Conheça o poema Vaso chinês, de Alberto de Oliveira, e confira nossa análise!
Vaso chinês é talvez o poema mais conhecido de Alberto de Oliveira, importante poeta verde-amarelo que foi um dos protagonistas do movimento que ficou conhecido como Parnasianismo brasileiro.
Embora seja, hoje, menos conhecido que seus dois pares no movimento acima mencionado, Alberto de Oliveira gozou de grande prestígio nas letras nacionais, a ponto de ter sido eleito o “Príncipe dos Poetas”, em 1924, num concurso realizado por intelectuais do país.
Tendo atuado como farmacêutico, professor e poeta, Alberto de Oliveira foi, também, um dos fundadores da nossa Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira 8.
Dito isso, preparamos esse texto para que você conheça o poema Vaso chinês, de Alberto de Oliveira. Em seguida, você poderá conferir nossa análise.
Boa leitura!
Vaso chinês, de Alberto de Oliveira
Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.Mas, talvez por contraste à desventura,
Quem o sabe?… de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura;Que arte em pintá-la! a gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.
Análise do poema
- Tipo de verso: decassílabo rimado
- Número e tipo de estrofes: 4 estrofes: 2 quadras e 2 tercetos (soneto)
- Número de versos: 14 versos
O poema Vaso chinês é um soneto construído em decassílabos rimados, portanto, é um poema que se vale de metrificação e de rima.
Ser um soneto significa que o poema se enquadra em uma forma fixa, ou seja, que possui um número padrão de versos e estrofes: no caso do soneto, 4 estrofes, sendo 2 quadras e 2 tercetos, totalizando 14 versos.
Estrutura do poema
O poema Vaso chinês vale-se das rimas que chamamos alternadas, cruzadas ou entrelaçadas em suas quadras, conforme o esquema abab baba. Já os tercetos se apresentam conforme o esquema aba cbc.
Os versos apresentados são decassílabos, isto é, versos de dez sílabas poéticas (segundo a contagem de Castilho) e, embora apresentem variações na disposição das rimas em relação ao modelo de soneto consagrado como “clássico”, seu ritmo enquadra-se perfeitamente neste padrão.
O decassílabo italiano, célebre especialmente pelas obras de Dante e Petrarca, e que serviu como principal influência ao decassílabo praticado em português, apresenta, de praxe, acentuação ou na sexta sílaba, ou conjuntamente na quarta e na oitava (tornando, assim, a sexta acentuada por posição).
Percebemos que todos os versos de Vaso chinês enquadram-se em alguma dessas duas variações, resultando numa harmonia rítmica que é bem característica dos poetas parnasianos, tão preocupados com a forma.
O Parnasianismo em Vaso chinês
Antes de aprofundarmos no sentido de Vaso chinês, convém relembrarmos algumas características da poesia parnasiana, que tinha em Alberto de Oliveira um de seus principais representantes no Brasil:
- Rigor estético: nos poemas parnasianos há presença de métrica e rima regulares.
- Preciosismo: focaliza-se o detalhe; cada objeto deve singularizar-se.
- Autonomia e culto à perfeição: a arte vale por si mesma, a produção artística não deve ser útil, mas pura e erudita, preocupada com o belo e alheia aos problemas da realidade.
- Afastamento da linguagem oral e da realidade: em forma, a poesia parnasiana afasta-se da linguagem coloquial; em temática, afasta-se do cotidiano, dando preferência a temas abstratos ou, ao menos, descolados da vida prática.
- Vocabulário rebuscado e complexo: é comum a utilização de palavras raras, assim como de inversões sintáticas e construções de compreensão difícil.
É interessante notar como todos estes elementos apresentam-se claramente em Vaso chinês, poema que pode ser considerado um estandarte do Parnasianismo brasileiro.
Quanto ao rigor estético, já o justificamos no tópico anterior.
Quanto ao preciosismo, é autoevidente no poema, posto que não se trata este senão da singularização de um objeto, o vaso chinês.
Quanto ao culto à perfeição, percebemos que o próprio sentido do poema é a exaltação de uma obra de arte, temática muito comum no Parnasianismo, que tinha como lema o “l’art pour l’art”.
O afastamento da realidade percebemo-lo pela temática absolutamente alheia aos problemas do cotidiano.
