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Poema Canção do exílio, de Gonçalves Dias (com análise)

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Aprecie a famosíssima Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, um dos poemas mais conhecidos da literatura brasileira!

Gonçalves Dias é um dos poetas mais hábeis e versáteis da língua portuguesa.

Sua obra, sincera e comovente, influenciou muitos e muitos poetas e, até hoje, continua a nos encantar.

Sem dúvida, o seu poema mais conhecido é a Canção do exílio, composta em 1943, em Portugal, e publicada em 1946, em seu volume Primeiros cantos.

O grande sucesso da Canção do exílio deve-se, principalmente, pela emotividade sincera que emprega o poeta ao recordar-se, do outro lado do oceano Atlântico, de sua terra querida.

A influência deste pequeno poema na cultura brasileira é incalculável. Para comprová-lo, basta dizer que dois de seus versos, anos mais tarde, foram inseridos por Osório Duque-Estrada no que é hoje o Hino Nacional Brasileiro (“Nossos bosques têm mais vida, / Nossa vida, (no teu seio) mais amores”.

Sendo assim, disponibilizamos a seguir esta especial Canção do exílio, para que você a conheça e a aprecie.

Boa leitura!

Canção do exílio, de Gonçalves Dias

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Análise do poema

  • Tipo de verso: heptassílabo (redondilha maior)
  • Número e tipo de estrofes: 5 estrofes: 3 quadras e 2 sextetos
  • Número de versos: 24 versos

O poema Canção do exílio é construído em heptassílabos, portanto, é um poema que se vale de metrificação.

Canção do exílio é composta por 5 estrofes, sendo elas 3 quadras (ou quartetos) e 2 sextetos (ou sextilhas), totalizando 24 versos.

Estrutura do poema

Os versos de Canção do exílio valem-se da rima intercalando versos brancos e versos rimados ou, noutras palavras, rimando verso sim, verso não.

Embora não sejam todos os versos rimados, mesmo os que não rimam geralmente apresentam terminações que se repetem e contribuem para a musicalidade do poema, como “eiras” e “ores”.

Os versos de Canção do exílio são metrificados e possuem, cada um deles, sete sílabas poéticas (segundo a contagem de Castilho). Este tipo de verso chamamos em português de redondilha maior, e trata-se de um dos metros mais cultivados em nossa língua.

Principais características do poema

As principais características de Canção do exílio são:

  • Nacionalismo (valorização do patrimônio nacional);
  • Lirismo (subjetividade e expressão de um estado de alma particular);
  • Linguagem simples;
  • Musicalidade, que se dá através da repetição de palavras, do uso de métrica e rima;
  • Ufanismo, que se dá através do exagero e da idealização da própria terra.

Sentido do poema

Canção do exílio é um poema de sentido demasiado claro e não guarda dificuldades quanto à sua interpretação.

Construído em linguagem simples, embora comovente, o poema expressa o lamento do poeta que, longe de sua terra, canta-lhe as belezas e coloca em palavras a saudade que sente de lá.

Já no título temos a indicação do que será o poema, um canto sobre o exílio em que o poeta se encontra.

O poema começa e o eu lírico passa imediatamente a exaltar sua “terra”, ressaltando-lhe as qualidades em contraposição com as do local em que atualmente está, como fica evidente na primeira estrofe:

Ad Curso de Poesia

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

É uma postura que une, simultaneamente, uma glorificação e um lamento.

O poema prossegue reforçando esta mesma ideia, e o poeta continua a elencar quanto recorda de belo em sua terra, que ora não vê semelhante.

Tal sentimento é exagerado a ponto de desfigurar a realidade e se tornar uma idealização, nos famosíssimos versos da segunda estrofe:

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Obviamente, neste ponto há um rompimento lógico, que tem um efeito fortíssimo na expressividade do poema.

O poeta, então, que continua a comparar “lá” e “cá”, chega a uma conclusão:

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;

Tal conclusão, apresentada no início da terceira estrofe, é reiterada na estrofe seguinte, como a dizer-nos que, definitivamente, “lá” é melhor do que “aqui”, e não há o que fazer quanto a isso.

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O drama do poeta, que ama sua terra e dela se vê distanciado, é encerrado de maneira extremamente emotiva na última estrofe:

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Quer dizer: o poeta apela a Deus para que possa, ao menos uma vez, ver novamente a terra a que dedicou todo o seu afeto nos versos anteriores.

Felizmente, Deus o permitiu.

