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Poema Soneto do amor total, de Vinícius de Moraes (com análise)

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Conheça o poema Soneto do amor total, de Vinícius de Moraes, e confira nossa análise!

Soneto do amor total é um poema escrito pelo poeta brasileiro Vinícius de Moraes que está disponível em sua Antologia poética (1954).

O poema é datado de 1951 e é uma das composições mais conhecidas do autor, contando hoje com inúmeras adaptações, especialmente para a música.

Dito isso, preparamos esse texto para que você conheça o poema Soneto do amor total, de Vinícius de Moraes. Em seguida, você poderá conferir nossa análise.

Boa leitura!

Soneto do amor total, de Vinícius de Moraes

Amo-te tanto, meu amor… não cante
O humano coração com mais verdade…
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Análise do poema

  • Tipo de verso: decassílabo rimado
  • Número e tipo de estrofes: 4 estrofes: 2 quadras e 2 tercetos (soneto)
  • Número de versos: 14 versos

Soneto do amor total é construído em decassílabos rimados; portanto, é um poema que utiliza metrificação e rima.

Trata-se de um poema lírico que, como o título sugere, resume uma declaração extremada de amor.

Estrutura do poema

Soneto do amor total é, naturalmente, um soneto, portanto possui 14 versos divididos em 4 estrofes, sendo elas duas quadras e dois tercetos.

A primeira quadra (ou quarteto) apresenta rimas que chamamos cruzadas, alternadas ou entrelaçadas, ou seja, são rimas que se alternam, conforme o esquema abab.

Já na segunda quadra, há uma inversão na disposição das rimas, e as encontramos enlaçadas, isto é, com dois versos rimando em parelha entre dois outros que também rimam, conforme o esquema abba.

Os tercetos apresentam rimas alternadas, conforme o esquema cdc dcd.

Quanto ao ritmo, todos os versos apresentam acentuação na sexta sílaba, conforme o padrão que chamamos decassílabo heroico.

Notamos ainda que, no último verso do primeiro terceto, há uma contração implícita em “Com um…”, que deve ser lido em apenas uma sílaba (“Co’um”) para que o poema se encaixe na métrica. Há poetas que às vezes não explicitam esta contração, embora o fazê-lo seja a prática mais comum.

Sentido do poema

Soneto do amor total é um poema lírico que resume uma declaração de amor extremada.

São versos, em suma, que expressam a enorme intensidade do amor experimentado pelo eu lírico, e sua beleza é realçada pelos artifícios estilísticos presentes no poema, especialmente pelas aliterações.

Assim começa o poema:

Amo-te tanto, meu amor… não cante
O humano coração com mais verdade…
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade

O que primeiro percebemos nesta estrofe é ela ser aberta com uma declaração de amor: “Amo-te tanto, meu amor…”. As reticências, aqui, sugerem um estado pensativo, como se o eu lírico estivesse buscando palavras para expressar a intensidade daquilo que sente.

Em seguida, o eu lírico afirma estar sendo inteiramente sincero naquilo que diz, como a garantir que não exagera.

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No terceiro verso, ele acrescenta que ama “como amigo e como amante”.

Aqui, descobrimos que se trata de um eu lírico do sexo masculino (“amigo”). “Como amigo e como amante” dá a entender que o amor experimentado envolve uma conexão tanto física como emocional, que não se resume a um prazer carnal, mas engloba também o carinhoso sentimento de companheirismo característico da amizade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Nesta quadra, como já mencionamos anteriormente, o poeta faz uma inversão na ordem das rimas que nos causa surpresa.

Além disso, temos de destacar aqui o uso de aliterações, repetições de palavras e rimas interiores que acentuam sobremaneira a musicalidade do poema.

Neste trecho também fica realçado o sentido do “amor total” exposto no título do poema: dizendo que ama “com grande liberdade dentro da eternidade e a cada instante”, quer o eu lírico sugerir um amor atemporal, que transcende as barreiras do tempo.

