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Poema Sossega, coração! Não desesperes!, de Fernando Pessoa (com análise)

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Conheça o poema Sossega, coração! Não desesperes!, de Fernando Pessoa e confira nossa análise!

Sossega, coração! Não desesperes! é um poema escrito pelo poeta português Fernando Pessoa que está disponível nas edições mais recentes de suas obras.

O poema é datado de 2 de agosto de 1933 e apareceu pela primeira vez no volume intitulado Novas poesias inéditas (1973).

Sossega, coração! Não desesperes! é a terceira de um conjunto de três partes contendo, cada uma delas, três quintilhas.

São versos líricos que tratam, naturalmente, da relação entre aquilo que o “coração” do eu lírico deseja e aquilo que efetivamente tem.

Dito isso, preparamos esse texto para que você conheça o poema Sossega, coração! Não desesperes!, de Fernando Pessoa. Em seguida, você poderá conferir nossa análise.

Boa leitura!

Sossega, coração! Não desesperes!, de Fernando Pessoa

Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solene pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.

Análise do poema

  • Tipo de verso: decassílabo rimado
  • Número e tipo de estrofes: 3 estrofes regulares
  • Número de versos: 15 versos

Sossega, coração! Não desesperes! é um poema construído em decassílabos rimados, portanto, é um poema que utiliza metrificação e rima.

O poema pode ser resumido numa reflexão do eu lírico sobre aquilo que sente e deseja.

Estrutura do poema

Sossega, coração! Não desesperes! possui 15 versos divididos em três quintilhas (estrofes de cinco versos).

As estrofes utilizam rimas que chamamos cruzadas, alternadas ou entrelaçadas, isto é, são rimas que se alternam, apresentando-se conforme o esquema ababa.

Os versos do poema são decassílabos, isto é, são versos metrificados que apresentam, cada um deles, dez sílabas poéticas.

Quanto ao ritmo, eles se enquadram no padrão chamado decassílabo italiano e apresentam, sempre, acentuação ou na 6ª sílaba (decassílabo heroico), ou na 4ª e na 8ª (verso sáfico).

Sentido do poema

Sossega, coração! Não desesperes! é um poema que, numa interpretação literal, explora a natureza humana, com seus desejos e anseios.

Trata-se de um poema lírico, portanto, de um poema que traduz em expressão poética pensamentos e sentimentos íntimos daquele que o compôs.

Já no primeiro verso vemos que o eu lírico expressa uma tentativa de abrandar aquilo que sente, pedindo para que seu coração sossegue e não se desespere.

Em seguida, alimenta o eu lírico a própria esperança dizendo que um dia poderá encontrar aquilo que quer e, “livre de falsas nostalgias”, atingirá a perfeição de ser.

Tais versos parecem sugerir que é preciso ter paciência e esperar pelo momento em que encontraremos o que desejamos.

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A segunda estrofe aborda de maneira muito interessante a psicologia humana, que sonha querendo não sonhar, isto é, querendo realidade em vez de sonho.

O eu lírico taxa de “pobre” tanto o sonho que brota querendo deixar de ser sonho quanto a esperança de existir e não mais que existir.

Esta estrofe também pode ser interpretada como sugerindo paradoxalmente que o sonho é a vida e é pobre uma vida sem sonhos.

Na última estrofe, como a conter a própria agitação em que o pensamento lhe meteu, repete novamente o sujeito poético um “Sossega, coração!” adicionando um pedido de “dorme!”.

Diz ele o “sossego” não exigir “razão nem causa” e desejar somente a “noite plácida e enorme”, isto é, desejar uma trégua no sentir, uma tranquilidade diante das próprias preocupações “antes que tudo em tudo se transforme”.

Estes versos derradeiros de Sossega, coração! Não desesperes! são um tanto sugestivos e enigmáticos, como habitual em muitas composições de Fernando Pessoa.

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É possível interpretá-los como expressando a mensagem de que é necessário tranquilizar-se, independentemente das circunstâncias, até que se alcance aquilo que se deseja.

É possível, também, cavar mais fundo, e ler nestes versos a mensagem de que é preciso viver tranquilamente antes que “tudo em tudo se transforme”, isto é, antes que ocorra o inevitável: a vida se acabe e o ser misture-se no todo que constitui o universo.