E, finalmente, temos o vocabulário rebuscado: embora, é verdade, não seja Vaso chinês o poema em que tal característica se apresente mais acentuada na poesia parnasiana, é possível notar, por exemplo, o emprego de palavras como “luzidio” e “chim” que, na linguagem coloquial, provavelmente seriam substituídas por “brilhante” e “chinês”.
Sentido do poema
Vaso chinês é um soneto que, desde o primeiro verso, deixa claro seu objetivo: a exaltação de um objeto (“Estranho mimo aquele vaso!”…).
Esta é uma das principais marcas da poesia parnasiana: o poeta coloca-se em terceira pessoa e faz arte enquanto descreve o objeto contemplado, que é colocado no centro do poema.
Portanto, Vaso chinês é um soneto que enaltece as qualidades de um objeto, que é anunciado já no título do poema.
A primeira quadra começa apresentando-nos o tal objeto, visto “casualmente” pelo eu lírico, que já lhe confere qualidades apreciáveis: é “mimo” visto “de um perfumado contador sobre o mármor luzidio”.
Aqui, já vemos outra característica do Parnasianismo: não se trata de um objeto qualquer, mas de um objeto exótico, singular.
Na segunda quadra, de forma muito interessante, Alberto de Oliveira parece querer nos explicar o vaso através de seu autor, isto é, a arte através do artista.
O “fino artista chinês”, assim, segundo o eu lírico, conferiu qualidades próprias à sua obra, qualidades estas que misturam delicadeza e paixão, e ficam-nos vivamente delineadas através das expressões “coração doentio”, “sutil lavrado”, “tinta ardente” e “calor sombrio”.
Já nos tercetos, o que faz o poeta é prosseguir na tentativa de desvendar o artista, o que nos mostra uma imagem muito interessante: o eu lírico, isto é, o contemplador, diante do vaso, quer ver neste os traços e motivações daquele que o fez.
Portanto, parece nos dizer o poema que assim deve ser a arte contemplada ou que a arte, na verdade, é o artista.
Finalizamos os versos e percebemos que não há nenhuma lição moral a ser extraída, não há crítica social ou preocupações quaisquer com questões de ordem prática: o poema resumiu-se na emoção gerada por um ato imaginativo e de contemplação.
Assim, pois, é Vaso chinês; e após o entusiasmo com a obra de arte (“Que arte em pintá-la!”…), o poema termina com a bela imagem do eu lírico, finalmente, sentindo algo inexplicável, um “não sei quê”, e parece ver através do vaso os olhos esticados do artista chinês que o concebeu, olhos estes comparados pelo poeta a uma “feição de amêndoa”.
Sobre Alberto de Oliveira
Alberto de Oliveira (Antônio Mariano Alberto de Oliveira) nasceu em Palmital de Saquarema (RJ), em 28 de abril de 1857.
Fez os estudos primários em escola pública na vila de N. S. de Nazaré de Saquarema. Mais tarde, cursou humanidades em Niterói.
Diplomou-se em Farmácia, em 1884, e cursou a Faculdade de Medicina até o terceiro ano, onde foi colega de Olavo Bilac, com quem estabeleceu ótimas relações.
Publicou seu primeiro livro de poesia, Canções Românticas, em 1878. Na época, trabalhava como colaborador em um diário carioca.
Em 1897, tornou-se membro-fundador da Academia Brasileira de Letras.
Foi eleito “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, em 1924, pela revista carioca Fon-Fon, em concurso realizado por intelectuais brasileiros.
Era um apaixonado bibliófilo, e chegou a possuir uma das bibliotecas mais valiosas de clássicos brasileiros e portugueses, que doou à Academia Brasileira de Letras.
É lembrado, sobretudo, por ter formado a célebre tríade parnasiana com Raimundo Correia e Olavo Bilac.
Faleceu em Niterói (RJ), em 19 de janeiro de 1937.
Obras poéticas de Alberto de Oliveira
- Canções românticas (1878)
- Meridionais (1884)
- Sonetos e poemas (1885)
- Versos e rimas (1895)
- Poesias – 1ª série (1900)
- Poesias – 2ª série (1906)
- Poesias – 2 vols. (1912)
- Poesias – 3ª série (1913)
- Poesias – 4ª série (1928)
- Poesias escolhidas (1933)
- Póstumas (1944)
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema Vaso chinês, de Alberto de Oliveira.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa análise do poema A bailarina, de Cecília Meireles.
Um abraço e até a próxima!