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Vilanela: o que é, características e exemplos

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Saiba o que é vilanela em poesia, conheça suas características e veja exemplos de sua aplicação!

A vilanela é um tipo de composição poética de sonoridade muito destacada, e se caracteriza por ser construída sobre duas rimas e dois refrões.

Em português, são raros os exemplos de vilanela; mas nesta forma poética temos alguns dos mais belos e conhecidos poemas da literatura mundial.

A seguir, elucidaremos o que é vilanela em poesia, quais são suas características e daremos exemplos de sua aplicação.

Definição de vilanela

A vilanela é uma composição poética de forma fixa tradicionalmente composta de 19 versos, divididos em 5 tercetos e 1 quadra.

Constrói-se a vilanela sobre duas rimas, que variam conforme o esquema rímico A1bA2 abA1 abA2 abA1 abA2 abA1A2, sendo A1 e A2 refrões que se repetem fechando alternadamente as estrofes do poema.

Tal estrutura foi comparada pelo poeta francês Théodore de Banville a “uma trança de fios de prata e ouro, cruzados com um terceiro fio da cor de uma rosa”.

O termo vilanela é derivado do italiano villanella, que poderia ser traduzido como “composição rústica” ou “composição camponesa” (em italiano, villano equivale a camponês).

A vilanela, pois, é uma composição de caráter marcadamente popular e, apesar da sua denominação derivar-se do italiano, é na França que teve sua forma fixada e na Inglaterra que seu uso se expandiu, como veremos a seguir.

Algumas vilanelas apresentam uma série maior de tercetos, respeitando porém a construção sobre duas rimas e a alternância de refrões em sua terminação.

História da vilanela

Até o século XVIII, referia-se de praxe à vilanela como uma composição de cunho popular destinada ao canto, caracterizada apenas pela repetição de refrões.

Poetas franceses como Philippe Desportes (1546-1606) e Joachim du Bellay (1522-1560) escreveram consistentemente poemas com o espírito da vilanela, variando porém o esquema rímico e o número de refrões.

Neste tempo, mais associava-se a vilanela a uma composição musical que a uma composição propriamente poética de forma fixa.

A primeira aplicação conhecida da vilanela na forma pela qual a conhecemos hoje, com cinco tercetos e uma quadra, deu-se no poema Villanelle (J’ay perdu ma Tourterelle), do poeta francês Jean Passerat, publicado em 1606.

Daí que a vilanela, apesar do nome italiano, é considerada uma composição de origem francesa, posto que foi nesta língua que sua forma se fixou.

Somente no século XVIII, porém, a vilanela começou a adquirir o sentido de forma poética fixa, que foi consolidado no século XIX com a sua vasta utilização na literatura inglesa por poetas como Oscar Wilde, Andrew Lang e John Payne.

Aplicação da vilanela

A vilanela, em razão de seu cunho popular, naturalmente emprega-se em composições do gênero lírico.

O maior número de vilanelas que dispomos é proveniente da literatura inglesa, onde variados poetas passaram a empregá-la com muito brilho a partir do final do século XIX.

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A vilanela pode ser construída em variados metros, sendo contudo os mais frequentes o decassílabo, o octossílabo e o heptassílabo.

É nesta forma poética que está construído o famosíssimo poema Do not go gentle into that good night, de Dylan Thomas, que apresenta o seguinte terceto inicial:

Do not go gentle into that good night,
Old age should burn and rave at close of day;
Rage, rage against the dying of the light.

Em português, uma das maiores barreiras para a aplicação da vilanela reside no fato de que esta composição exige muitas palavras com a mesma terminação.

Visto que o português apresenta a maioria de suas terminações mais frequentes fortemente associadas a alguma classe gramatical, a necessidade de muitas rimas inclina o poeta à utilização de rimas pobres.

Isso, somado aos refrões que se repetem, faz com que a vilanela portuguesa tenda para a monotonia, caso o poeta não se esforce criativamente em sua composição.

Contudo, vilanelas bem construídas como a que daremos de exemplo a seguir são de leitura deliciosa, seja em português como em outras línguas.

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Exemplo de aplicação da vilanela

Abaixo daremos um exemplo de aplicação da vilanela em português.

Repare como criativamente Manuel Bandeira alterna adjetivos, substantivos e verbos nas rimas, evitando que o poema caia em monotonia.

Nesta vilanela, Bandeira adiciona duas estrofes ao modelo tradicional, mantendo, contudo, a fórmula de alternância entre os versos finais dos tercetos.

Chama e fumo, de Manuel Bandeira

Amor – chama, e, depois, fumaça…
Medita no que vais fazer:
O fumo vem, a chama passa…

Gozo cruel, ventura escassa,
Dono do meu e do teu ser,
Amor – chama, e, depois, fumaça…

Tanto ele queima! e, por desgraça,
Queimado o que melhor houver,
O fumo vem, a chama passa…

Paixão puríssima ou devassa,
Triste ou feliz, pena ou prazer,
Amor – chama, e, depois, fumaça…

A cada par que a aurora enlaça,
Como é pungente o entardecer!
O fumo vem, a chama passa…

Antes, todo ele é gosto e graça.
Amor, fogueira linda a arder!
Amor – chama, e, depois, fumaça…

Porquanto, mal se satisfaça
(Como te poderei dizer?…),
O fumo vem, a chama passa…

A chama queima. O fumo embaça.
Tão triste que é! Mas… tem de ser…
Amor?… – chama, e, depois, fumaça:
O fumo vem, a chama passa…

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Vilanela: o que é, características e exemplos. [S.I.] 2024. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/vilanela-o-que-e-caracteristicas-exemplos/. Acesso em: 2 mai. 2024.