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Poema As sem-razões do amor, de Carlos Drummond de Andrade (com análise)

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Conheça o poema As sem-razões do amor, de Carlos Drummond de Andrade, e confira nossa análise!

As sem-razões do amor é um poema escrito pelo poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade que está disponível em seu livro Corpo (1984).

Esta é uma das composições mais conhecidas de Drummond a respeito deste tema tão celebrado: o amor.

Sendo assim, preparamos esse artigo para que você conheça o poema As sem-razões do amor, de Carlos Drummond de Andrade. Em seguida, você poderá conferir nossa análise.

Boa leitura!

As sem-razões do amor, de Carlos Drummond de Andrade

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Análise do poema

  • Tipo de verso: heptassílabo (redondilha maior)
  • Número de e tipo de estrofes: 4 estrofes irregulares
  • Número de versos: 21 versos

As sem-razões do amor é um poema construído em heptassílabos, portanto, é um poema que utiliza metrificação.

O poema se resume numa reflexão do eu lírico a respeito do amor.

Estrutura do poema

As sem-razões do amor possui 21 versos dispostos em quatro estrofes irregulares.

O poema é escrito em heptassílabos, portanto, cada verso contém sete sílabas poéticas. Este metro é também chamado em português de redondilha maior.

É importante dizer que, optando por analisar estes versos como metrificados, teremos de admitir alguns versos frouxos.

Porém, cremos que assim devemos fazê-lo, pois é este o metro que predomina no poema.

Quanto às rimas, o poema as não utiliza, consistindo seus versos, portanto, em versos brancos.

Sentido do poema

As sem-razões do amor é um poema lírico em que o sujeito poético faz uma reflexão sobre o amor.

Já no título, podemos ver uma ironia expressa através dos homônimos “cem” e “sem”.

Quer dizer: quando ouvimos “As sem-razões do amor”, somos inclinados a pensar, primeiramente, que o poema elencará “cem” razões pelas quais o amor é justificado.

Porém, reparamos que está escrito “sem”, e não “cem”, o que nos sugere que o amor possui um caráter irracional.

Assim começa o poema:

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Percebemos, já nesta estrofe, a ideia que atravessará o poema.

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“Eu te amo porque te amo”, repete o eu lírico, em recurso estilístico que chamamos encadeamento, querendo nos dizer que não é necessário dar justificativa alguma para o ato de amar, que se basta por si só.

“Com amor não se paga”, portanto, o amor verdadeiro não pede nada em troca, a despeito do que diz o ditado popular “amor com amor se paga”.

Nas estrofes seguintes, o sujeito poético aprofunda-se no caráter abrangente (“semeado no vento”), indefinível (“foge a dicionários”), abnegado (“dado de graça”) e autossuficiente (“feliz e forte em si mesmo”) do amor.

O poema é encerrado com os seguintes versos:

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Estes versos expressam o caráter paradoxal do amor, já explicitado no título do poema.

Aqui, porém, o eu lírico dá justificativas diferentes, que são suscetíveis a muitas interpretações.

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O amor “é primo da morte”, portanto, podemos inferir que o amor também mata.

O amor “é da morte vencedor”, portanto, o amor possui algo de indestrutível, de eterno.

Contudo, diz o sujeito poético que “o matam”, o que parece nos dizer que pode o amor durar para sempre ou acabar num instante.

Assim, As sem-razões do amor é um poema que discorre sobre o caráter contraditório e inexplicável do amor.

Sobre Carlos Drummond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira, Minas Gerais, em 31 de outubro de 1902.

Filho de proprietários rurais, ele passou a primeira infância no interior desta cidade, estudando no Grupo Escolar Dr. Carvalho Brito.

Em 1916, foi a Belo Horizonte iniciar seus estudos no internato e colégio Arnaldo.

Em 1918, mudou-se para Nova Friburgo (RJ) para estudar no colégio Anchieta. Ali permaneceu por um ano, acabando expulso por “insubordinação mental”, após ter um atrito com seu professor de português.

Em 1923, iniciou o curso de Farmácia na Escola de Odontologia e Farmácia de Belo Horizonte, concluindo-o em 1925. Neste mesmo ano, foi um dos fundadores do periódico modernista A Revista.

Em 1926, embora formado farmacêutico, foi a Itabira para trabalhar como professor de geografia e português, voltando a Belo Horizonte no mesmo ano, para ser redator no Diário de Minas.

Em 1930, Drummond, de forma independente, publicou seu primeiro livro, Alguma poesia. O reconhecimento literário só viria, porém, em 1942, com a publicação de Poesias.

Drummond exerceu em vida alguns cargos públicos e atuou, a princípio, como auxiliar de gabinete da Secretaria do Interior. Depois assumiu a chefia do gabinete do Ministério da Educação. Entre 1945 e 1962 atuou como funcionário da Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DPHAN), onde se aposentou como chefe de seção.

O poeta casou-se uma e foi pai duas vezes, falecendo no Rio de Janeiro, em 1987, apenas doze dias após à morte de sua filha.

Obras de Carlos Drummond de Andrade

Poesia

  • Alguma poesia (1930)
  • Brejo das almas (1934)
  • Sentimento do mundo (1940)
  • Poesias (1942)
  • A rosa do povo (1945)
  • Novos poemas (1948)
  • Claro enigma (1951)
  • Viola de bolso (1952)
  • Fazendeiro do ar (1954)
  • A vida passada a limpo (1955)
  • Lição de coisas (1962)
  • Versiprosa (1967)
  • Boitempo (1968)
  • A falta que ama (1968)
  • Nudez (1968)
  • As impurezas do branco (1973)
  • Menino antigo (1973)
  • A visita (1977)
  • Discurso de primavera e algumas sombras (1977)
  • O marginal Clorindo Gato (1978)
  • Esquecer para lembrar (1979)
  • A paixão medida (1980)
  • Caso do vestido (1983)
  • Corpo (1984)
  • Eu, etiqueta (1984)
  • Amar se aprende amando (1985)
  • Poesia errante (1988)
  • O amor natural (1992)
  • Farewell (1996)

Prosa

  • Confissões de Minas (1944)
  • Contos de aprendiz (1951)
  • Passeios na ilha (1952)
  • Fala, amendoeira (1957)
  • A bolsa & a vida (1962)
  • A minha vida (1964)
  • Cadeira de balanço (1966)
  • Caminhos de João Brandão (1970)
  • O poder ultrajovem e mais 79 textos em prosa e verso (1972)
  • De notícias & não notícias faz-se a crônica (1974)
  • 70 historinhas (1978)
  • Contos plausíveis (1981)
  • Boca de luar (1984)
  • O observador no escritório (1985)
  • Tempo vida poesia (1986)
  • Moça deitada na grama (1987)
  • O avesso das coisas (1988)
  • Autorretrato e outras crônicas (1989)

Bônus: versão musical de As sem-razões do amor, de Carlos Drummond de Andrade

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema As sem-razões do amor, de Carlos Drummond de Andrade

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de conferir o que escrevemos sobre A Procura, de Cora Coralina.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Poema As sem-razões do amor, de Carlos Drummond de Andrade (com análise). [S.I.] 2023. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/as-sem-razoes-do-amor-carlos-drummond-andrade/. Acesso em: 14 mai. 2024.