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Poema Mal secreto, de Raimundo Correia (com análise)

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Conheça o poema Mal secreto, de Raimundo Correia, e confira nossa análise!

O poema Mal secreto é um dos mais conhecidos da obra do grande poeta maranhense Raimundo Correia.

Este soneto, publicado pela primeira vez em Sinfonias (1883), destaca-se tanto pela forte mensagem que transmite, quanto pela forma vistosamente esmerada.

Ambas elas, a forma e a mensagem, já foram algumas vezes comentadas por intelectuais brasileiros, e tem este soneto um lugar especial na literatura brasileira.

Dito isso, preparamos esse texto para que você conheça o poema Mal secreto, de Raimundo Correia. Em seguida, você poderá conferir nossa análise.

Boa leitura!

Mal secreto, de Raimundo Correia

Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!

Análise do poema

O poema Mal secreto é um soneto construído em decassílabos rimados, portanto, é um poema que se vale de metrificação e de rima.

Trata-se de um soneto clássico, que se enquadra no modelo que comumente chamamos soneto italiano ou soneto petrarquiano.

Neste tipo de soneto, associado ao poeta italiano Francesco Petrarca, temos como padrão 14 versos decassílabos rimados divididos em duas quadras e dois tercetos, de forma que as quadras apresentam dois tipos de rimas e os tercetos combinam duas ou três rimas diferentes.

Estrutura do poema

Mal secreto é um soneto clássico construído em versos decassílabos que, conforme o padrão clássico, apresentam a sexta sílaba sempre acentuada (exceção feita ao segundo verso, que apresenta acentuação na quarta e oitava sílaba, variação rítmica também encontrada nos clássicos).

Tal regularidade contribui para a musicalidade do poema, que é reforçada pelo uso de rimas.

As quadras de Mal secreto apresentam rimas que chamamos cruzadas, alternadas ou entrelaçadas, seguindo o esquema abab, ou seja, alternando-se.

Os tercetos, por sua vez, apresentam o esquema aab ccb.

Sentido do poema

Mal secreto é um poema que poderíamos chamar filosófico ou, mais especificamente, moralista.

Este soneto tem como temática a hipocrisia e falsidade humana, acostumada a esconder aquilo que sente e fingir ser aquilo que não é.

Tal ideia é desenvolvida através de três períodos, estendendo-se o primeiro pelas quadras iniciais e os restantes, separadamente, por cada um dos tercetos.

Todos estes períodos são finalizados com uma exclamação que expressa o espanto do eu lírico em relação ao tema retratado, isto é, a falsidade.

Embora Mal secreto utilize um vocabulário rebuscado e lance mão de palavras como “recôndito” e “ventura”, seu sentido é demasiado simples: o poema expressa simultaneamente uma denúncia e uma crítica da conduta humana.

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O eu lírico quer nos dizer, em primeiro lugar, que as aparências enganam, e não podemos perceber, através da “face”, o que se passa no interior de um ser humano.

Tal ideia é-nos apresentada nas quadras que abrem o poema.

Em seguida, nos tercetos, o eu lírico passa ao tom mais crítico e expõe o prazer experimentado por muitas pessoas em parecerem aos outros aquilo que não são, ou seja, o prazer (a “ventura”) em enganá-las.

Esta crítica é finalizada com um julgamento do eu lírico que fica implícito nos últimos versos do poema, que expressam o espanto em se constatar o número enorme de pessoas cuja única alegria que extraem da vida consistir em serem invejadas pelos outros.

Quer dizer: nada mais as alegra, consistindo nisto o mal secreto que tentam esconder — mal que, em outras palavras, poderia ser resumido em sua corrupção moral.

Sobre Raimundo Correia

Raimundo Correia nasceu em 13 de maio de 1859, a bordo do navio São Luiz, ancorado em águas maranhenses.

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Fez os estudos secundários no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Em seguida, ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.

Em 1879, publicou sua primeira obra, Primeiros sonhos, o que lhe valeu algum reconhecimento literário.

Formou-se advogado em 1882, em seguida retornando ao Rio de Janeiro, onde exerceu uma bem-sucedida carreira jurídica.

Seu segundo livro, Sinfonias, foi publicado em 1883, com direito a prefácio de Machado de Assis.

Esta obra continha alguns de seus poemas que ficaram mais conhecidos, como Mal secreto e, mais especificamente, As pombas, valendo-lhe este último poema o apelido de “poeta das pombas”.

Após assumir o Parnasianismo, integrou, junto a Alberto de Oliveira e Olavo Bilac, a famosa Tríade Parnasiana.

Além de poeta, atuou como magistrado, professor e diplomata.

Faleceu em Paris no dia 13 de setembro de 1911.

Obras poéticas de Raimundo Correia

  • Primeiros sonhos (1879)
  • Sinfonias (1883)
  • Versos e versões (1887)
  • Aleluias (1891)
  • Poesias (1898)

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema Mal secreto, de Raimundo Correia.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa análise do poema Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Poema Mal secreto, de Raimundo Correia (com análise). [S.I.] 2022. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poema-mal-secreto-de-raimundo-correia-poesia/. Acesso em: 14 mai. 2024.