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Poema O bicho, de Manuel Bandeira (com análise)

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Conheça o poema O bicho, de Manuel Bandeira, e confira nossa análise!

O bicho é um dos poemas mais conhecidos de Manuel Bandeira.

Este pequeno poema reúne, em pouquíssimos versos, uma crítica social à realidade brasileira do século XX e uma crítica à própria miséria humana.

Para além desta peculiaridade, não errará quem disser que O bicho trata-se, também, de um belo cartão postal da poesia bandeiriana, que engana pela aparente simplicidade de versos que, no fundo, querem dizer muito mais.

Sendo assim, preparamos esse texto para que você conheça O bicho, de Manuel Bandeira. Em seguida, você poderá conferir nossa análise do poema.

Boa leitura!

O bicho, de Manuel Bandeira

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

Análise do poema

  • Tipo de verso: livre
  • Número e tipo de estrofes: 4 estrofes: 3 tercetos e 1 verso final
  • Número de versos: 10 versos

O bicho é um poema construído em versos livres, portanto, é um poema que não utiliza nem metrificação, nem rima.

Batendo o olho em seus versos, percebemos que, estruturalmente, eles já têm algo a nos dizer: são três estrofes (tercetos) e um verso final.

Os três tercetos claramente representam algo como um argumento e resultam no verso final, a conclusão do poema.

Ainda não começamos a leitura dos versos e podemos notar que os três tercetos são finalizados em pontos finais (os únicos que cada um deles possui). Que será isso: circunstâncias independentes? uma progressão simples?

Vamos ver.

Nossa leitura do poema começa pelo título: O bicho. Que bicho? Manuel Bandeira nos introduz a ele com os versos iniciais:

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Percebemos que começa o poema como um relato em primeira pessoa de uma situação passada.

A imagem sugerida já nesta primeira estrofe provavelmente chocará o leitor por seu caráter impactante.

“O bicho”, portanto, catava comida “entre os detritos”, em meio à “imundície do pátio”, o que indica, ao mesmo tempo, fome e condições precárias.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O segundo terceto agrava a condição de miséria do “bicho” e informa-nos, primeiro, que havia pouco alimento no pátio (“quando achava”, “alguma coisa”) e, segundo, que a fome era grande.

Neste ponto, enxergamos o “bicho” em desespero por comida, uma vez que, num pátio imundo, engolia “com voracidade” qualquer coisa comestível que porventura encontrasse.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

Aqui, Manuel Bandeira prepara-nos para o que será o fechamento do poema.

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O bicho não era um cão, nem um gato, nem um rato. Ler esta estrofe automaticamente faz suscitar em nossa mente a pergunta: então qual era “o bicho”?

O bicho, meu Deus, era um homem.

Desta forma, Bandeira fecha o poema, chocando-nos com a nova e última informação.

Em dez versos, vemos um poema dramático e mordaz que, ao mesmo tempo em que faz uma dura crítica social, representa o horror do eu lírico ao defrontar-se com um ser humano em estado de miséria comparável ao de um animal.

Sobre Manuel Bandeira

Manuel Bandeira nasceu em Recife, em 19 de abril de 1886.

Além de poeta, foi professor, cronista, crítico literário e professor.

Aos dez anos, deixou Recife com destino ao Rio de Janeiro, onde, de 1897 a 1902, cursou o secundário no colégio hoje chamado Pedro II, bacharelando-se em letras.

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Em 1903, matriculou-se na Escola Politécnica de São Paulo para fazer o curso de engenheiro-arquiteto, abandonando-o no ano seguinte por sofrer de tuberculose.

A doença levou-o a vários sanatórios e fê-lo mudar seguidamente de cidade. Entre 1913 a 1914, esteve recuperando-se em Clavadel, na Suíça.

Parecia a tuberculose sugerir que seria curta a vida do jovem poeta; mas, curiosamente, viveu ele até os 82 anos.

Retornando da Suíça ao Brasil, Manuel Bandeira iniciou sua produção literária em periódicos. Em 1917, publicou sua primeira obra, A cinza das horas, e dali em diante passaria os seus anos em intensa produção artística, dando luz a uma das mais ricas obras da poesia moderna brasileira.

Em 1940, foi eleito para a cadeira 24 da Academia Brasileira de Letras.

Em 13 de outubro de 1968, faleceu, célebre e amplamente considerado um dos maiores poetas da literatura brasileira.

Obras poéticas de Manuel Bandeira

  • A cinza das horas (1917)
  • Carnaval (1919)
  • O ritmo dissoluto (1924)
  • Libertinagem (1930)
  • Estrela da manhã (1936)
  • Lira dos cinquent’anos (1940)
  • Belo belo (1948)
  • Mafuá do Malungo (1948)
  • Opus 10 (1954)
  • Estrela da tarde (1960)

Bônus: curta-metragem inspirado em O bicho, de Manuel Bandeira

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema O bicho, de Manuel Bandeira.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa análise do poema Amor é um fogo que arde sem se ver, de Camões.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Poema O bicho, de Manuel Bandeira (com análise). [S.I.] 2022. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poema-o-bicho-de-manuel-bandeira-com-analise/. Acesso em: 28 out. 2024.