Esta última interpretação é reforçada por outros elementos do poema, como a menção “para além dos dias” e “falsas nostalgias” (estas que podem ser interpretadas metaforizando a própria vida).

Sossega, coração! Não desesperes! é, assim, um poema filosófico, sugestivo, que faz uma profunda reflexão sobre os sentimentos humanos.

Sobre Fernando Pessoa

Fernando Pessoa foi um poeta e escritor português que nasceu em Lisboa, em 13 de junho de 1888.

Sua vasta obra contempla poemas, escritos filosóficos, sociológicos, astrológicos, ensaios de crítica literária, entre outros.

Em vida, Fernando Pessoa trabalhou como tradutor, correspondente estrangeiro, crítico literário e colaborador em revistas literárias, recusando alguns empregos para que pudesse se dedicar à literatura.

O poeta chegou a matricular-se na Faculdade de Letras de Lisboa, abandonando-a sem concluir o curso.

Sem dúvida, a grande excentricidade de Fernando Pessoa está em seus conhecidos heterônimos, que não são senão variações de sua própria personalidade, mas construídos com engenho incrível.

O poeta não se limitou a criar personalidades para seus heterônimos, e deu luz a uma história de vida completa para cada um deles, com data de nascimento adequando-se aos respectivos horóscopos, temperamento, estilo de vida, estilo literário e até data de óbito.

Fernando Pessoa faleceu em 30 de novembro de 1935, deixando em seu espólio cerca de 25 mil páginas de textos, que vêm sendo publicados lentamente desde então.

Os heterônimos de Fernando Pessoa

Fernando Pessoa ficou famoso por escrever sob o nome de heterônimos.

Foram muitas e muitas personalidades criadas por ele, e abaixo fazemos um resumo biográfico das quatro mais famosas:

  • Álvaro de Campos: nascido em Tavira, em 1890. Possuía temperamento emotivo e, por isso mesmo, é às vezes eufórico e exaltado. Viajou para a Escócia e para o Oriente, educou-se na Inglaterra e formou-se engenheiro.
  • Alberto Caeiro: nascido em Lisboa, em 1889, e falecido de tuberculose. Escrevia poemas, mas não possuía educação formal. Era denominado mestre por Álvaro de Campos, que o colocava como precursor e ícone do movimento literário que ficou conhecido em Portugal como Sensacionismo. Distinguia-se pela racionalidade e objetividade, e tinha uma vida ligada ao campo e aos rebanhos.
  • Ricardo Reis: nascido no Porto, em 1887. Era médico e, segundo nos conta Pessoa, “está frequentemente no Brasil”.
  • Bernardo Soares: era um “ajudante de guarda-livros” lisboeta, autor do famosíssimo Livro do desassossego. Era considerado um “semi-heterônimo” por Fernando Pessoa, porque, nas palavras do poeta, “não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e afectividade”.

Obras de Fernando Pessoa

Fernando Pessoa publicou poucas obras em vida e, até hoje, possui parte de seus manuscritos inéditos.

Seus textos em poesia e prosa já foram editados sob muitos títulos, e abaixo destacamos algumas de suas obras mais conhecidas:

  • 35 sonnets (1918)
  • Antinous (1918)
  • English poems (1921) — em três volumes
  • Mensagem (1934)
  • A Nova Poesia Portuguesa (1944)
  • Poemas Dramáticos (1952)
  • Cartas de Amor de Fernando Pessoa (1978)
  • Sobre Portugal (1979)
  • Textos de Crítica e de Intervenção (1980)
  • Livro do desassossego (1982)
  • Obra Poética de Fernando Pessoa (1986)
  • Primeiro Fausto (1986)

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema Sossega, coração! Não desesperes!, de Fernando Pessoa.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de conferir o que escrevemos sobre Esperança, de Mário Quintana.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Poema Sossega, coração! Não desesperes!, de Fernando Pessoa (com análise). [S.I.] 2023. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poema-sossega-coracao-nao-desesperes-pessoa/. Acesso em: 26 out. 2024.