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Poema Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles (com análise)

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Conheça o poema Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles, e confira nossa análise!

Ou isto ou aquilo é outro dos poemas de maior sucesso da grande poetisa brasileira Cecília Meireles.

Assim como A bailarina, que já abordamos anteriormente, é este um poema destinado ao público infantil, foco de grande atenção de Cecília.

Aliás, A bailarina, assim como Ou isto ou aquilo, foram publicados pela primeira vez conjuntamente num mesmo volume, que levou o nome deste último poema.

A obra, somando-se a outras iniciativas de Cecília em prol da educação infantil, como a fundação da primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro, contribuiu para colocá-la, sem dúvida, como uma das pioneiras e mais importantes figuras da educação brasileira.

Dito isso, preparamos esse texto para que você conheça o poema Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles. Em seguida, você poderá conferir nossa análise.

Boa leitura!

Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles

Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

Análise do poema

  • Tipo de verso: livre
  • Número e tipo de estrofes: 8 estrofes regulares (dísticos)
  • Número de versos: 16 versos

Ou isto ou aquilo é um poema construído em versos livres. Este tipo de verso é característico por não utilizar nem metrificação nem rima; porém, embora não metrifique, Cecília Meireles faz um interessante emprego desta última neste poema.

Assim como em A bailarina, a ausência de métrica nestes versos parece sugerir uma leitura despretensiosa, leve e informal.

As rimas, embora não estejam presentes em todos os versos, conferem uma espécie de graça ao poema, que o torna cativante e é reforçada pela repetição de algumas palavras e pela ideia central que o permeia.

Cecília Meireles e a educação infantil

Antes de analisarmos o poema, cabe fazermos uma nota importante sobre a visão de Cecília Meireles a respeito da educação infantil, que muito nos ajudará a entender seu objetivo em poemas como Ou isto ou aquilo.

Para ela, havia um grande problema na maneira como se ensinava literatura às crianças, e este problema resumia-se em “didatizar” textos (para utilizar o mesmo termo de Cecília) e ensiná-los como se fossem literatura.

Fazendo isso, embora parecesse que a “didatização” (ou simplificação) dos textos facilitava-lhes a compreensão por parte das crianças, ficavam estas desprovidas de senso estético, não desenvolvendo a habilidade de apreciação de um texto, e muito menos a de construir algo esteticamente belo.

Assim, para Cecília, não era suficiente limitar-se a ensinar as crianças a ler, ensiná-las o bê-á-bá; mas sim desenvolver nelas uma verdadeira paixão pela leitura.

E, para isso, nada melhor que ensiná-las através de textos esteticamente bonitos, cheios de lirismo e, principalmente, através de textos que estimulassem nelas a imaginação.

Estrutura do poema

Ou isto ou aquilo é composto de 8 estrofes regulares, contendo 2 versos em cada uma delas (dístico), totalizando 16 versos.

O poema não é metrificado e rima somente os versos que fecham as estrofes, ou seja, vale-se de rimas alternadamente, verso sim, verso não.

A sonoridade de Ou isto ou aquilo está em grande parte vinculada à espécie de jogo de palavras que faz Cecília nos versos que abrem o poema: até a terceira estrofe, cada um dos versos que inicia uma estrofe é composto das mesmas palavras que o verso seguinte contém, o que gera um efeito eufonicamente divertido e interessante.

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Assim, o poema é estruturado em proposições alternadas que representam, a cada estrofe, o que o título sugere: “ou isto ou aquilo”.

Sentido do poema

Ou isto ou aquilo é um poema que fala sobre escolhas e a necessidade de escolher.

Concebido com um fim didático, ele ensina que às vezes, na vida, é preciso escolher entre uma e outra coisa, pois não se pode ter tudo ao mesmo tempo.

O poema repete em cada estrofe a ideia central que já é exposta no título, como que andando em círculos, dando voltas à medida que os versos correm e apresentam novos exemplos que corroboram à mensagem que está a ser expressa.

Tais exemplos, embora simples, são correntes no dia a dia das crianças (o público-alvo do poema) e lhes evocam imagens ao mesmo tempo em que lhes estimulam o raciocínio.

A partir da quarta estrofe, o poema perde a impessoalidade do sujeito e o eu lírico constrói os versos com verbos em primeira pessoa:

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Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Tal mudança parece tencionar atribuir ao poema um caráter mais íntimo, após os versos anteriores terem cumprido a missão de passar a ideia central do poema.

