Conheça o poema A fada das crianças (“Do seu longínquo reino cor-de-rosa”…), de Fernando Pessoa e confira nossa análise!
A fada das crianças é um poema escrito pelo poeta português Fernando Pessoa que está disponível nas edições mais recentes de suas obras.
O poema é datado de 1932 e apareceu pela primeira vez no volume intitulado Poesias inéditas (1955).
Como outros poemas desta obra, A fada das crianças não é intitulado pelo poeta, tendo sido este título atribuído por alguns editores e professores em salas de aula, uma vez que, neste caso, é tal fada a figura central do poema.
O mais comum é encontrá-lo sem título ou intitulado pelo primeiro verso.
Dito isso, preparamos esse texto para que você conheça o poema A fada das crianças, de Fernando Pessoa. Em seguida, você poderá conferir nossa análise.
Boa leitura!
A fada das crianças, de Fernando Pessoa
Do seu longínquo reino cor-de-rosa,
Voando pela noite silenciosa,
A fada das crianças vem, luzindo.
Papoulas a coroam, e, cobrindo
Seu corpo todo, a tornam misteriosa.À criança que dorme chega leve,
E, pondo-lhe na fronte a mão de neve,
Os seus cabelos de ouro acaricia —
E sonhos lindos, como ninguém teve,
A sentir a criança principia.E todos os brinquedos se transformam
Em coisas vivas, e um cortejo formam:
Cavalos e soldados e bonecas,
Ursos e pretos, que vêm, vão e tornam,
E palhaços que tocam em rabecas…E há figuras pequenas e engraçadas
Que brincam e dão saltos e passadas…
Mas vem o dia, e, leve e graciosa,
Pé ante pé, volta a melhor das fadas
Ao seu longínquo reino cor-de-rosa.
Análise do poema
- Tipo de verso: decassílabo rimado
- Número e tipo de estrofes: 4 estrofes regulares
- Número de versos: 20 versos
A fada das crianças é um poema construído em decassílabos rimados, portanto, é um poema que utiliza metrificação e rima.
O poema pode ser resumido numa descrição da ação fantástica de uma fada sobre uma criança que dorme.
Estrutura do poema
A fada das crianças possui 20 versos divididos em quatro quintilhas.
Os versos do poema são decassílabos, isto é, são versos metrificados que apresentam, cada um deles, dez sílabas poéticas.
Quanto às rimas, a primeira estrofe apresenta-se conforme o esquema aabba, e as demais conforme o esquema aabab.
Vemos, pois, que o que se altera é que a segunda rima de cada estrofe (“b”), deixa de apresentar-se em parelha para apresentar-se alternadamente a partir da segunda estrofe.
Quanto ao ritmo, encontramos predominantes no poema decassílabos heroicos (acentuação na 6ª sílaba) e sáficos (acentuação na 4ª e 8ª).
O décimo quarto verso, porém, não se enquadra em nenhum destes modelos, e parece ter o poeta deslocado o acento da sexta sílaba para reforçar o efeito de “vêm, vão”, que aparece em sequência.
Sentido do poema
A fada das crianças é um poema que narra a ação mágica de uma fada sobre uma criança que dorme.
A esta fada, são conferidas qualidades fantásticas exatamente como nas histórias infantis.
Como já mencionamos no início do texto, é em razão de o poema girar em torno dela que muitos têm-lhe atribuído o título de A fada das crianças, algo que não foi feito por Fernando Pessoa.
Assim começa o poema:
Do seu longínquo reino cor-de-rosa,
Voando pela noite silenciosa,
A fada das crianças vem, luzindo.
Papoulas a coroam, e, cobrindo
Seu corpo todo, a tornam misteriosa.
Nesta estrofe, fica exposto o caráter fantasioso que perdurará por todo o poema.
Primeiramente, percebemos que os versos descrevem uma fada, “a fada das crianças”, que sai de seu “longínquo reino cor-de-rosa” e, voando e luzindo pela “noite silenciosa”, movimenta-se em direção a algo ou alguém, o que podemos deduzir pelo vocábulo “vem”.
Portanto, é uma fada que voa, brilha e apresenta-se com uma coroa de papoulas; a esta fada é conferida, também, a qualidade de misteriosa.
À criança que dorme chega leve,
E, pondo-lhe na fronte a mão de neve,
Os seus cabelos de ouro acaricia —
E sonhos lindos, como ninguém teve,
A sentir a criança principia.
Aqui, é-nos revelado que a fada, que saiu de seu reino longínquo, aproxima-se “leve” de uma criança que dorme, como não querendo acordá-la.
