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Poema Ritmo, de Mário Quintana (com análise)

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Conheça o poema Ritmo, de Mário Quintana, e confira nossa análise!

Ritmo é um poema escrito pelo poeta brasileiro Mário Quintana, que está disponível em sua coletânea intitulada Anotações poéticas (1996).

Como o título sugere, o poema é uma abordagem criativa do ritmo das coisas, isto é, do movimento contínuo presente em nosso cotidiano.

Dito isso, preparamos esse artigo para que você conheça o poema Ritmo, de Mário Quintana. Em seguida, você poderá conferir nossa análise.

Boa leitura!

Ritmo, de Mário Quintana

Na porta
a varredeira varre o cisco
varre o cisco
varre o cisco

Na pia
a menininha escova os dentes
escova os dentes
escova os dentes

No arroio
a lavadeira bate roupa
bate roupa
bate roupa

Até que enfim
‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ se desenrola
‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ toda a corda
e o mundo gira imóvel como um pião!

Análise do poema

  • Tipo de verso: livre
  • Número de estrofes: 4 estrofes regulares
  • Número de versos: 16 versos

Ritmo é um poema construído em versos livres, portanto, é um poema que não utiliza metrificação.

O poema tem como objetivo descrever o ritmo, isto é, o movimento regular de ações que fazem parte de nosso cotidiano.

Estrutura do poema

Ritmo possui dezesseis versos divididos em quatro quadras (ou quartetos).

O poema não utiliza metrificação, e a ideia de ritmo sugerida pelos versos não se dá pela maneira como o ritmo é geralmente trabalhado em poesia.

O poeta, em vez de trabalhar a relação entre sílabas tônicas e átonas dentro do verso, sugere a regularidade de movimento através da repetição de versos, da aliteração e das imagens que são evocadas pelo poema.

Embora também não faça o uso de rimas da maneira como tradicionalmente elas são utilizadas, as repetições inseridas nas três primeiras estrofes criam um efeito de eco e paridade sonora semelhante ao das rimas tradicionais.

Sentido do poema

Ritmo é um poema que descreve a regularidade (ou o ritmo) das ações cotidianas.

Assim começa o poema:

Na porta
a varredeira varre o cisco
varre o cisco
varre o cisco

Como bem sabemos, quando utilizamos a palavra ritmo queremos nos referir a um movimento regular e periódico em qualquer processo.

Estes primeiros versos mostram-nos, claramente, a que se refere o título do poema.

Através da repetição de “varre o cisco”, o poeta sugere-nos a repetição do movimento de varrer.

Através da aliteração das consoantes “v”, “r” e “s” (incluindo, aqui, o “c” com som de “s”), o eu lírico sugere-nos o som produzido pelo ato de varrer, isto é, o som produzido pelo atrito entre as cerdas da vassoura e o chão.

Nas duas estrofes seguintes, os mesmos artifícios são utilizados para descrever a ação de uma menininha que escova os dentes e de uma lavadeira que “bate roupa”.

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Temos então, três ações (varrer o cisco, escovar os dentes, bater roupa), realizadas por três mulheres (varredeira, menininha, lavadeira) em três locais diferentes (porta, pia, arroio); também é três o número de vezes que cada ação aparece no poema.

Visualmente, as três estrofes ainda apresentam uma simetria (ou repetição), de forma que o primeiro verso descreve o lugar, o segundo a oração completa (com sujeito e predicado), e os dois últimos apenas o predicado da oração.

Assim, são versos que sugerem-nos a regularidade das ações cotidianas, sua repetição e seu movimento.

O poema é finalizado da seguinte maneira:

Até que enfim
‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ se desenrola
‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ toda a corda
e o mundo gira imóvel como um pião!

Em primeiro lugar, notamos que, visualmente, estes versos são dispostos de maneira a representar seja uma corda a se desenrolar, seja um pião a girar sobre o solo.

Dizendo “até que enfim se desenrola toda a corda”, o eu lírico parece sugerir o término das ações descritas nos versos anteriores; ações que iniciam-se e encerram-se no curso de um dia.

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No último verso, há uma comparação entre a maneira que o mundo gira e um pião, e também uma comparação entre as ações descritas nas estrofes anteriores e o desenrolar de uma corda (que é necessária para colocar um pião em movimento).

Parece querer dizer o eu lírico que são ações como aquelas que fazem o mundo girar.

Finalmente, há também neste último verso a utilização de um paradoxo em “gira imóvel”, o que nos insinua que, apesar de ser-nos o cotidiano sempre repetitivo (imóvel), ao mesmo tempo ele está sempre em movimento pelas ações que nele realizamos.

Portanto, Ritmo é um poema que explora a regularidade das ações cotidianas e a compara com a regularidade do movimento rotatório da Terra.

Sobre Mário Quintana

Mário Quintana nasceu em Alegrete (RS), em 30 de julho de 1906.

Seu pai era dono de uma farmácia, e seus avós eram médicos.

Aos 13 anos, foi para Porto Alegre estudar no Colégio Militar como aluno interno, que acabou não terminando, embora fosse leitor voraz.

Deixou o colégio aos 17 anos, sem diploma, e se iniciou na vida literária, vivendo novamente em Alegrete.

Em 1926, teve um conto vencedor de um concurso patrocinado pelo Diário de Notícias, importante jornal da capital gaúcha.

Transferiu-se novamente a Porto Alegre em 1929, onde começou a trabalhar como jornalista.

Na década de 1930, estabilizou-se profissionalmente, trabalhando como jornalista e tradutor para a Editora Globo.

Seu primeiro livro, A rua dos cataventos, foi publicado em 1940, inaugurando uma época de grande atividade literária em sua vida.

Nas décadas de 60 e 70, consagrou-se nacionalmente como poeta, recebendo homenagens públicas como a saudação na Academia Brasileira de Letras por Augusto Meyer e Manuel Bandeira (1966), o título de Cidadão Honorário de Porto Alegre (1967), a placa de bronze em Alegrete (com a famosa inscrição: “Um engano em bronze é um engano eterno.”), entre outras.

Faleceu em 5 de maio de 1994, em Porto Alegre, aos 88 anos de idade.

Obras de Mário Quintana

  • A rua dos cataventos (1940)
  • Canções (1946)
  • Sapato florido (1948)
  • O aprendiz de feiticeiro (1950)
  • Espelho mágico (1951)
  • Inéditos e esparsos (1953)
  • Caderno H (1973)
  • Apontamentos de história sobrenatural (1976)
  • A vaca e o hipogrifo (1977)
  • Esconderijos do tempo (1980)
  • Baú de espantos (1986)
  • Da preguiça como método de trabalho (1987)
  • Preparativos de viagem (1987)
  • Porta giratória (1988)
  • A cor do invisível (1989)
  • Velório sem defunto (1990)
  • Água: os últimos textos de Mario Quintana (2001)

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema Ritmo, de Mário Quintana.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de conferir o que escrevemos sobre A fada das crianças, de Fernando Pessoa.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Poema Ritmo, de Mário Quintana (com análise). [S.I.] 2023. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poema-ritmo-de-mario-quintana-poesia-analise/. Acesso em: 27 out. 2024.