Conheça o poema Este inferno de amar, de Almeida Garrett, e confira nossa análise!
Este inferno de amar é um poema escrito pelo poeta português Almeida Garrett que está disponível em sua coletânea Folhas caídas, publicada em 1853.
Este poema é um ótimo representante do Romantismo português, do qual Garrett é tido como introdutor.
Este inferno de amar tem como temática o amor, e resume-se num extravasamento dos sentimentos do eu lírico, que se coloca metaforicamente num “inferno” em razão daquilo que sente.
Dito isso, preparamos esse texto para que você conheça o poema Este inferno de amar, de Almeida Garrett. Em seguida, você poderá conferir nossa análise.
Boa leitura!
Este inferno de amar, de Almeida Garrett
Este inferno de amar — como eu amo! —
Quem mo pôs aqui n’alma… quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida — e que a vida destrói —
Como é que se veio a atear,
Quando — ai quando se há-de ela apagar?Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez… — foi um sonho —
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar…
Quem me veio, ai de mim! despertar?Só me lembra que um dia formoso
Eu passei… dava o sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? — Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei…
Análise do poema
- Tipo de verso: eneassílabo
- Número e tipo de estrofes: 3 estrofes regulares
- Número de versos: 18 versos
Este inferno de amar é construído em eneassílabos, portanto, é um poema que se vale de metrificação.
O poema contém estrofes regulares e também utiliza rima, embora haja versos brancos que o entremeiam.
Estrutura do poema
Este inferno de amar contém 18 versos, divididos em 3 sextilhas (ou sextetos).
As estrofes seguem um padrão regular de rimas, em que o primeiro e terceiro verso não rimam, o segundo rima com o quarto e o quinto rima em parelha com o sexto.
Todos os versos do poema são eneassílabos, ou seja, possuem, cada um deles, nove sílabas poéticas.
Os versos possuem, também, um padrão rítmico regular, e enquadram-se no que chamamos eneassílabos clássicos, cujo ritmo obedece a um movimento anapéstico até a última sílaba tônica do verso, conforme o esquema – – ~ – – ~ – – ~.
É interessante observar como se sobressaem as sílabas tônicas (3ª, 6ª e 9ª do verso) neste esquema rítmico, a ponto de que as outras sílabas do verso, ainda que gramaticalmente acentuadas, soem como fracas.
Sentido do poema
Este inferno de amar é um poema que, já pelo título, evidencia um tom de desabafo.
O eu lírico, pois, extravasa o sentimento que experimenta e compara-o a um inferno.
Na primeira estrofe do poema vemos, além da confissão apaixonada, a exploração das tradicionais antíteses que envolvem o amor, comparado a uma “chama que alenta e consome”, “que é a vida e que a vida destrói”.
Já vimos Camões a fazer algo parecido no poema Amor é um fogo que arde sem se ver, que pinta o amor como o paradoxo supremo.
Em Este inferno de amar, vemos esta mesma ideia já no título, posto que amar, a princípio, parece-nos relacionar-se mais a algo agradável, prazeroso, feliz e encantador, do que a um inferno.
O eu lírico, então, expõe-nos esta outra face do amor e pergunta, como num grito desesperado, quando haveria de a “chama” que o consome se apagar.
A partir da segunda estrofe, vemos o eu lírico utilizar uma técnica comum no Romantismo (e no Saudosismo) que é a evocação do passado.
O passado, então, é pintado como doce, alegre, enquanto o presente o mais das vezes representa o sofrimento.
Poderíamos estender-nos e dizer que, em muitos casos, a mesma técnica é utilizada transformando o passado em sonho, enquanto o presente simboliza a realidade contrastante.
É o que vemos, simultaneamente, em Este inferno de amar: o passado, que talvez não passe de um sonho, é pintado como o momento sublime da vida do eu lírico, que ora encontra-se num “inferno”.
Naturalmente, este passado idealizado representa o dia em que estava o eu lírico junto de sua amada.
Por fim, o poema é finalizado com uma confissão exaltada, em que o eu lírico diz que, embora não saiba como, “começou a viver” somente após o contato com sua amada.
Quer dizer: apesar de todo o sofrimento, todo o desassossego, todo o “inferno” decorrente deste amor experimentado, parece querer o eu lírico dizer-nos que tal amor é aquilo que lhe justifica a existência.
Sobre Almeida Garrett
Almeida Garrett nasceu no Porto, em 4 de fevereiro de 1799.
Passou a infância numa propriedade de seu avô materno e, aos dez anos, teve de partir junto à sua família para a ilha Terceira, nos Açores, em razão das invasões napoleônicas em Portugal.
Retornou à Península aos dezessete, para cursar Direito na Universidade de Coimbra, onde se formou em 1821.
Em Coimbra, entrou em contato com as ideias liberais que o marcariam por toda a vida.
Ainda em 1821, após a publicação de O Retrato de Vênus, foi taxado de materialista, ateu e imoral pela censura, acabando processado e, posteriormente, exilando-se na Inglaterra.
Foi anistiado em 1823 e retornou a Portugal, onde dedicou-se ao jornalismo e fundou o diário O Português e o semanário O Cronista.
Posteriormente, teve de novamente exilar-se na Inglaterra, movendo-se depois à França.
Foi deputado e teve atuação ferrenha em contraposição ao absolutismo. Atuou, também, como orador, ministro e secretário de estado.
Faleceu em Lisboa, em 9 de dezembro de 1854.
Principais obras de Almeida Garrett
A obra de Almeida Garrett é vastíssima e inclui poesias, romances, contos, biografias, peças de teatro, entre outros.
Abaixo estão algumas de suas obras de destaque:
- Lucrécia (1819)
- Mérope (1820)
- O Retrato de Vênus (1821)
- O Toucador (1822)
- Camões (1825)
- Dona Branca (1826)
- Adozinda (1828)
- Lírica de João Mínimo (1829)
- Portugal na balança da Europa (1830)
- Um Auto de Gil Vicente (1838)
- O Alfageme de Santarém (1841)
- Romanceiro e Cancioneiro Geral – tomo 1 (1843)
- O Arco de Sant’Ana – tomo 1 (1845)
- Viagens na minha terra (1846)
- As profecias do Bandarra (1848)
- Memória Histórica de J. Xavier Mouzinho da Silveira (1849)
- O Arco de Sant’Ana – tomo 2 (1850)
- Romanceiro e Cancioneiro Geral – tomos 2 e 3 (1851)
- Folhas Caídas (1853)
- Discursos Parlamentares e Memórias Biográficas (1871)
Bônus: versão musical de Este inferno de amar, de Almeida Garrett
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema Este inferno de amar, de Almeida Garrett.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver o que escrevemos sobre Fanatismo, de Florbela Espanca.
Um abraço e até a próxima!