Percebemos, também, que ao contrapor o “dinheiro” ao “doce” e o “brincar” ao “estudar”, quer o eu lírico aproximar-se um pouco mais da realidade das crianças.

Após expressar “ou isto ou aquilo” de diversas maneiras, em exemplos muito ilustrativos, o poema é finalizado com os seguintes versos:

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

Tais versos parecem dizer que, ainda que pensemos muito sobre as opções que possuímos, restará em nós alguma dúvida, posto que há na vida coisas muito boas e que não gostaríamos de abrir mão (embora tenhamos de escolher).

Portanto, Ou isto ou aquilo termina com o eu lírico expressando a ideia de indecisão, tão comum em crianças, e parecendo querer mostrar-lhes que é ela algo perfeitamente normal.

Publicação de Ou isto ou aquilo

O poema Ou isto ou aquilo foi publicado pela primeira vez em 1964, em obra que levou este mesmo nome.

Tal obra é composta por 56 poemas que aliam o lúdico ao instrutivo, e são destinados ao público infantil.

Os poemas de Ou isto ou aquilo são curtos e buscam incitar a imaginação e a sensibilidade das crianças, valendo-se de uma linguagem simples, melódica e cheia de imagens.

A temática quase sempre envolve jogos, brincadeiras, dilemas infantis ou o relacionamento entre as crianças; e o uso de rimas e repetições é explorado a fim de facilitar a memorização dos versos e reforçar o tom que os permeia.

Hoje, décadas após sua publicação inicial, Ou isto ou aquilo é um clássico da literatura infanto-juvenil brasileira.

Sobre Cecília Meireles

Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu no Rio de Janeiro, em 7 de novembro de 1901 e morreu, na mesma cidade, em 9 de novembro de 1964.

Nascida órfã de pai, perdeu a mãe aos três anos e, por isso, foi criada por sua avó portuguesa, Dona Jacinta, natural da ilha dos Açores.

Desde pequena, Cecília recebeu educação religiosa e demonstrou grande interesse pela literatura. Tornou-se professora muito cedo, quando já compunha poemas.

O interesse de Cecília Meireles pela educação fê-la fundar a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro, em 1934.

Aos 21 anos, casou-se com o pintor português Fernando Correia Dias, que veio a suicidar-se em 1936.

Cinco anos após este evento dramático, Cecília casa-se novamente, desta vez com o engenheiro agrônomo Heitor Vinícius de Silveira Grilo.

Em 1939, Cecília publica Viagem, livro que rapidamente encantou leitores e acadêmicos, dando-lhe grande reconhecimento e o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras.

No dia 9 de novembro de 1964, com 63 anos, Cecília faleceu, vítima de câncer, no Rio de Janeiro.

Obras de Cecília Meireles

  • Espectros (1919)
  • Criança, meu amor (1923)
  • Nunca mais (1923)
  • Poema dos poemas (1923)
  • Baladas para el-rei (1925)
  • O espírito vitorioso (1929)
  • Saudação à menina de Portugal (1930)
  • Batuque, samba e macumba (1933)
  • A festa das letras (1937)
  • Viagem (1939)
  • Olhinhos de gato (1940)
  • Vaga música (1942)
  • Mar absoluto (1945)
  • Rute e Alberto (1945)
  • Rui: pequena história de uma grande vida (1948)
  • Retrato natural (1949)
  • Problemas de literatura infantil (1950)
  • Amor em Leonoreta (1952)
  • Doze noturnos da Holanda e O aeronauta (1952)
  • Romanceiro da Inconfidência (1953)
  • Poemas escritos na Índia (1953)
  • Pequeno oratório de Santa Clara (1955)
  • Pistoia, cemitério militar brasileiro (1955)
  • Panorama folclórico de Açores (1955)
  • Canções (1956)
  • Giroflê, giroflá (1956).
  • Romance de Santa Cecília (1957).
  • A rosa (1957).
  • Metal rosicler (1960)
  • Poemas de Israel (1963)
  • Solombra (1963)
  • Ou isto ou aquilo (1964)
  • Escolha o seu sonho (1964)
  • Crônica trovada da cidade de Sam Sebastiam (1965)
  • O menino atrasado (1966)
  • Poemas italianos (1968)
  • Flor de poemas (1972)
  • Elegias (1974)
  • Flores e canções (1979)

Bônus: interpretação de Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa análise do poema Ismália, de Alphonsus de Guimaraens.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Poema Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles (com análise). [S.I.] 2022. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poema-ou-isto-ou-aquilo-de-cecilia-meireles/. Acesso em: 25 out. 2024.