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Poema Círculo vicioso, de Machado de Assis (com análise)

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Conheça o poema Círculo vicioso, de Machado de Assis, e confira nossa análise!

Círculo vicioso é um poema escrito pelo escritor e poeta brasileiro Machado de Assis, disponível em Poesias completas (1901).

Este poema retrata a insatisfação generalizada e permanente observada neste mundo.

Dito isso, preparamos esse texto para que você conheça o poema Círculo vicioso, de Machado de Assis. Em seguida, você poderá conferir nossa análise.

Boa leitura!

Círculo vicioso, de Machado de Assis

Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
— “Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!”
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

— “Pudesse eu copiar o transparente lume,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!”
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:

— “Mísera! tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal, que toda a luz resume!”
Mas o sol, inclinando a rútila capela:

— “Pesa-me esta brilhante auréola de nume…
Enfara-me esta azul e desmedida umbela…
Por que não nasci eu um simples vaga-lume?”

Análise do poema

Círculo vicioso é um soneto construído em dodecassílabos rimados, portanto, é um poema que utiliza metrificação e rima.

O poema, sob forma de parábola, resume o caráter permanente da insatisfação no mundo.

Estrutura do poema

Círculo vicioso é um soneto, portanto, possui 14 versos divididos em 4 estrofes, sendo elas duas quadras e dois tercetos.

Os versos são dodecassílabos, ou seja, apresentam, cada um deles, doze sílabas poéticas; este verso é comumente chamado alexandrino.

As quadras apresentam rimas que chamamos enlaçadas, isto é, rimam em parelha dois versos entre dois outros que também rimam, conforme o esquema abba.

Os tercetos apresentam-se conforme o esquema cdc dcd, repetindo, porém, as rimas das quadras, o que faz com que este soneto seja inteiramente construído sobre duas rimas.

Estes versos enquadram-se no que chamamos verso alexandrino clássico, pois apresentam a sexta sílaba sempre acentuada, a qual recai em palavra aguda ou grave; se grave, a palavra é terminada em vogal que faz sinalefa com a primeira sílaba da palavra seguinte.

Sentido do poema

Círculo vicioso é um poema que retrata, ironicamente, a insatisfação e a inveja.

A expressão “círculo vicioso” diz respeito a uma sucessão de acontecimentos que se repetem e retornam sempre ao ponto de partida; a maioria das vezes, esta expressão emprega-se com conotação negativa, designando uma situação que não se pode resolver ou da qual não se consegue sair.

O poema começa da seguinte maneira:

Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
— “Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!”
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

De início, notamos o emprego da personificação, ou prosopopeia, uma vez que características humanas (o gemer, o sentir e o pensar) são atribuídas ao vaga-lume.

Este, pois, segundo o poema, “gemia inquieto”, e expressa nos versos o sentimento de inveja em relação a uma estrela.

Esta mesma estrela se manifesta na estrofe seguinte:

Ad Curso de Poesia

— “Pudesse eu copiar o transparente lume,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!”
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:

O mesmo sentimento experimentado pelo vaga-lume para com a estrela, é agora expresso pela estrela ao fitar a lua.

O último verso, tal como na estrofe anterior, faz uma conexão com a estrofe seguinte, desta vez apresentando as palavras da lua:

— “Mísera! tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal, que toda a luz resume!”
Mas o sol, inclinando a rútila capela:

Agora, é a invejada lua que expressa sua inveja em relação ao sol que, a seus olhos, possui uma “claridade imortal” que lhe falta.

Aqui, cabe notar como fica evidente a estrutura circular do poema: cada uma das três primeiras estrofes expressa o desejo individual de um ente, que inveja qualidades de outro.

O último verso, aberto com uma conjunção adversativa (“mas”), dá a entender que, apesar das qualidades descritas, o ente invejado se manifestará em sequência.

Desta vez, a manifestação anunciada é do sol:

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— “Pesa-me esta brilhante auréola de nume…
Enfara-me esta azul e desmedida umbela…
Por que não nasci eu um simples vaga-lume?”

O imenso sol, portanto, encerra o poema invejando o pequeno vaga-lume, fechando o “círculo” e dando a entender que o processo se iniciaria novamente.

O poema, pois, sutil e ironicamente, insinua que a inveja é algo sem fim, dando razão àquele ditado popular que diz que “a grama do vizinho é sempre mais verde”.

Quer dizer, o poema insinua que todos nós inclinamo-nos a dar maior valor àquilo que nos falta do que àquilo que possuímos.

Círculo vicioso, assim, emprega uma alegoria para criticar a inclinação humana para a inveja e para a insatisfação.

Sobre Machado de Assis

Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em 21 de junho de 1839.

Filho de um pintor e decorador de paredes com uma imigrante portuguesa, passou a infância e adolescência no bairro do Livramento.

Machado teve uma irmã mais nova, que faleceu em 1845, aos quatro anos. Quando completou dez anos, ficou órfão de mãe.

Mudou-se para São Cristóvão com o pai, que se casou novamente em 1854.

Em 1856, passou a trabalhar como aprendiz de tipógrafo na Tipografia Nacional.

Em 1858, trabalhou como revisor na livraria do jornalista e escritor Paulo Brito.

Pouco depois, trabalhou como crítico teatral, e começou a escrever regularmente para periódicos.

Recebendo, em 1867, o grau de Cavaleiro da Ordem da Rosa de D. Pedro II, foi nomeado ajudante do diretor do Diário Oficial, o que lhe abriu as portas da carreira burocrática.

Casou-se em 1869, com a portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais.

Perdurou alternando o serviço público com a carreira literária. Em 1888, recebeu o título de Oficial da Ordem da Rosa.

Foi fundador e presidente da Academia Brasileira de Letras, chamada Casa de Machado de Assis durante a sua presidência.

Em 1904, perdeu a esposa, algo que muito o abalou.

Faleceu em 29 de setembro de 1908, no Rio de Janeiro.

Obras de Machado de Assis

  • Desencantos (1861)
  • Teatro (1863)
  • Quase ministro (1864)
  • Crisálidas (1864)
  • Os deuses de casaca (1866)
  • Falenas (1870)
  • Contos fluminenses (1870)
  • Ressurreição (1872)
  • Histórias da meia-noite (1873)
  • A mão e a luva (1874)
  • Americanas (1875)
  • Helena (1876)
  • Iaiá Garcia (1878)
  • Memórias póstumas de Brás Cubas (1881)
  • Tu, só tu, puro amor (1881)
  • Papéis avulsos (1882)
  • Histórias sem data (1884)
  • Quincas Borba (1891)
  • Várias histórias (1896)
  • Páginas recolhidas (1899)
  • Dom Casmurro (1899)
  • Poesias completas (1901)
  • Esaú e Jacó (1904)
  • Relíquias de casa velha (1906)
  • Memorial de Aires (1908)
  • Crítica (1910)
  • Outras relíquias (1910)
  • Correspondência (1932)
  • Crônicas, 4 vols. (1937)
  • Crítica literária (1937)
  • Casa velha (1944)

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema Círculo vicioso, de Machado de Assis.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de conferir o que escrevemos sobre Como eu te amo, de Gonçalves Dias.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Poema Círculo vicioso, de Machado de Assis (com análise). [S.I.] 2024. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poema-circulo-vicioso-machado-de-assis/. Acesso em: 5 set. 2024.