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Poema Cidadezinha, de Mário Quintana (com análise)

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Conheça o poema Cidadezinha (“Cidadezinha cheia de graça…”), de Mário Quintana, e confira nossa análise!

Cidadezinha é um poema escrito pelo poeta brasileiro Mário Quintana, que está disponível em sua coletânea intitulada Lili inventa o mundo (1983).

Como o próprio título sugere, é esta uma obra criada com a intenção de estimular a imaginação das crianças, e contém textos tanto em prosa quanto em verso.

Dito isso, preparamos esse artigo para que você conheça o poema Cidadezinha, de Mário Quintana. Em seguida, você poderá conferir nossa análise.

Boa leitura!

Cidadezinha, de Mário Quintana

Cidadezinha cheia de graça…
Tão pequenina que até causa dó!
Com seus burricos a pastar na praça…
Sua igrejinha de uma torre só…

Nuvens que venham, nuvens e asas,
Não param nunca nem um segundo…
E fica a torre, sobre as velhas casas,
Fica cismando como é vasto o mundo!…

Eu que de longe venho perdido,
Sem pouso fixo (a triste sina!)
Ah, quem me dera ter lá nascido!

Lá toda a vida poder morar!
Cidadezinha… Tão pequenina
Que toda cabe num só olhar…

Análise do poema

  • Tipo de verso: livre
  • Número de estrofes: 4 estrofes: 2 quadras e 2 tercetos (soneto)
  • Número de versos: 14 versos

Cidadezinha é um poema construído em versos livres, portanto, é um poema que não se vale de metrificação, embora utilize rima.

O poema pode ser resumido como um misto entre retratação e idealização de uma cidade indefinida, nomeada carinhosamente cidadezinha.

Estrutura do poema

Cidadezinha é um soneto e, portanto, possui quatro estrofes, sendo duas quadras (ou quartetos) e dois tercetos.

O poema não utiliza metrificação, o que nos sugere um poeta despreocupado com muitas formalidades ao escrevê-lo, e a intenção de que seja ele lido leve e despretensiosamente.

Cidadezinha, porém, utiliza rimas em todos os versos.

As quadras do poema apresentam rimas que chamamos cruzadas, alternadas ou entrelaçadas, seguindo o esquema abab cdcd.

Percebemos, pois, que o poeta varia as rimas da primeira para a segunda estrofe, fugindo do padrão italiano e aproximando-se do padrão inglês.

Os tercetos, contudo, afastam-se do padrão inglês e utilizam uma variação comum em sonetos italianos, seguindo o padrão efe gfg.

Sentido do poema

Cidadezinha é um poema que descreve e idealiza uma cidade indefinida.

O uso do diminutivo em seu nome serve, simultaneamente, como expressão de carinho e de seu pequeno tamanho.

Assim começa o poema:

Cidadezinha cheia de graça…
Tão pequenina que até causa dó!
Com seus burricos a pastar na praça…
Sua igrejinha de uma torre só…

Nestes primeiros versos, notamos reforçadas as duas ideias expressas pelo uso do diminutivo em “cidadezinha”.

Dizendo-a “cheia de graça”, o eu lírico expressa o seu encanto para com ela; dizendo-a “tão pequenina que causa até dó”, salienta o seu pequeno tamanho e manifesta o afeto que sente ao mirá-la.

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Nos versos seguintes, o eu lírico descreve a paisagem desta cidade indefinida; mencionando as nuvens, a torre e as casas, ele nos possibilita a imaginar o cenário observado por alguém que a visite.

Eu que de longe venho perdido,
Sem pouso fixo (a triste sina!)
Ah, quem me dera ter lá nascido!

Neste terceto, após descrever a visão da cidade, o eu lírico faz uma espécie de desabafo: “Ah, quem me dera ter lá nascido!”.

Assim, ele manifesta todo o seu carinho pela tal cidadezinha, e confessa-nos que gostaria de ter nascido nela.

Portanto, neste ponto o poema toma contornos de idealização, reforçada pelos versos que o fecham:

Lá toda a vida poder morar!
Cidadezinha… Tão pequenina
Que toda cabe num só olhar…

Aqui, o eu lírico fica como dividido entre o lamento e o encanto, como se se deixasse perder em pensamentos ao imaginar a beleza da cidadezinha e como seria mais feliz se tivesse nascido nela.

Aliás, este tom reflexivo do poema, que sugere o eu lírico a meditar interiormente sobre a tal cidade, é expresso pelas reticências, que se destacam nesta e na primeira estrofe.

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É como se o poeta estivesse dizendo, em seus devaneios: “Ah, cidadezinha… como você é bela! como eu gosto de você!”.

Assim, Cidadezinha é um poema em que o eu lírico expressa o seu carinho por uma pequena e graciosa cidade.

Sobre Mário Quintana

Mário Quintana nasceu em Alegrete (RS), em 30 de julho de 1906.

Seu pai era dono de uma farmácia, e seus avós eram médicos.

Aos 13 anos, foi para Porto Alegre estudar no Colégio Militar como aluno interno, que acabou não terminando, embora fosse leitor voraz.

Deixou o colégio aos 17 anos, sem diploma, e se iniciou na vida literária, vivendo novamente em Alegrete.

Em 1926, teve um conto vencedor de um concurso patrocinado pelo Diário de Notícias, importante jornal da capital gaúcha.

Transferiu-se novamente a Porto Alegre em 1929, onde começou a trabalhar como jornalista.

Na década de 1930, estabilizou-se profissionalmente, trabalhando como jornalista e tradutor para a Editora Globo.

Seu primeiro livro, A rua dos cataventos, foi publicado em 1940, inaugurando uma época de grande atividade literária em sua vida.

Nas décadas de 60 e 70, consagrou-se nacionalmente como poeta, recebendo homenagens públicas como a saudação na Academia Brasileira de Letras por Augusto Meyer e Manuel Bandeira (1966), o título de Cidadão Honorário de Porto Alegre (1967), a placa de bronze em Alegrete (com a famosa inscrição: “Um engano em bronze é um engano eterno.”), entre outras.

Faleceu em 5 de maio de 1994, em Porto Alegre, aos 88 anos de idade.

Obras de Mário Quintana

  • A rua dos cataventos (1940)
  • Canções (1946)
  • Sapato florido (1948)
  • O aprendiz de feiticeiro (1950)
  • Espelho mágico (1951)
  • Inéditos e esparsos (1953)
  • Caderno H (1973)
  • Apontamentos de história sobrenatural (1976)
  • A vaca e o hipogrifo (1977)
  • Esconderijos do tempo (1980)
  • Baú de espantos (1986)
  • Da preguiça como método de trabalho (1987)
  • Preparativos de viagem (1987)
  • Porta giratória (1988)
  • A cor do invisível (1989)
  • Velório sem defunto (1990)
  • Água: os últimos textos de Mario Quintana (2001)

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema Cidadezinha, de Mário Quintana.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de conferir o que escrevemos sobre O Menino Azul, de Cecília Meireles.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Poema Cidadezinha, de Mário Quintana (com análise). [S.I.] 2023. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/cidadezinha-cheia-de-graca-mario-quintana/. Acesso em: 25 out. 2024.