A fada, então, toca-lhe a fronte com suas “mãos de neve”, acaricia-lhe os “cabelos de ouro”, e a partir deste momento a criança passa a ter sonhos lindos como ninguém nunca teve.
Percebemos, pois, que a fada é pintada delicadamente, e que seu objetivo é estimular sonhos lindos na criança.
Na estrofe seguinte, há uma descrição do que ocorre nestes sonhos, com objetos tomando vida enquanto se espraia uma atmosfera lúdica e alegre.
Finalmente, o poema é encerrado com estes versos:
E há figuras pequenas e engraçadas
Que brincam e dão saltos e passadas…
Mas vem o dia, e, leve e graciosa,
Pé ante pé, volta a melhor das fadas
Ao seu longínquo reino cor-de-rosa.
A fada, então, após estimular o lindo sonho na criança, retorna ao seu reino distante, posto que a manhã se aproxima.
Vemos, assim, que o narrador do poema nos sugere que esta “fada das crianças”, que é “leve e graciosa”, atua somente à noite, permanecendo em seu “reino cor-de-rosa” durante o dia.
Deste modo, A fada das crianças é um poema que retrata a ação mágica de uma fada sobre a imaginação de uma criança.
Sobre Fernando Pessoa
Fernando Pessoa foi um poeta e escritor português que nasceu em Lisboa, em 13 de junho de 1888.
Sua vasta obra contempla poemas, escritos filosóficos, sociológicos, astrológicos, ensaios de crítica literária, entre outros.
Em vida, Fernando Pessoa trabalhou como tradutor, correspondente estrangeiro, crítico literário e colaborador em revistas literárias, recusando alguns empregos para que pudesse se dedicar à literatura.
O poeta chegou a matricular-se na Faculdade de Letras de Lisboa, abandonando-a sem concluir o curso.
Sem dúvida, a grande excentricidade de Fernando Pessoa está em seus conhecidos heterônimos, que não são senão variações de sua própria personalidade, mas construídos com engenho incrível.
O poeta não se limitou a criar personalidades para seus heterônimos, e deu luz a uma história de vida completa para cada um deles, com data de nascimento adequando-se aos respectivos horóscopos, temperamento, estilo de vida, estilo literário e até data de óbito.
Fernando Pessoa faleceu em 30 de novembro de 1935, deixando em seu espólio cerca de 25 mil páginas de textos, que vêm sendo publicados lentamente desde então.
Os heterônimos de Fernando Pessoa
Fernando Pessoa ficou famoso por escrever sob o nome de heterônimos.
Foram muitas e muitas personalidades criadas por ele, e abaixo fazemos um resumo biográfico das quatro mais famosas:
- Álvaro de Campos: nascido em Tavira, em 1890. Possuía temperamento emotivo e, por isso mesmo, é às vezes eufórico e exaltado. Viajou para a Escócia e para o Oriente, educou-se na Inglaterra e formou-se engenheiro.
- Alberto Caeiro: nascido em Lisboa, em 1889, e falecido de tuberculose. Escrevia poemas, mas não possuía educação formal. Era denominado mestre por Álvaro de Campos, que o colocava como precursor e ícone do movimento literário que ficou conhecido em Portugal como Sensacionismo. Distinguia-se pela racionalidade e objetividade, e tinha uma vida ligada ao campo e aos rebanhos.
- Ricardo Reis: nascido no Porto, em 1887. Era médico e, segundo nos conta Pessoa, “está frequentemente no Brasil”.
- Bernardo Soares: era um “ajudante de guarda-livros” lisboeta, autor do famosíssimo Livro do desassossego. Era considerado um “semi-heterônimo” por Fernando Pessoa, porque, nas palavras do poeta, “não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e afectividade”.
Obras de Fernando Pessoa
Fernando Pessoa publicou poucas obras em vida e, até hoje, possui parte de seus manuscritos inéditos.
Seus textos em poesia e prosa já foram editados sob muitos títulos, e abaixo destacamos algumas de suas obras mais conhecidas:
- 35 sonnets (1918)
- Antinous (1918)
- English poems (1921) — em três volumes
- Mensagem (1934)
- A Nova Poesia Portuguesa (1944)
- Poemas Dramáticos (1952)
- Cartas de Amor de Fernando Pessoa (1978)
- Sobre Portugal (1979)
- Textos de Crítica e de Intervenção (1980)
- Livro do desassossego (1982)
- Obra Poética de Fernando Pessoa (1986)
- Primeiro Fausto (1986)
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema A fada das crianças, de Fernando Pessoa.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver o que escrevemos sobre A lua no cinema, de Paulo Leminski.
Um abraço e até a próxima!