Gonçalves Dias: o “poeta do exílio”

Graças à Canção do exílio, Gonçalves Dias acabou ficando conhecido por muita gente como o “poeta do exílio”.

Este poema logo se tornou famosíssimo e, hoje, conta com inúmeras adaptações e paródias, tendo versos que, como dissemos no início do artigo, acabaram inseridos no Hino Nacional Brasileiro.

É interessante observar que, desconhecendo a biografia de Gonçalves Dias, alguém poderia pensar que o “poeta do exílio” foi desterrado, expulso do país em que nasceu.

Não foi o que ocorreu, e convém esclarecer: embora estivesse razoavelmente envolvido nas guerras contra a independência do Brasil, o motivo principal da ida de Gonçalves Dias a Portugal foi para estudar na então renomadíssima Universidade de Coimbra, onde formou-se em Direito.

A palavra “exílio”, portanto, ao “poeta do exílio”, quer dizer simplesmente um distanciamento de sua terra natal, que lhe acabou gerando imensa saudade.

Releituras de Canção do exílio

Canção do exílio, especialmente após ter alguns de seus versos consagrados no Hino Nacional Brasileiro, ganhou tamanha importância cultural que passou a ser parodiada, comentada e adaptada por inúmeros artistas e intelectuais brasileiros

Abaixo elencamos algumas das homenagens feitas a este belo poema por artistas posteriores:

Canção do exílio, de Murilo Mendes

Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!

Nova canção do exílio, de Carlos Drummond de Andrade

Um sabiá na
palmeira, longe.

Estas aves cantam
um outro canto.
O céu cintila
sobre flores úmidas.
Vozes na mata,
e o maior amor.

Só, na noite,
seria feliz:
um sabiá,
na palmeira, longe.

Onde tudo é belo
e fantástico,
só, na noite,
seria feliz.
(Um sabiá na palmeira, longe.)

Ainda um grito de vida e
voltar
para onde tudo é belo
e fantástico:
a palmeira, o sabiá,
o longe.

Canção do exílio, de Casimiro de Abreu

Se eu tenho de morrer na flor dos anos
Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!

Meu Deus, eu sinto e tu bem vês que eu morro
Respirando este ar;
Faz que eu viva, Senhor! dá-me de novo
Os gozos do meu lar!

O país estrangeiro mais belezas
Do que a pátria não tem;
E este mundo não vale um só dos beijos
Tão doces duma mãe!

Dá-me os sítios gentis onde eu brincava
Lá na quadra infantil;
Dá que eu veja uma vez o céu da pátria,
O céu do meu Brasil!

Canto de regresso à pátria, de Oswald de Andrade

Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá

Minha terra tem mais rosas
E quase tem mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra

Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá

Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo.

Sobre Gonçalves Dias

Gonçalves Dias nasceu em 10 de agosto de 1823, no Maranhão.

Filho de um comerciante português com uma mestiça, teve sua primeira educação ministrada por um professor particular.

Em 1838 saiu do Brasil a Portugal para dar continuidade a seus estudos, formando-se em Direito pela Universidade de Coimbra.

Em Portugal, conheceu grandes nomes da literatura portuguesa, especialmente os românticos Alexandre Herculano e Almeida Garrett, que muito o influenciaram.

No Brasil, seria Gonçalves Dias a figura central do que ficou conhecido como a primeira fase do romantismo brasileiro.

Após formado em Direito, retornou ao Brasil e fixou residência no Rio de Janeiro.

Nesta cidade, passou a publicar com maior frequência e atuou como professor de latim e história do Brasil no Colégio Pedro II que, na época, era o mais renomado do país.

Faleceu em 3 de novembro de 1864, com apenas 41 anos.

Obras de Gonçalves Dias

  • Primeiros cantos (1846)
  • Leonor de Mendonça (1847)
  • Segundos cantos e Sextilhas de Frei Antão (1848)
  • Últimos cantos (1851)
  • Cantos (1857)
  • Os Timbiras (1857)
  • Dicionário da língua tupi (1858)
  • Obras póstumas (1868-69)
  • Obras poéticas (1944)
  • Poesias completas e prosa escolhida (1959)
  • Teatro completo (1979)

Bônus: versão musical de Canção do exílio, de Gonçalves Dias, por Sérgio Britto

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado dessa ótima Canção do exílio.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas sobre a noite.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Poema Canção do exílio, de Gonçalves Dias (com análise). [S.I.] 2021. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/cancao-do-exilio-de-goncalves-dias-poema/. Acesso em: 1 dez. 2024.