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Poema A cavalgada, de Raimundo Correia (com análise)

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Conheça o poema A cavalgada, de Raimundo Correia, e confira nossa análise!

A cavalgada é um poema escrito pelo poeta brasileiro Raimundo Correia, publicado originalmente em Poesias (1898).

Este é um poema que, em poucas linhas, consegue descrever vivamente a beleza do cavalgar de fidalgos por uma estrada vazia, iluminada pela lua.

Dito isso, preparamos esse texto para que você conheça A cavalgada, de Raimundo Correia. Em seguida, você poderá conferir nossa análise do poema.

Boa leitura!

A cavalgada, de Raimundo Correia

A lua banha a solitária estrada…
Silêncio!… Mas além, confuso e brando,
O som longínquo vem se aproximando
Do galopar de estranha cavalgada.

São fidalgos que voltam da caçada;
Vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando.
E as trompas a soar vão agitando
O remanso da noite embalsamada…

E o bosque estala, move-se, estremece…
Da cavalgada o estrépito aumenta
Perde-se após no centro da montanha…

E o silêncio outra vez soturno desce…
E límpida, sem mácula, alvacenta
A lua a estrada solitária banha…

Análise do poema

A cavalgada é um soneto construído em decassílabos rimados, portanto, é um poema que se vale de metrificação e de rima.

Trata-se de um soneto clássico, que se enquadra no modelo que comumente chamamos soneto italiano ou soneto petrarquiano.

Estrutura do poema

A cavalgada é um soneto, portanto, possui 14 versos divididos em 4 estrofes, sendo elas duas quadras e dois tercetos.

Os versos são decassílabos, isto é, apresentam, cada um deles, dez sílabas poéticas.

As quadras apresentam rimas que chamamos enlaçadas, ou seja, rimam em parelha dois versos entre dois outros que também rimam, conforme o esquema abba.

Já os tercetos apresentam-se conforme o esquema cde cde.

Quanto ao ritmo, os versos apresentam de praxe acentuação na 6ª sílaba, em padrão que chamamos decassílabo heroico; exceção feita ao primeiro e último versos, que acentuam a 4ª e 8ª sílabas, conforme o padrão que chamamos verso sáfico.

Sentido do poema

A cavalgada é um poema que descreve o movimento de fidalgos que cavalgam à noite por uma estrada vazia.

Este poema é especialmente belo pela atmosfera romântica e misteriosa que evoca, muito em razão da própria cena descrita.

Assim é a primeira estrofe:

A lua banha a solitária estrada…
Silêncio!… Mas além, confuso e brando,
O som longínquo vem se aproximando
Do galopar de estranha cavalgada.

Esta quadra descreve, em suma, uma estrada vazia, banhada pelo luar, na calmaria da noite.

Há nela, porém, um elemento implícito, que é o próprio narrador do poema, isto é, o observador da cena que se passa.

Vamos que um “som longínquo vem se aproximando”, e entendemos que tal som se aproxima do ponto de observação da cena, que é aquele no qual o narrador nos coloca e que, também, está.

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Destacamos nesta estrofe, também, a já anunciada atmosfera romântica e misteriosa, evocada pela lua, pelo silêncio, pela noite e por este galopar “estranho”, que nos gera um suspense e uma inquietação.

São fidalgos que voltam da caçada;
Vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando.
E as trompas a soar vão agitando
O remanso da noite embalsamada…

Descobrimos que os galopes são provenientes de fidalgos que voltam de uma caçada, e nossa inquietação dilui-se ao notar que vêm eles alegres, rindo e cantando.

Aqui, vemos que a placidez da noite é “agitada” pelo rumor destes cavaleiros que, aparentemente, vão tendo uma boa noite.

Notamos também que o serem fidalgos a cavalgar confere um quê de nobreza, imponência e pompa à cena que se passa.

Por fim, os tercetos:

E o bosque estala, move-se, estremece…
Da cavalgada o estrépito aumenta
Perde-se após no centro da montanha…

E o silêncio outra vez soturno desce…
E límpida, sem mácula, alvacenta
A lua a estrada solitária banha…

Temos, nestes versos, uma acentuação do estrépito gerado pelos homens, que se perde enfim “no centro da montanha”, retornando a cena à placidez e ao silêncio inicial.

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Tal sugere-nos o movimento dos fidalgos aproximando-se e distanciando-se do observador, até que desaparecem na escuridão.

Toda essa cena excita a nossa curiosidade por inúmeros motivos: ficamos, sem dúvida, querendo saber um pouco mais destes fidalgos; mas o que talvez mais nos encante é o próprio surgimento e desaparecimento dos homens, ambos tão naturais, mas tão singulares e fascinantes.

A cavalgada, portanto, é um poema que extrai beleza da simplicidade de uma cena aparentemente banal.

Sobre Raimundo Correia

Raimundo Correia nasceu em 13 de maio de 1859, a bordo do navio São Luiz, ancorado em águas maranhenses.

Fez os estudos secundários no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Em seguida, ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.

Em 1879, publicou sua primeira obra, Primeiros sonhos, o que lhe valeu algum reconhecimento literário.

Formou-se advogado em 1882, em seguida retornando ao Rio de Janeiro, onde exerceu uma bem-sucedida carreira jurídica.

Seu segundo livro, Sinfonias, foi publicado em 1883, com direito a prefácio de Machado de Assis.

Esta obra continha alguns de seus poemas que ficaram mais conhecidos, como Mal secreto e, mais especificamente, As pombas, valendo-lhe este último poema o apelido de “poeta das pombas”.

Após assumir o Parnasianismo, integrou, junto a Alberto de Oliveira e Olavo Bilac, a famosa Tríade Parnasiana.

Além de poeta, atuou como magistrado, professor e diplomata.

Faleceu em Paris no dia 13 de setembro de 1911.

Obras poéticas de Raimundo Correia

  • Primeiros sonhos (1879)
  • Sinfonias (1883)
  • Versos e versões (1887)
  • Aleluias (1891)
  • Poesias (1898)

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema A cavalgada, de Raimundo Correia.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa seleção de poemas de Cruz e Sousa.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Poema A cavalgada, de Raimundo Correia (com análise). [S.I.] 2023. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poema-a-cavalgada-raimundo-correia-poesia/. Acesso em: 14 mai. 2024.