Saiba o que é a poesia lírica, quais são seus tipos, suas características, e conheça autores famosos deste gênero literário!
A poesia lírica é um gênero literário cultivado desde a Antiguidade e, em nossos dias, é o gênero poético mais popular.
Hoje, quando dizemos “poesia”, a maioria das pessoas associa automaticamente ao gênero lírico, em que o poeta expressa seus pensamentos e sentimentos pessoais através de versos.
O gênero popularizou-se por permitir que o poeta transforme em arte sua individualidade e seu mundo interior, e diferencia-se principalmente por não adotar uma postura despegada daquilo que é expresso nos versos.
Embora o nome “lírico” tenha origem diferente, hoje, quando dizemos que algo é “lírico“, geralmente referimo-nos a algo carregado de sentimentos — forte característica deste tipo de poesia.
Dito isso, preparamos esse artigo para explicar a você em detalhes o que é a poesia lírica, quais seus tipos, suas características, além de fornecer-lhe exemplos de autores e poemas.
Boa leitura!
O que é a poesia lírica?
O gramático Napoleão Mendes de Almeida, em poucas palavras, define com precisão:
O gênero lírico ou LÍRICA consiste na expressão poética dos pensamentos e sentimentos pessoais do autor, traduzidos em ritmos análogos à sua emoção.
Portanto, a poesia lírica é um gênero literário em que o poeta busca expressar, em versos, pensamentos e sentimentos pessoais.
A poesia lírica surgiu na Grécia Antiga e era recitada em forma de canto, normalmente acompanhada de um instrumento musical.
O nome lírica é derivado do instrumento que era mais frequentemente utilizado para acompanhá-la, a lira — embora os gregos utilizavam, também, a flauta, e por vezes declamavam em coro, sem acompanhamento musical.
A voz que se manifesta no poema e exprime seus pensamentos e sentimentos é chamada de “eu lírico”, que pode representar a voz do próprio poeta, mas não necessariamente tem de fazê-lo — pode, portanto, representar uma personalidade fictícia.
Características da poesia lírica
Podemos destacar as seguintes características da poesia lírica:
- A voz que se expressa através do poema, o “eu lírico”, pode ser a voz real do autor ou uma entidade fictícia.
- Os versos são marcados pela subjetividade, ou seja, não narram fatos objetivos, mas expressam emoções, pensamentos e sentimentos experimentados pelo “eu lírico”.
- Costuma ser repleta de analogias, conotações e figuras de linguagem.
- Embora já não seja costume declamá-la com acompanhamento musical, costuma estar fortemente ligada à música, utilizando métrica, rima e destacando-se pela musicalidade dos versos.
- Geralmente, tem forte apelo sentimental e expressa o mundo interior do “eu lírico” — consequentemente, é comum aparecerem verbos e pronomes na primeira pessoa.
Tipos de poesia lírica
O gênero lírico possui várias subdivisões, que podem dizer respeito à forma (metrificação e organização das estrofes) ou ao conteúdo (caráter daquilo que é cantado).
Abaixo listamos as principais:
Ode
A ode é uma composição poética que, tradicionalmente, caracteriza-se por ser dividida em estrofes semelhantes entre si tanto pelo número, quanto pela medida dos versos.
Geralmente, a ode é um poema de exaltação (em grego, “ode” quer dizer “canto”).
Segundo Napoleão Mendes de Almeida, a ode pode ser:
- Sacra, que, segundo as circunstâncias, pode-se chamar salmo, hino, cântico.
- Anacreôntica (de Anacreonte, poeta lírico grego), em que se canta decente e graciosamente o amor, os prazeres e o vinho.
- Heroica ou pindárica (de Píndaro, príncipe dos poetas líricos gregos), de assunto e estilo nobres e elevados, em honra e louvor dos heróis, para festejar os seus feitos.
- Epódica, que se ocupa de matéria filosófico-moral.
- Sáfica, que tem por objetivo a regularidade das estâncias, que são de quatro versos cada uma; assim chamada por ter sido muito cultivada por Safo, poetisa grega.
Elegia
A elegia é um poema, geralmente pequeno, consagrado ao luto e à tristeza.
A elegia é frequentemente definida como um “canto triste”, e por isso sua temática está geralmente relacionada à morte, ao amor não correspondido, ou outros acontecimentos tristes.
Écloga
A écloga, também chamada poesia pastoril, é a poesia que retrata a vida no campo, e geralmente é composta por diálogos.
Na écloga, as vozes que se expressam no poema prestam homenagens à natureza, às suas belezas e riquezas, e exaltam a tranquilidade da vida bucólica.
Hino
O hino é um poema destinado a exaltar e glorificar uma pátria ou entidade divina.
É semelhante à ode, seja no tom, seja na estrutura, diferenciando-se porém pelo fato de que a ode mormente é destinada a personagens e o hino, ainda modernamente, costuma ser acompanhado de música.
Sátira
A sátira é um poema geralmente concebido para ironizar e ridicularizar fraquezas e defeitos humanos.
Muitas vezes, a sátira vem acompanhada de bom humor e destina-se tanto a pessoas, quanto a conjunturas sociais, políticas, econômicas, entre outras.
Soneto
O soneto é um poema em forma fixa que destaca-se na poesia lírica pelo formato.
Tendo a sua criação sido geralmente atribuída ao italiano Giacomo da Lentini, esse poema é composto por quatorze versos rimados, sendo eles divididos em dois quartetos e dois tercetos.
Exemplos de autores famosos de poesia lírica
Abaixo elencamos alguns autores famosos que compuseram poesia lírica:
- Horácio;
- Virgílio;
- Camões;
- Fernando Pessoa;
- Antero de Quental;
- Jorge Luis Borges;
- Aleksandr Pushkin;
- Manuel Bandeira;
- Victor Hugo;
- Charles Baudelaire;
- Stéphane Mallarmé;
- Paul Verlaine;
- John Keats;
- T.S. Eliot;
- William Butler Yeats;
- Edgar Allan Poe;
- Walt Whitman;
- Friedrich Hölderlin.
Exemplos de poesia lírica
Amor é um fogo que arde sem se ver, de Camões
Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É um não contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;É um estar-se preso por vontade;
É servir a quem vence o vencedor;
É um ter com quem nos mata lealdade.Mas como causar pode o seu favor
Nos mortais corações conformidade,
Sendo a si tão contrário o mesmo Amor?
- Confira nossa análise completa de Amor é um fogo que arde sem se ver, de Camões.
Entre o sono e sonho, de Fernando Pessoa
Entre o sono e sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre —
Esse rio sem fim.
Na mão de Deus, de Antero de Quental
Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita.Como as flores mortais, com que se enfeita
A ignorância infantil, despojo vão,
Depois do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.Como criança, em lôbrega jornada,
Que a mãe leva ao colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,Selvas, mares, areias do deserto…
Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!
Psicologia de um vencido, de Augusto dos Anjos
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
- Confira nossa análise completa de Psicologia de um vencido, de Augusto dos Anjos.
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que você tenha gostado de nosso artigo sobre a poesia lírica e entendido um pouco mais deste gênero literário.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver o nosso artigo sobre poesia épica.
Um abraço e até a próxima!