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Poema Fanatismo, de Florbela Espanca (com análise)

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Conheça o poema Fanatismo, de Florbela Espanca, e confira nossa análise!

Fanatismo é um poema assinado pela portuguesa Florbela Espanca e publicado em 1923, no Livro de sóror saudade.

Este poema adota a forma preferida de Florbela, o soneto, e tem como temática o amor (um amor extremado, como o título sugere).

Fanatismo tornou-se uma das composições mais celebradas da grande poetisa portuguesa, e ganhou versões musicais de nomes populares da música brasileira, como Fagner e Zé Ramalho.

Dito isso, preparamos esse texto para que você conheça Fanatismo, de Florbela Espanca. Em seguida, você poderá conferir nossa análise do poema.

Boa leitura!

Fanatismo, de Florbela Espanca

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver.
Não és sequer razão do meu viver
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida…
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No mist’rioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!…

“Tudo no mundo é frágil, tudo passa…”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
“Ah! podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!…”

Análise do poema

O poema Fanatismo é um soneto construído em decassílabos rimados, portanto, é um poema que se vale de metrificação e de rima.

Trata-se de um soneto clássico, que se enquadra no modelo que comumente chamamos soneto italiano ou soneto petrarquiano.

Neste tipo de soneto, associado ao poeta italiano Francesco Petrarca, temos como padrão 14 versos decassílabos rimados divididos em duas quadras e dois tercetos, de forma que as quadras apresentam dois tipos de rimas e os tercetos combinam duas ou três rimas diferentes.

Estrutura do poema

Fanatismo é um soneto clássico construído em versos decassílabos que, conforme o padrão clássico, apresentam a sexta sílaba sempre acentuada.

Tal regularidade contribui para a musicalidade do poema, que é reforçada pelo uso de rimas.

As quadras de Fanatismo apresentam rimas que chamamos enlaçadas, ou seja, rimam em parelha dois versos entre dois outros que também rimam, conforme o esquema abba.

Os tercetos, por sua vez, apresentam o esquema aab ccb.

É interessante notar que, neste soneto, todas as rimas são ricas, quer dizer, rimam palavras de classes gramaticais diferentes (exceção feita ao décimo segundo e décimo terceiro verso, que rimam “rastros” com “astros”, o que não é de forma alguma uma má rima).

Sentido do poema

Fanatismo não guarda segredo quanto a seu sentido: trata-se de um poema em que o eu lírico, apaixonado, declara seu amor.

O título “Fanatismo” sugere o tom que lhe permeia os versos: é um amor extremado, intensíssimo que experimenta a voz que narra o poema.

A primeira quadra explicita este tom:

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver.
Não és sequer razão do meu viver
Pois que tu és já toda a minha vida!

Aqui, vemos a ideia de “fanatismo” presente em rigorosamente todos os versos.

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O paradoxo utilizado em “Meus olhos andam cegos de te ver” sugerem uma intensidade de sentimento que turva os olhos, isto é, a razão do eu lírico que se declara.

Em seguida, vemos o uso de outra figura de linguagem, a hipérbole, presente no verso “Pois que tu és já toda a minha vida”; naturalmente, é um exagero que realça ainda mais a intensidade dos versos, pintando este amor experimentado pelo eu lírico como uma obsessão.

Na segunda quadra, a ideia de obsessão é admitida já no primeiro verso, através do adjetivo “enlouquecida”.

O poema prossegue reforçando a expressão do amor experimentado pelo eu lírico que, nos tercetos, desdenha de quem suponha que sentimentos são passageiros, como se aquele que o fizesse jamais houvesse sentido algo parecido ao seu amor.

Finalmente, o último verso de Fanatismo parece elevar ao ápice a expressão deste amor tão intenso, quando o sujeito amado é comparado a Deus.

Fazendo isso, o eu lírico dota o amor que sente de um caráter inteiramente devocional e absurdo, justificando o título do poema.

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Fanatismo, portanto, é um poema em que o eu lírico representa poeticamente a força de um amor que lhe tomou a vida.

Sobre Florbela Espanca

Florbela Espanca nasceu em 8 de dezembro de 1894, em Vila Viçosa, no Alentejo.

Estudou o curso secundário em Évora, concluindo-o em 1917 e matriculando-se, em seguida, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

Publicou sua primeira obra, Livro de mágoas, em 1919. Nesta época, começou a apresentar desequilíbrios emocionais e sofreu um aborto espontâneo.

Em 1927, após casamentos malsucedidos, perdeu o irmão num acidente de avião e tentou o suicídio.

Tal evento inspirou-a a escrever As máscaras do destino, publicado postumamente, em 1931.

Suicidou-se em Matosinhos, em 8 de dezembro de 1930, dia de seu aniversário de 36 anos.

Obras de Florbela Espanca

  • Livro de mágoas (1919)
  • Livro de sóror saudade (1923)
  • Charneca em flor (1931)
  • Juvenília (1931)
  • As máscaras do destino (1931)
  • Reliquiae (1934)

Bônus: versão musical de Fanatismo, de Florbela Espanca

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema Fanatismo, de Florbela Espanca.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver o que escrevemos sobre Consoada, de Manuel Bandeira.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Poema Fanatismo, de Florbela Espanca (com análise). [S.I.] 2022. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poema-fanatismo-de-florbela-espanca-poesia/. Acesso em: 26 out. 2024.