Conheça o poema Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade, e confira nossa análise!
Quadrilha é um poema muito conhecido do poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade, publicado pela primeira vez em sua obra de estreia, Alguma poesia.
O poema, escrito em linguagem simples e direta, é um belo representante do Modernismo brasileiro e tem como temática os desencontros amorosos aos quais todos nós estamos sujeitos.
Apesar de ter sido escrito há quase um século, Quadrilha permanece atual por tratar deste tema atemporal que é o amor e suas consequências.
Dito isso, preparamos esse artigo para que você conheça o poema Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade. Em seguida, você poderá conferir nossa análise.
Boa leitura!
Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
Análise do poema
Quadrilha é um poema construído em versos livres, portanto, é um poema que não utiliza nem metrificação, nem rima.
O poema resume-se numa exposição direta de uma cadeia de relacionamentos amorosos e o desfecho para cada um dos envolvidos.
Estrutura do poema
Quadrilha possui 7 versos dispostos em uma única estrofe.
O poema não utiliza rimas de nenhuma espécie, nem possui um padrão rítmico a ditar-lhe a cadência.
Percebemos, visualmente, que há dois pontos finais ao longo do poema: o primeiro, no final do terceiro verso; o segundo, fechando a composição.
Tal disposição nos evidencia dois únicos períodos: num deles, temos o que poderíamos chamar de premissa; já no outro, a conclusão, ou desfecho da premissa.
Sentido do poema
Quadrilha é um poema que trata do amor, da separação e do destino.
O título “Quadrilha” parece nos sugerir a metáfora de que o amor é uma dança em que há troca de pares, exatamente como na tradicional dança das festas juninas brasileiras.
O poema é iniciado com uma sequência que expõe uma cadeia de relacionamentos amorosos:
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
Percebemos que, ao repetir várias vezes a estrutura da primeira frase, Drummond mostra-nos como pode ser complexo algo aparentemente banal como “João amava Teresa”.
É interessante observar como estes primeiros versos representam muito bem a estética praticada no movimento modernista brasileiro.
A linguagem é coloquial, a temática é cotidiana, e tal podemos observar até pelos nomes das personagens: João, Teresa, Raimundo, Maria, Joaquim…
Porém, assim como em outros poemas modernistas, tal simplicidade tem um quê de graça e uma profundidade que parece camuflada na singeleza dos versos.
O segundo período do poema, iniciado no quarto verso, apresenta-nos o desfecho da cadeia de relacionamentos descrita nos versos iniciais:
João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
Mantendo as mesmas características de linguagem, isto é, narrando simples e diretamente, o eu lírico descreve-nos como malograram todos os amores das personagens do poema.
Há algo quase cômico na maneira em que o poema é desenvolvido, que parece nos passar a mensagem de que o amor sempre conduz a estes desencontros e frustrações.
Quadrilha nos faz também pensar sobre como podemos ser afetados pelo destino e pelas circunstâncias da vida, que nos impõem separações e situações imprevistas.
A conclusão do poema é pessimista, e pinta o amor como algo absurdo, de desfecho quase sempre desagradável, senão trágico, parecendo-nos dizer que o final feliz, em amor, é praticamente impossível, sendo o normal um amor não se concretizar.
Sobre Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira, Minas Gerais, em 31 de outubro de 1902.
Filho de proprietários rurais, ele passou a primeira infância no interior desta cidade, estudando no Grupo Escolar Dr. Carvalho Brito.
Em 1916, foi a Belo Horizonte iniciar seus estudos no internato e colégio Arnaldo.
Em 1918, mudou-se para Nova Friburgo (RJ) para estudar no colégio Anchieta. Ali permaneceu por um ano, acabando expulso por “insubordinação mental”, após ter um atrito com seu professor de português.
Em 1923, iniciou o curso de Farmácia na Escola de Odontologia e Farmácia de Belo Horizonte, concluindo-o em 1925. Neste mesmo ano, foi um dos fundadores do periódico modernista A Revista.
Em 1926, embora formado farmacêutico, foi a Itabira para trabalhar como professor de geografia e português, voltando a Belo Horizonte no mesmo ano, para ser redator no Diário de Minas.
Em 1930, Drummond, de forma independente, publicou seu primeiro livro, Alguma poesia. O reconhecimento literário só viria, porém, em 1942, com a publicação de Poesias.
Drummond exerceu em vida alguns cargos públicos e atuou, a princípio, como auxiliar de gabinete da Secretaria do Interior. Depois assumiu a chefia do gabinete do Ministério da Educação. Entre 1945 e 1962 atuou como funcionário da Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DPHAN), onde se aposentou como chefe de seção.
O poeta casou-se uma e foi pai duas vezes, falecendo no Rio de Janeiro, em 1987, apenas doze dias após à morte de sua filha.
Obras de Carlos Drummond de Andrade
Poesia
- Alguma poesia (1930)
- Brejo das almas (1934)
- Sentimento do mundo (1940)
- Poesias (1942)
- A rosa do povo (1945)
- Novos poemas (1948)
- Claro enigma (1951)
- Viola de bolso (1952)
- Fazendeiro do ar (1954)
- A vida passada a limpo (1955)
- Lição de coisas (1962)
- Versiprosa (1967)
- Boitempo (1968)
- A falta que ama (1968)
- Nudez (1968)
- As impurezas do branco (1973)
- Menino antigo (1973)
- A visita (1977)
- Discurso de primavera e algumas sombras (1977)
- O marginal Clorindo Gato (1978)
- Esquecer para lembrar (1979)
- A paixão medida (1980)
- Caso do vestido (1983)
- Corpo (1984)
- Eu, etiqueta (1984)
- Amar se aprende amando (1985)
- Poesia errante (1988)
- O amor natural (1992)
- Farewell (1996)
Prosa
- Confissões de Minas (1944)
- Contos de aprendiz (1951)
- Passeios na ilha (1952)
- Fala, amendoeira (1957)
- A bolsa & a vida (1962)
- A minha vida (1964)
- Cadeira de balanço (1966)
- Caminhos de João Brandão (1970)
- O poder ultrajovem e mais 79 textos em prosa e verso (1972)
- De notícias & não notícias faz-se a crônica (1974)
- 70 historinhas (1978)
- Contos plausíveis (1981)
- Boca de luar (1984)
- O observador no escritório (1985)
- Tempo vida poesia (1986)
- Moça deitada na grama (1987)
- O avesso das coisas (1988)
- Autorretrato e outras crônicas (1989)
Bônus: Poema Quadrilha na voz de Carlos Drummond de Andrade
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de conferir o que escrevemos sobre o Poema em linha reta, de Fernando Pessoa.
Um abraço e até a próxima!