Avançar para o conteúdo

Poema Vaso grego, de Alberto de Oliveira (com análise)

curso fundamentos da criação poética curso como escrever um livro de poesia

Conheça o poema Vaso grego, de Alberto de Oliveira, e confira nossa análise!

Vaso grego é um poema escrito pelo poeta brasileiro Alberto de Oliveira, publicado em seu volume Sonetos e poemas (1885).

Talvez seja este, juntamente de Vaso chinês, os dois poemas mais utilizados por professores para exemplificar aquele movimento que ficou conhecido como Parnasianismo brasileiro.

Sendo assim, é um poema de importância histórica para a literatura brasileira; mas, além disso, é um poema cuja técnica se destaca e, sem dúvida, é digno de nosso olhar atento.

Dito isso, preparamos esse texto para que você conheça Vaso grego, de Alberto de Oliveira. Em seguida, você poderá conferir nossa análise.

Boa leitura!

Vaso grego, de Alberto de Oliveira

Esta de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.

Era o poeta de Teos que a suspendia
Então, e, ora repleta ora esvasada,
A taça amiga aos dedos seus tinia,
Toda de roxas pétalas colmada.

Depois… Mas o lavor da taça admira,
Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas
Finas hás-de lhe ouvir, canora e doce,

Ignota voz, qual se da antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa voz de Anacreonte fosse.

Análise do poema

Vaso grego é um soneto construído em decassílabos rimados, portanto, é um poema que se vale de metrificação e de rima.

Este soneto é interessante porque não se limita a descrever um objeto, mas estende-se na exaltação de um ideal estético, como veremos adiante.

Estrutura do poema

Vaso grego é um soneto, portanto, possui 14 versos divididos em quatro estrofes: duas quadras e dois tercetos.

Os versos são decassílabos, isto é, são versos que contêm, cada um deles, dez sílabas poéticas.

As quadras apresentam rimas que chamamos cruzadas, alternadas ou entrelaçadas, havendo uma inversão na sequência das rimas na segunda quadra, conforme o esquema abab baba.

Os tercetos se apresentam conforme o esquema cde cde.

Quanto ao ritmo, todos os versos possuem acentuação na sexta sílaba, conforme o padrão que conhecemos como decassílabo heroico; exceções feitas ao décimo, décimo segundo e décimo quarto versos, que são versos sáficos, ou seja, apresentam acentuação na quarta e oitava sílaba.

Sentido do poema

Vaso grego é um poema que descreve e exalta a beleza de um vaso grego que, por sua vez, é a representação do ideal estético clássico.

Se nos ativermos ao que diz literalmente o poema, veremos que, em suma, os versos descrevem um vaso cuja feição evoca a Grécia antiga, intimamente ligada à poesia.

Grande parte do brilho do poema, porém, deriva da maneira como o poeta evoca essa singularíssima tradição.

Vejamos, primeiro, que dizem os versos:

Esta de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.

Esta primeira estrofe pode, a muitos, parecer abstrusa e incompreensível: isto se deve à disposição dos termos nos versos.

Ad Curso de Poesia

Abordaremos, mais adiante, o porquê de o eu lírico fazê-lo; por ora, basta dizer que as palavras não se apresentam, nestes versos, na ordem costumeira, e isso pode prejudicar sua compreensão.

Se fossem dispostas na ordem direta, estes versos formariam algo como o seguinte período:

Esta brilhante copa de áureos relevos, trabalhada de divas mãos, um dia, vinda do Olimpo, já como cansada de servir aos deuses, servia a um novo deus.

Portanto, temos a descrição de uma copa (vaso) com relevos de ouro que, após servir aos deuses no Olimpo, pôs-se à disposição de um novo deus.

Que deus seria este? Vejamos:

Era o poeta de Teos que a suspendia
Então, e, ora repleta ora esvasada,
A taça amiga aos dedos seus tinia,
Toda de roxas pétalas colmada.

O “poeta de Teos” é, simplesmente, Anacreonte; um dos mais célebres poetas da Antiguidade.

Aqui temos, então, uma descrição de Anacreonte a utilizar a tal taça, taxada agora de “amiga” do poeta, sutileza que sugere uma conexão entre a poesia (representada por Anacreonte) e a estética clássica (representada pela taça).

