrora com amor bem santo
Os negros olhos da gentil donzela
(Casimiro de Abreu)

Sacode as asas, Levia do espaço
(Castro Alves)

Exemplos de verso sáfico

Abaixo daremos alguns exemplos de composições em que encontramos versos sáficos:

Acrobata da dor, de Cruz e Sousa

Nesta composição, o segundo, o quarto, o sexto, o oitavo, o décimo primeiro e o décimo segundo são versos sáficos:

Gargalha, ri, num riso de tormenta,
Como um palhaço, que desengonçado,
Nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
De uma ironia e de uma dor violenta.

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
Agita os guizos, e convulsionado
Salta, gavroche, salta clown, varado
Pelo estertor dessa agonia lenta…

Pedem-te bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
Nessas macabras piruetas d’aço…

E embora caias sobre o chão, fremente,
Afogado em teu sangue estuoso e quente
Ri! Coração, tristíssimo palhaço.

Vaso grego, de Alberto de Oliveira

Nesta composição, o décimo, décimo segundo e décimo quarto versos são sáficos:

Ad Curso de Poesia

Esta de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.

Era o poeta de Teos que a suspendia
Então, e, ora repleta ora esvasada,
A taça amiga aos dedos seus tinia,
Toda de roxas pétalas colmada.

Depois… Mas o lavor da taça admira,
Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas
Finas hás-de lhe ouvir, canora e doce,

Ignota voz, qual se da antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa voz de Anacreonte fosse.

A cavalgada, de Raimundo Correia

Nesta composição, apenas o primeiro e o último verso são sáficos:

A lua banha a solitária estrada…
Silêncio!… Mas além, confuso e brando,
O som longínquo vem se aproximando
Do galopar de estranha cavalgada.

São fidalgos que voltam da caçada;
Vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando.
E as trompas a soar vão agitando
O remanso da noite embalsamada…

E o bosque estala, move-se, estremece…
Da cavalgada o estrépito aumenta
Perde-se após no centro da montanha…

E o silêncio outra vez soturno desce…
E límpida, sem mácula, alvacenta
A lua a estrada solitária banha…