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Poema O pássaro cativo, de Olavo Bilac (com análise)

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Conheça o poema O pássaro cativo, de Olavo Bilac, e confira nossa análise!

O pássaro cativo é um poema escrito pelo poeta brasileiro Olavo Bilac, publicado originalmente em Poesias infantis (1929).

O poema aborda a temática da liberdade e tem um caráter marcadamente educativo.

Embora destinado ao público infantil, ele é um poema que carrega o preciosismo formal que é marca de Bilac: os versos, além de rimarem, são cuidadosamente metrificados.

Dito isso, preparamos esse texto para que você conheça o poema O pássaro cativo, de Olavo Bilac. Em seguida, você poderá conferir nossa análise.

Boa leitura!

O pássaro cativo, de Olavo Bilac

Armas, num galho de árvore, o alçapão;
E, em breve, uma avezinha descuidada,
Batendo as asas cai na escravidão.

Dás-lhe então, por esplêndida morada,
A gaiola dourada;
Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos, e tudo:
Por que é que, tendo tudo, há de ficar
O passarinho mudo,
Arrepiado e triste, sem cantar?

É que, criança, os pássaros não falam.
Só gorjeando a sua dor exalam,
Sem que os homens os possam entender;
Se os pássaros falassem,
Talvez os teus ouvidos escutassem
Este cativo pássaro dizer:

“Não quero o teu alpiste!
Gosto mais do alimento que procuro
Na mata livre em que a voar me viste;
Tenho água fresca num recanto escuro
Da selva em que nasci;
Da mata entre os verdores,
Tenho frutos e flores,
Sem precisar de ti!
Não quero a tua esplêndida gaiola!
Pois nenhuma riqueza me consola

De haver perdido aquilo que perdi…
Prefiro o ninho humilde, construído
De folhas secas, plácido, e escondido
Entre os galhos das árvores amigas…

Solta-me ao vento e ao sol!
Com que direito à escravidão me obrigas?
Quero saudar as pompas do arrebol!
Quero, ao cair da tarde,
Entoar minhas tristíssimas cantigas!
Por que me prendes? Solta-me, covarde!
Deus me deu por gaiola a imensidade:
Não me roubes a minha liberdade…
Quero voar! voar!…”

Estas coisas o pássaro diria,
Se pudesse falar.
E a tua alma, criança, tremeria,
Vendo tanta aflição:
E a tua mão, tremendo, lhe abriria
A porta da prisão…

Análise do poema

  • Tipo de verso: decassílabo e hexassílabo rimados
  • Número de estrofes: 7 estrofes irregulares
  • Número de versos: 44 versos

O pássaro cativo é um poema construído em decassílabos e hexassílabos rimados, portanto, é um poema que utiliza metrificação e rima.

O poema pode ser resumido numa reflexão sobre a liberdade e sobre as consequências de se enjaular um animal para tê-lo de estimação.

Estrutura do poema

O pássaro cativo possui 44 versos divididos em sete estrofes irregulares, segundo a versão editada pela L&PM Pocket que temos em mãos.

Os versos do poema são majoritariamente decassílabos, mas encontramos também hexassílabos (ou versos quebrados).

O uso de versos quebrados é por vezes interessante para conferir dinamismo ao poema; mas para que funcionem, é preciso trabalhá-los com técnica.

Como, neste caso, são hexassílabos, possuem necessariamente a sexta sílaba acentuada; e como os outros versos são majoritariamente decassílabos, é preciso que o ritmo estabelecido no poema permita o corte do verso na sexta sílaba sem que soe desagradável.

Para isso, o poeta constrói rigorosamente todos os decassílabos respeitando duas variações: ou se acentua a sexta sílaba do verso, ou se acentua conjuntamente a quarta e a oitava, em versos que chamamos sáficos, representados pelos versos 18, 19 e 31 do poema.

Quanto às rimas, o poema as apresenta em todos os versos em disposições irregulares, que variam de estrofe para estrofe, contendo inclusive versos de uma estrofe que rimam com versos da estrofe seguinte.

Sentido do poema

O pássaro cativo, como o título sugere, é um poema que dramatiza a situação de um pássaro preso em uma gaiola.

Embora seja de interpretação simples, o poema contém uma profunda mensagem sobre a liberdade.