Loading

Esta conexão, que ficará mais evidente daqui em diante, acabará por fazer com que a taça, simbolizando a tradição clássica, simbolize a própria poesia, tão artificiosamente o eu lírico trabalha a ligação entre elas.

Depois… Mas o lavor da taça admira,
Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas
Finas hás-de lhe ouvir, canora e doce,

Ignota voz, qual se da antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa voz de Anacreonte fosse.

Nestes tercetos, primeiramente, temos a descrição do delicado contato entre Anacreonte e a taça, o que reforça a ligação entre ambos.

Em seguida, o eu lírico compara a taça a um instrumento musical de som doce e canoro (melodioso), para logo depois associar este som ao da lira.

Aqui, já não há dúvida: o que busca o eu lírico é associar novamente a taça à poesia que, assim como a música, é melodiosa.

Portanto, Vaso grego é um poema que exalta a beleza da poesia, comparando-a à de um vaso grego adornado em ouro.

Sintaxe e estilo de Vaso grego

Ao contrário do que pode parecer, a sintaxe e o estilo de Vaso grego não representam simplesmente a excentricidade de Alberto de Oliveira e, por extensão, a do Parnasianismo brasileiro, como muitos já quiseram pintar.

Tanto a adjetivação (“áureos relevos”, “divas mãos”, “brilhante copa”, etc.) quanto a organização sintática dos termos nos versos, contribuem fortemente para evocar o estilo da poesia greco-romana.

O grego, assim como o latim, é uma língua que apresenta o que chamamos de flexão de caso, isto é, é uma língua cujas palavras apresentam terminações (desinências) que lhes apontam a função sintática na frase.

O resultado prático disso é que, no grego, assim como em outras línguas flexionais, há uma liberdade muito maior na disposição dos termos na frase, fazendo com que seus versos geralmente se apresentem com organizações como as da primeira estrofe de Vaso grego.

Replicá-lo em português não é tarefa simples; e Alberto de Oliveira, sem dúvida, fê-lo com sucesso nestes versos, que nos transmitem perfeitamente a ideia que o motivou a sentar-se à mesa e escrever.

Sobre Alberto de Oliveira

Alberto de Oliveira (Antônio Mariano Alberto de Oliveira) nasceu em Palmital de Saquarema (RJ), em 28 de abril de 1857.

Fez os estudos primários em escola pública na vila de N. S. de Nazaré de Saquarema. Mais tarde, cursou humanidades em Niterói.

Diplomou-se em Farmácia, em 1884, e cursou a Faculdade de Medicina até o terceiro ano, onde foi colega de Olavo Bilac, com quem estabeleceu ótimas relações.

Publicou seu primeiro livro de poesia, Canções Românticas, em 1878. Na época, trabalhava como colaborador em um diário carioca.

Em 1897, tornou-se membro-fundador da Academia Brasileira de Letras.

Foi eleito “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, em 1924, pela revista carioca Fon-Fon, em concurso realizado por intelectuais brasileiros.

Era um apaixonado bibliófilo, e chegou a possuir uma das bibliotecas mais valiosas de clássicos brasileiros e portugueses, que doou à Academia Brasileira de Letras.

É lembrado, sobretudo, por ter formado a célebre tríade parnasiana com Raimundo Correia e Olavo Bilac.

Faleceu em Niterói (RJ), em 19 de janeiro de 1937.

Obras poéticas de Alberto de Oliveira

  • Canções românticas (1878)
  • Meridionais (1884)
  • Sonetos e poemas (1885)
  • Versos e rimas (1895)
  • Poesias – 1ª série (1900)
  • Poesias – 2ª série (1906)
  • Poesias – 2 vols. (1912)
  • Poesias – 3ª série (1913)
  • Poesias – 4ª série (1928)
  • Poesias escolhidas (1933)
  • Póstumas (1944)

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema Vaso grego, de Alberto de Oliveira.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver nossa análise de O deus-verme, de Augusto dos Anjos.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Poema Vaso grego, de Alberto de Oliveira (com análise). [S.I.] 2023. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poema-vaso-grego-alberto-de-oliveira-poesia/. Acesso em: 14 mai. 2024.