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Poema Bolhas, de Cecília Meireles (com análise)

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Conheça o poema Bolhas, de Cecília Meireles, e confira nossa análise!

Bolhas é um poema escrito pela poetisa brasileira Cecília Meireles, que está disponível em sua obra intitulada Ou isto ou aquilo (1964).

Esta obra reúne vários dos poemas infantis mais conhecidos de Cecília, alguns sobre os quais já escrevemos aqui no site, como Leilão de jardim e O Menino Azul.

Assim como os demais poemas da obra, Bolhas está em conformidade com as ideias da autora para a educação infantil e, além de fazer uma divertida brincadeira com a sonoridade das palavras, é este um poema que, sobretudo, estimula a imaginação de quem o lê.

Sendo assim, preparamos esse texto para que você conheça o poema Bolhas, de Cecília Meireles. Em seguida, você poderá conferir nossa análise.

Boa leitura!

Bolhas, de Cecília Meireles

Olha a bolha d’água
no galho!
Olha o orvalho!

Olha a bolha de vinho
na rolha!
Olha a bolha!

Olha a bolha na mão
Que trabalha!

Olha a bolha de sabão
na ponta da palha:
brilha, espelha
e se espalha.
Olha a bolha!

Olha a bolha
que molha
a mão do menino:

A bolha da chuva da calha!

Análise do poema

  • Tipo de verso: livre
  • Número e tipo de estrofes: 6 estrofes irregulares
  • Número de versos: 17 versos

Bolhas é um poema construído em versos livres, portanto, é um poema que não utiliza metrificação.

O poema pode ser resumido numa exposição divertida das diferentes formas nas quais uma bolha pode se mostrar.

Cecília Meireles e a educação infantil

Antes de analisarmos o poema, é sempre bom relembrar as ideias de Cecília Meireles para a educação infantil, as quais serviram de norte para os poemas de Ou isto ou aquilo.

Para ela, havia um grande problema na maneira como se ensinava literatura às crianças, e este problema resumia-se em “didatizar” textos (para utilizar o mesmo termo de Cecília) e ensiná-los como se fossem literatura.

Fazendo isso, embora parecesse que a “didatização” (ou simplificação) dos textos facilitava-lhes a compreensão por parte das crianças, ficavam estas desprovidas de senso estético, não desenvolvendo a habilidade de apreciação de um texto, e muito menos a de construir algo esteticamente belo.

Assim, para Cecília não era suficiente limitar-se a ensinar as crianças a ler, ensiná-las o bê-á-bá; mas sim desenvolver nelas uma verdadeira paixão pela leitura.

E, para isso, nada melhor que ensiná-las através de textos esteticamente bonitos, cheios de lirismo e, principalmente, através de textos que lhes estimulassem a imaginação.

Estrutura do poema

Bolhas possui 17 versos divididos em seis estrofes irregulares.

O poema não utiliza metrificação, o que sugere uma leitura leve e despretensiosa.

Quanto às rimas, são elas usadas e usadas de maneira muito criativa no poema.

A maioria dos versos rima, e apresenta rimas que chamamos consoantes, isto é, rimas que apresentam paridade sonora completa a partir da vogal tônica.

Há, porém, rimas que poderíamos classificar como apenas consonantais em alguns versos, como, por exemplo, a partir do verso dez, onde encontramos uma sequência de versos terminados em palha, espelha, espalha, bolha.

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Além disso, encontramos várias rimas no interior dos versos, sejam elas consonantais, sejam consoantes, de forma que apenas um dos dezessete versos não apresenta em seu interior o fonema /lh/, fonema este que está presente na maioria das rimas feitas ao longo do poema a aparece, nalguns versos, mais de uma vez.

Esta técnica chamamos aliteração e, no caso presente, seus efeitos são fundamentais para que o poema pareça tão divertido e tão gostoso de se ler.

Sentido do poema

Bolhas é um poema que, para ser entendido, tem de ser lido em voz alta.

O que o poema diz pouco interessa, uma vez que o seu charme consiste em ser um poema divertido de se pronunciar, que nos apresenta uma sonoridade cheia de graça.

Mas há, porém, imagens interessantes ao longo dos versos; imagens inseridas com o objetivo de estimular a imaginação de quem os lê.

Em resumo, poderíamos assim definir o sentido de Bolhas: o narrador aponta diferentes “bolhas” para que o interlocutor do poema as observe (ou as imagine).