Assim são seus primeiros versos:

Armas, num galho de árvore, o alçapão;
E, em breve, uma avezinha descuidada,
Batendo as asas cai na escravidão.

Percebemos, primeiramente, que a primeira palavra do poema é um verbo conjugado na segunda pessoa: portanto, em O pássaro cativo o eu lírico dirige-se diretamente a um interlocutor.

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Em seguida, percebemos que estes três versos descrevem a captura de uma “avezinha” através de um “alçapão” (denominação brasileira para uma armadilha destinada exatamente a esta finalidade).

Portanto, o eu lírico dirige-se a um interlocutor que hipoteticamente teria capturado um passarinho.

Notamos, também, que o uso do diminutivo em “avezinha” dá-lhe um caráter gracioso e inocente, o que contribui para o efeito dramático do poema.

Nos versos seguintes, o eu lírico descreve o tratamento que o passarinho recebe após aprisionado: ganha “alpiste, e água fresca, e ovos e tudo”, além de uma gaiola dourada para viver.

Em seguida, o eu lírico questiona o porquê de, apesar de receber tudo isso, permanece o passarinho triste e sem cantar.

É esta uma pergunta retórica que, nos versos seguintes, será respondida pelo próprio passarinho, numa suposição do que ele diria caso “os pássaros falassem”.

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A partir deste momento, o eu lírico passa a dirigir-se ao seu interlocutor como “criança”, como se a estivesse instruindo, evidenciando o caráter educativo do poema.

O passarinho, então, faz um discurso emocionado, em que diz sumariamente que nada daquilo que recebeu tem o valor daquilo que lhe foi tirado: a liberdade.

A gaiola “dourada” e “esplêndida”, que é descrita como a parecer rica e luxuosa, não se compara à “imensidade” e à autonomia de poder percorrê-la livremente.

O discurso logo toma contornos de protesto:

Com que direito à escravidão me obrigas?
Quero saudar as pompas do arrebol!
Quero, ao cair da tarde,
Entoar minhas tristíssimas cantigas!
Por que me prendes? Solta-me, covarde!
Deus me deu por gaiola a imensidade:
Não me roubes a minha liberdade…
Quero voar! voar!…

Finalmente, o eu lírico conclui reforçando que são estas palavras que o pássaro diria, caso pudesse falar; e que a criança, caso pudesse ouvi-las, “tremeria” e libertaria o pássaro da “prisão”, o que quer dizer que ficaria em choque e se arrependeria de ter tirado algo tão caro à ave apenas pelo prazer de possuí-la.

O pássaro cativo, portanto, é um poema que reflete de forma didática sobre liberdade e escravidão.

Sobre Olavo Bilac

Olavo Bilac nasceu no Rio de Janeiro em 16 de dezembro de 1865.

Após os estudos primários e secundários, matriculou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, deixando-a no 4º ano.

Seguiu para São Paulo, onde ingressou no curso de direito, abandonando-o também para dedicar-se integralmente ao jornalismo e à literatura.

Participou da fundação de vários jornais, como A Cigarra, A Rua e O Meio. Trabalhou durante muitos anos no jornal Gazeta de Notícias, escrevendo especialmente artigos sobre política.

Sua intensa atividade jornalística nos primeiros anos de república garantiu-lhe a perseguição do ditador Floriano Peixoto, o que o obrigou a se esconder em Minas Gerais.

Em 1891, foi nomeado oficial da Secretária do Interior do Estado do Rio.

Em 1907, exerceu o cargo de secretário do prefeito do Distrito Federal.

Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e ocupou a cadeira 15, cujo patrono é Gonçalves Dias.

Faleceu, no Rio de Janeiro, em 28 de dezembro de 1918.

Obras de Olavo Bilac

  • Poesias (1888)
  • Crônicas e novelas (1894)
  • Sagres (1898)
  • Crítica e fantasia (1904)
  • Poesias infantis (1904)
  • Conferências literárias (1906)
  • Tratado de versificação, com Guimarães Passos (1910)
  • Dicionário de rimas (1913)
  • Ironia e piedade (1916)
  • Tarde (1919)

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema O pássaro cativo, de Olavo Bilac.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de conferir o que escrevemos sobre Tecendo a manhã, de João Cabral de Melo Neto.

Um abraço e até a próxima!