Finalmente, vêm os tercetos:

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Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Notamos, primeiramente, que os tercetos, tradicionalmente utilizados como conclusão à ideia exposta nas quadras, é aberto também com “Amo-te”, verbo que é repetido pela sexta vez no poema.

Esta repetição insistente tem o efeito de intensificar o sentimento expresso, que agora é retratado como o amor de “um bicho”, “sem mistério e sem virtude”, que se materializa num “desejo maciço e permanente”.

Com isso, quer o eu lírico destacar o caráter instintivo de seu amor, caráter natural e puro, incoercível, simples e desprovido de intelectualização: um amor que simplesmente existe e é inabalável (“maciço e permanente”).

No último terceto, o poema é encerrado com a afirmação de que o eu lírico há de morrer no corpo da amada, por tê-la amado mais do que pôde, ou seja, acima da medida suportável, de forma que o eu lírico, assim, seria consumido pelo próprio amor que sente, num momento de êxtase.

Soneto do amor total, portanto, é um poema em que o eu lírico expressa a intensidade de um amor absoluto e fatal, explorando as diversas manifestações desse sentimento em seu ser.

Inspiração de Soneto do amor total

Soneto do amor total foi escrito em 1951, ano em que Vinícius de Moraes se apaixonou por Lila Bôscoli, com quem viria a se casar.

Esta relação durou quase sete anos (até 1957) e rendeu ao poeta duas filhas.

Lila, portanto, é tida como a verdadeira inspiração de Soneto do amor total, expressão de uma paixão sem limites, e expressão também de um poeta que, após algum tempo artisticamente estéril, retorna com avidez à sua arte.

Sobre Vinícius de Moraes

Vinícius de Moraes nasceu no Rio de Janeiro em 19 de outubro de 1913, filho de um pai funcionário público e poeta, e de uma mãe poetisa.

Apelidado carinhosamente de “poetinha”, Vinícius de Moraes teve atuação destacada, além de como poeta, como compositor, dramaturgo e diplomata.

Na música, esteve ele ao lado de figuras importantíssimas, podendo ser considerado, junto a Tom Jobim e João Gilberto, o epicentro do movimento que ficou mundialmente conhecido como bossa nova.

Sua canção Chega de saudade, que contou com arranjos de Tom Jobim, é considerada um marco na música popular brasileira que, regravada na voz de inúmeros artistas, foi considerada pela revista americana Rolling Stone a sexta melhor canção brasileira de todos os tempos.

No teatro, Vinícius de Moraes destacou-se com a peça Orfeu da Conceição (1956), e sua poesia costuma ser enquadrada na segunda fase do modernismo brasileiro, apresentando de forma acentuada temáticas lírico-amorosas, como vemos no Soneto de fidelidade.

Além de reconhecido nacionalmente por sua obra artística, Vinícius de Moraes ficou também famoso por sua vida pessoal bastante agitada: o “poetinha”, tido como um grande conquistador, casou-se nove vezes e deixou cinco filhos, vindo a falecer em 9 de julho de 1980.

Obras poéticas de Vinícius de Moraes

  • O caminho para a distância (1933)
  • Forma e exegese (1935)
  • Ariana, a mulher (1936)
  • Novos poemas (1938)
  • Cinco elegias (1943)
  • Poemas, sonetos e baladas (1946)
  • Pátria minha (1949)
  • Antologia poética (1954)
  • Livro de sonetos (1957)
  • Novos poemas II (1959)
  • O mergulhador (1968)
  • A arca de Noé (1970)
  • Poemas esparsos (2008)

Bônus: versão musical de Soneto do amor total, de Vinícius de Moraes, por Toquinho e Camilla Faustino

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema Soneto do amor total, de Vinícius de Moraes.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver o que escrevemos sobre O livro e a América, de Castro Alves.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Poema Soneto do amor total, de Vinícius de Moraes (com análise). [S.I.] 2023. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poema-soneto-do-amor-total-vinicius-de-moraes/. Acesso em: 14 mai. 2024.