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Rondó: o que é, características e exemplos

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Saiba o que é rondó em poesia, conheça suas características e veja exemplos de sua aplicação!

O rondó é uma composição poética de forma fixa oriunda da França medieval, e construída basicamente sobre duas rimas.

Embora o rondó, como veremos, possa apresentar muitas variações, em português é empregado a maioria das vezes em duas delas.

A seguir, elucidaremos o que é rondó em poesia, quais são suas características e daremos exemplos de sua aplicação.

Definição de rondó

A designação rondó aplica-se, na poesia portuguesa, a dois tipos de composição.

A primeira delas é de origem francesa, e consiste em 15 versos, divididos em 3 estrofes, segundo o esquema rímico aabba aabC aabbaC, sendo C as palavras iniciais da primeira estrofe, que se repetem como estribilho e fecham a segunda e terceira estrofes.

Esta forma é também chamada rondó francês, em contraste com o chamado rondó português, que consiste numa composição de número de estrofes variável, cujas características veremos adiante.

O termo rondó é a versão aportuguesada do rondeau francês, que originou-se como um tipo de canção medieval empregada nas chamadas rondes.

Estas consistiam numa espécie de dança de roda, acompanhada de canto; geralmente, os estribilhos eram cantados por um coro.

Destas mesmas rondes, surgiram variadas composições de forma fixa para além do rondó, como o rondel, o rondelete e o rondel duplo.

O rondó é tradicionalmente construído em octossílabos ou decassílabos.

Ressaltamos, finalmente, que tais definições aplicam-se à significação de rondó em poesia; em música, o termo é também utilizado e possui acepções distintas.

História do rondó (rondeau)

O rondeau surgiu no século XIII, na França, como uma forma de canção popular empregada nas ditas rondes.

Inicialmente, o termo rondeau não era aplicado a uma forma rigidamente fixa, mas a diversas variações de composições que tinham como característica o uso de refrões e apenas duas rimas.

Estas composições eram cantadas nas chamadas rondes, acompanhadas de dança.

A forma de rondeau que conhecemos hoje como rondó ou rondó francês originou-se no século XV e, no início do século XVI, popularizou-se e fez com que as demais formas de rondeau caíssem em desuso.

Alguns destacados poetas franceses que empregaram esta forma poética foram Clement Marot, Alfred de Musset e Theodore de Banville.

Aplicação do rondó

O rondó é tradicionalmente empregado no gênero lírico, com a finalidade de expressar sentimentos delicados e galantes, tal como o rondel.

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O rondó tradicional, ou rondó francês, é geralmente construído em octossílabos ou decassílabos.

O exemplo abaixo, citado por Manuel do Carmo em Consolidação das leis do verso, utiliza versos octossílabos:

Na rede de ouro alcandorada,
Do sonho meu, em que depor
Logrei tu’alma enamorada,
Longes dos males e da dor,
Das intempéries segregada…

Ali te quero, ó doce apaixonada
Tendo a embalar-te o meu amor,
Toda num sonho… e repousada
Na rede de ouro…

Enquanto a lira apaixonada
Vou eu tangendo em teu louvor,
Para trazer-te enfeitiçada,
Longe dos males e da dor,
Pelos meus versos embalada
Na rede de ouro…

Já o chamado rondó português utiliza de praxe o verso heptassílabo.

Principais tipos de rondó (com exemplos)

Em português utiliza-se, basicamente, dois tipos de rondó, a despeito das muitas variações que esta forma poética já apresentou ao longo de sua história.

Ambos podem ser denominados simplesmente rondós ou, a evidenciar-lhes as diferenças, rondó francês e rondó português.

Abaixo daremos exemplos das duas formas, e faremos alguns comentários sobre a sua fórmula construtiva.

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Rondó francês

Esta é a forma mais comum de rondó, que consiste em 15 versos, divididos em 3 estrofes, segundo o esquema rímico aabba aabC aabbaC, sendo C as palavras iniciais da primeira estrofe, que se repetem como estribilho e fecham a segunda e terceira estrofes.

Em geral, esta forma apresenta duas variações.

A primeira delas é a disposição das estrofes: é comum vermos rondós dispostos em apenas duas estrofes, e não três, simplesmente unindo as duas primeiras do modelo tradicional, conforme o esquema rímico aabbaaabC aabbaC.

A segunda delas apresenta 12, e não 15 versos, conforme o esquema abba abC abbaC podendo, igualmente, unir as duas primeiras estrofes.

Um exemplo deste tipo de rondó vemos em Volta, de Manuel Bandeira:

Enfim te vejo. Enfim no teu
Repousa o meu olhar cansado.
Quando o turvou e escureceu
O pranto amargo que correu
Sem apagar teu vulto amado!

Porém já tudo se perdeu
No olvido imenso do passado:
Pois que és feliz, feliz sou eu.
Enfim te vejo!

Embora morra encontentado,
Bendigo o amor que Deus me deu.
Bendigo-o como um dom sagrado.
Como o só bem que há confortado
Um coração que a dor venceu!
Enfim te vejo!

Rondó português

Esta forma de rondó apresenta número de estrofes variável, mas, de praxe, exibe algumas características.

De início, o rondó português geralmente trabalha heptassílabos em quadras ou oitavas, seja separadamente, seja mesclando-as.

Uma destas quadras é recorrente ao longo do poema, e apresenta rimas encadeadas, isto é, a rima de um verso completa-se no interior do verso seguinte.

Um belo exemplo deste tipo de poema é Anacreonte, de Silva Alvarenga, que vale-se de rimas interiores não apenas na quadra recorrente:

De teu canto a graça pura.
E a ternura não consigo;
Pois comigo a doce lira
Mal respira os sons de amor.

Quando as cordas lhe mudaste,
Ó feliz Anacreonte,
Da Meônia viva fonte
Esgotaste o claro humor.
O ruido lisonjeiro
Dessas águas não escuto,
Onde geme dado a Pluto
O grosseiro habitador.

De teu canto a graça pura,
E a ternura não consigo;
Pois comigo a doce lira
Mal respira os sons de amor.

Neste bosque desgraçado
Mora o ódio, e vil se nutre
Magra inveja, negro abutre
Esfaimado e tragador.
Não excita meus afetos
Gnido, Pafos, nem Citera:
Vejo a serpe, ouço a pantera…
Oh que objetos de terror!

De teu canto a graça pura,
E a ternura não consigo;
Pois comigo a doce lira
Mal respira os sons de amor.

Cruel seta passadora
Me consome pouco a pouco,
E no peito frio e rouco
A alma chora, e cresce a dor.
Surda morte nestes ares
Enlutada, e triste vejo,
E se entrega o meu desejo
Dos prazeres ao rigor.

De teu canto a graça pura,
E a ternura não consigo;
Pois comigo a doce lira
Mal respira os sons de amor.

Dos heróis te despediste,
Por quem musa eterna soa;
Mas de flores na coroa
Inda existe o teu louvor.
De agradar-te sou contente:
Sacro loiro não me inflama:
Da mangueira a nova rama
Orne a frente do pastor.

De teu canto a graça pura,
E a ternura não consigo;
Pois comigo a doce lira
Mal respira os sons de amor.

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Rondó: o que é, características e exemplos. [S.I.] 2024. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/rondo-rondeau-caracteristicas-exemplos/. Acesso em: 25 out. 2024.