Conheça o poema A lua no cinema, de Paulo Leminski, e confira nossa análise!
A lua no cinema é um poema escrito pela poeta brasileiro Paulo Leminski, disponível em seu livro Distraído venceremos (1987).
O poema é uma abordagem criativa que expõe uma fictícia ida da “lua” ao cinema e seu contato com a história de uma estrela solitária; o poeta, pois, versa sobre a solidão.
Dito isso, preparamos esse texto para que você conheça o poema A lua no cinema, de Paulo Leminski. Em seguida, você poderá conferir nossa análise.
Boa leitura!
A lua no cinema, de Paulo Leminski
A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.A lua ficou tão triste
com aquela história de amor,
que até hoje a lua insiste:
— Amanheça, por favor!
Análise do poema
- Tipo de verso: heptassílabo (redondilha maior)
- Número de estrofes: 4 estrofes regulares
- Número de versos: 16 versos
A lua no cinema é um poema construído em heptassílabos, portanto, é um poema que utiliza metrificação.
O poema também utiliza rimas, embora não em todos os versos, como veremos a seguir.
Estrutura do poema
A lua no cinema possui 16 versos divididos em 4 quadras (ou quartetos).
O poema é construído em heptassílabos, isto é, em versos que contém, cada um deles, sete sílabas poéticas: este tipo de verso chamamos em português redondilha maior.
Há, porém, quanto ao metro, algumas irregularidades no poema:
- o terceiro, o sétimo e o décimo verso, para serem lidos como heptassílabos, têm de sê-lo frouxamente, posto que seriam melhor enquadrados em hexassílabos;
- o décimo quatro verso, para que se encaixe na métrica, precisa ser lido como se houvesse uma contração em “com a”, portanto, como “coa”; alguns poetas constroem “com a” deixando subentendido que, na leitura, deve haver a contração (um exemplo é Augusto dos Anjos).
Quanto às rimas, as duas primeiras quadras apresentam-nas no segundo e no quarto verso; já as duas finais apresentam-nas em todos os versos, de forma alternada, conforme o esquema abab.
Sentido do poema
A lua no cinema é um poema que, resumidamente, dramatiza a solidão.
Assim o poema começa:
A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.
Por estes versos, percebemos que o poema é narrado em terceira pessoa, isto é, quem fala é um narrador que conta-nos uma história de alguém que não ele mesmo (neste caso, da lua).
Notamos, também, que o poeta utiliza a figura de linguagem que chamamos personificação, que consiste em atribuir características ou ações humanas a entes ou objetos inanimados; neste caso, a lua é personificada.
Ficamos sabendo, então, que a lua foi ao cinema e deparou-se com um filme “engraçado”, que contava “a história de uma estrela que não tinha namorado” — novamente, notamos a personificação, desta vez da estrela.
Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!
Aqui, são-nos apresentadas as justificativas pelas quais a estrela não tinha namorado, e vemo-la pintada como “bem pequena” e “destas que, quando apagam, ninguém vai dizer, que pena”.
Estas qualidades sugerem-nos uma estrela insignificante, ou no mínimo uma estrela que não se destaca em meio a muitas outras estrelas maiores e mais brilhantes.
Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.
Nesta estrofe, uma nova qualidade é atribuída a estrela: a solidão.
Trata-se de uma “estrela sozinha”, “ninguém olhava para ela” e “toda a luz que ela tinha cabia numa janela” — aqui, temos um reforço da insignificância já sugerida na estrofe anterior.
Portanto, uma estrela que não tinha namorado por ser solitária e insignificante: claramente, o que faz o narrador é dramatizar a vida desta estrela, que pode servir de metáfora para um ser humano real.
O poema é encerrado com os seguintes versos:
A lua ficou tão triste
com aquela história de amor,
que até hoje a lua insiste:
— Amanheça, por favor!
Aqui, vemos que o foco do poema desloca-se da estrela para a lua, mostrando a reação desta última ao deparar-se com a triste história da primeira.
A lua ter ficado triste, naturalmente, sugere que ela compadeceu-se da solidão da estrela, muito provavelmente se identificando com ela, como o último verso dá a entender.
Poderíamos interpretar, aqui, que a Lua é também solitária, posto que é o único satélite natural da Terra; e talvez por isso tenha havido tal identificação.
O último verso, “Amanheça, por favor!”, sugere que a lua, após conhecer a história da estrela, desejava imediatamente esquecê-la, uma vez que, ao amanhecer, apagar-se-ia a luz emitida pela estrela.
O “por favor” sugere uma súplica, uma ênfase, uma grande intensidade neste desejo.
Assim, A lua foi no cinema é um poema que dramatiza o sentimento de solidão e insignificância que podemos experimentar.
Sobre Paulo Leminski
Paulo Leminski nasceu em Curitiba, em 24 de agosto de 1944.
Completou os primeiros estudos no Colégio Estadual do Paraná.
Em seguida, ingressou no Mosteiro de São Bento, em São Paulo, onde adquiriu conhecimentos de latim, teologia, filosofia e literatura clássica e despertou, também, o interesse pela vocação religiosa.
Casou-se em 1963, ano em que abandonou de vez a intenção de ser monge.
Trabalhou como redator de publicidade, professor em cursinho pré-universitário, músico, letrista e tradutor.
Foi um estudioso da língua e da cultura japonesas, publicando, em 1983, uma biografia do poeta Matsuó Bashô.
Faleceu, aos 44 anos, em 7 de junho de 1989.
Principais obras de Paulo Leminski
A obra de Paulo Leminski é extensa e inclui poemas, romances, ensaios, traduções e biografias.
Abaixo, destacamos os seus títulos mais conhecidos:
- Catatau (1976)
- 80 poemas (1980)
- Caprichos e relaxos (1983)
- Matsuó Bashô (1983)
- Agora é que são elas (1984)
- Um milhão de coisas (1985)
- Anseios crípticos (1986)
- Distraídos venceremos (1987)
- Guerra dentro da gente (1988)
- La vie en close (1991)
- Metamorfose (1994)
- O ex-estranho (1996)
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema A lua no cinema, de Paulo Leminski.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de conferir o que escrevemos sobre Cidadezinha, de Mário Quintana.
Um abraço e até a próxima!