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A primeira delas está contida já na primeira estrofe:

Olha a bolha d’água
no galho!
Olha o orvalho!

Naturalmente, aqui o narrador do poema representa o orvalho da noite como “bolhas d’água”.

O poema prossegue com o narrador adotando o mesmo tom imperativo, dizendo ao interlocutor do poema que “olhe” tal ou tal “bolha”.

Temos, então, referências à “bolha de vinho”, à “bolha na mão que trabalha”, à “bolha de sabão” e à “bolha da chuva da calha”.

Destas, destacamos a “bolha na mão que trabalha”, que se refere às erupções cutâneas que são frequentes naqueles que executam determinados trabalhos manuais; e a “bolha da chuva da calha”, que se refere simplesmente aos pingos da chuva que cai.

Nestes dois casos, é preciso um esforço compreensivo para visualizarmos a que está o narrador se referindo com “bolhas”, o que é assaz estimulante para a imaginação das crianças que leem ou escutam este poema.

Vemos, então, a palavra “bolha”, que serve de título ao poema, utilizada criativamente ao longo dos versos, os quais parecem todos ecoá-la com rimas quer interiores, quer os finalizando, em terminações como -olha, -alho, -alha, -ilha, -elha.

Assim, Bolhas é um poema capaz de, simultaneamente, estimular o raciocínio e o senso estético da criança que o lê.

Sobre Cecília Meireles

Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu no Rio de Janeiro, em 7 de novembro de 1901 e morreu, na mesma cidade, em 9 de novembro de 1964.

Nascida órfã de pai, perdeu a mãe aos três anos e, por isso, foi criada por sua avó portuguesa, Dona Jacinta, natural da ilha dos Açores.

Desde pequena, Cecília recebeu educação religiosa e demonstrou grande interesse pela literatura. Tornou-se professora muito cedo, quando já compunha poemas.

O interesse de Cecília Meireles pela educação fê-la fundar a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro, em 1934.

Aos 21 anos, casou-se com o pintor português Fernando Correia Dias, que veio a suicidar-se em 1936.

Cinco anos após este evento dramático, Cecília casa-se novamente, desta vez com o engenheiro agrônomo Heitor Vinícius de Silveira Grilo.

Em 1939, Cecília publica Viagem, livro que rapidamente encantou leitores e acadêmicos, dando-lhe grande reconhecimento e o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras.

No dia 9 de novembro de 1964, com 63 anos, Cecília faleceu, vítima de câncer, no Rio de Janeiro.

Obras de Cecília Meireles

  • Espectros (1919)
  • Criança, meu amor (1923)
  • Nunca mais (1923)
  • Poema dos poemas (1923)
  • Baladas para el-rei (1925)
  • O espírito vitorioso (1929)
  • Saudação à menina de Portugal (1930)
  • Batuque, samba e macumba (1933)
  • A festa das letras (1937)
  • Viagem (1939)
  • Olhinhos de gato (1940)
  • Vaga música (1942)
  • Mar absoluto (1945)
  • Rute e Alberto (1945)
  • Rui: pequena história de uma grande vida (1948)
  • Retrato natural (1949)
  • Problemas de literatura infantil (1950)
  • Amor em Leonoreta (1952)
  • Doze noturnos da Holanda e O aeronauta (1952)
  • Romanceiro da Inconfidência (1953)
  • Poemas escritos na Índia (1953)
  • Pequeno oratório de Santa Clara (1955)
  • Pistoia, cemitério militar brasileiro (1955)
  • Panorama folclórico de Açores (1955)
  • Canções (1956)
  • Giroflê, giroflá (1956).
  • Romance de Santa Cecília (1957).
  • A rosa (1957).
  • Metal rosicler (1960)
  • Poemas de Israel (1963)
  • Solombra (1963)
  • Ou isto ou aquilo (1964)
  • Escolha o seu sonho (1964)
  • Crônica trovada da cidade de Sam Sebastiam (1965)
  • O menino atrasado (1966)
  • Poemas italianos (1968)
  • Flor de poemas (1972)
  • Elegias (1974)
  • Flores e canções (1979)

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema Bolhas, de Cecília Meireles.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de conferir o que escrevemos sobre Meninos carvoeiros, de Manuel Bandeira.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Poema Bolhas, de Cecília Meireles (com análise). [S.I.] 2023. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poema-bolhas-cecilia-meireles-poesia-analise/. Acesso em: 1 dez. 2024.