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Poema Busque Amor novas artes, novo engenho, de Camões (com análise)

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Conheça o poema Busque Amor novas artes, novo engenho, de Camões, e confira nossa análise!

Busque Amor novas artes, novo engenho é um dos sonetos mais conhecidos da obra lírica do poeta português Luís Vaz de Camões.

Este poema foi publicado pela primeira vez na primeira edição de Rimas, em 1595, quinze anos após a morte do autor.

Como o título sugere, a temática abordada no poema é o amor e, como em outras de suas composições, Camões adota uma abordagem criativa, complexa e instigante para expressar esse sentimento tão caro aos poetas.

Dito isso, preparamos esse texto para que você conheça o poema Busque Amor novas artes, novo engenho, de Camões. Em seguida, você poderá conferir nossa análise.

Boa leitura!

Busque Amor novas artes, novo engenho, de Camões

Busque Amor novas artes, novo engenho,
Para matar-me, e novas esquivanças;
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que n’alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei por quê.

Análise do poema

Busque Amor novas artes, novo engenho é um soneto construído em decassílabos rimados, portanto, é um poema que se vale de metrificação e de rima.

Trata-se de um soneto clássico, que se enquadra no modelo que comumente chamamos soneto italiano ou soneto petrarquiano.

Estrutura do poema

Busque Amor novas artes, novo engenho possui 14 versos divididos em quatro estrofes: duas quadras e dois tercetos.

Como dissemos, trata-se de um soneto clássico, que se encaixa no modelo que chamamos soneto italiano.

Neste tipo de soneto, associado ao poeta italiano Francesco Petrarca, temos como padrão 14 versos decassílabos rimados divididos em duas quadras e dois tercetos, de forma que as quadras apresentam dois tipos de rimas e os tercetos combinam duas ou três rimas diferentes.

As quadras de Busque Amor novas artes, novo engenho utilizam rimas que chamamos enlaçadas, ou seja, rimam em parelha dois versos entre dois outros que também rimam, conforme o esquema abba.

Já os tercetos apresentam-se conforme o esquema cde cde.

Quanto ao ritmo, os versos seguem o padrão que chamamos decassílabo heroico, e apresentam sempre a sexta sílaba acentuada.

Sentido do poema

Busque Amor novas artes, novo engenho é um poema que aborda criativamente a relação do eu lírico para com o amor que ele experimenta.

Quanto à estrutura lógica, é um soneto que se enquadra num modelo muito tradicional, onde uma proposição é apresentada e justificada nas quadras, porém rebatida por tercetos contrastantes.

Assim começa o poema:

Busque Amor novas artes, novo engenho,
Para matar-me, e novas esquivanças;
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.

Nesta estrofe, vemos que o sujeito poético faz um “desafio” ao amor, dizendo que busque “novas artes” e “novo engenho” para matá-lo, uma vez que não pode mais lhe tirar esperanças que já não tem.

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Estes versos expressam o desgosto de alguém profundamente magoado, que sofreu por um prolongado período através de variadas maneiras, e agora ironiza o próprio sofrimento como pedindo ao amor novas decepções e mais criatividade.

O eu lírico também quer, com tais versos, fazer-nos pensar que o amor já não pode contra ele, posto que já lhe destruiu o que tinha de mais caro para destruir, ou seja, o eu lírico parece dizer-nos que já não pode sofrer.

Na estrofe seguinte, o sujeito poético reforça com exclamações o seu estado de desespero e desconsolo, dizendo que não teme “contrastes nem mudanças”:

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.

Percebemos aqui, porém, que agora o eu lírico dirige-se diretamente ao leitor (“olhai”, “vede”, 2ª pessoa), e nesta estrofe o poema adquire uma complexidade interessante.

Em primeiro lugar, com o primeiro verso desta estrofe parece o eu lírico contradizer-se ou, antes, parece ele, agora que se dirige ao leitor, falar “a sério”, visto que a estrofe anterior havia sido uma ironia.

Ele, que havia dito que já não tinha esperanças, agora diz “Olhai de que esperanças me mantenho!”, dando a entender que possui, sim, esperanças, e o “de que” sugere-nos esperanças num amor extremamente improvável.

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Esta quadra expressa, pois, a perplexidade do eu lírico diante do absurdo de sua situação: ele parece agarrar-se à esperança de não sofrer mais justamente por já não ter esperança; por isso o paradoxo de “perigosas seguranças”.

Além disso, os versos desta estrofe expressam um eu lírico que já não se importa com nada, visto que está perdido e sentimentalmente arrasado.

Os tercetos, porém, dizem o seguinte:

Mas, conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que n’alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei por quê.

A conjunção adversativa “mas”, que abre estes tercetos, vem obviamente para estabelecer uma oposição, um contraste com aquilo que foi dito anteriormente.

Tal contraste é, primeiro, o fato de que, apesar de dizer-se desesperançado e dar a entender que está imune ao amor, o eu lírico confessa-nos de maneira ambígua que o amor permanece vivo dentro dele, quer dizer, o amor é algo de que, por mais que tente, ele jamais se poderá livrar.

Por conseguinte, também contrasta o fato de que, apesar de não haver possibilidade lógica para o seu sofrimento, uma vez que se lhe foram as esperanças, ele ainda há de sofrer, pois não pode vencer o sentimento que lhe habita e inexplicavelmente o machuca.

Os dois últimos versos exprimem de maneira admirável as sutilezas do amor e seu caráter violento e indefinível; enfim, quando o sujeito poético achava-se imune a novas desilusões, percebe não sê-lo, pois não pode vencer a potência do próprio sentimento.

Busque Amor novas artes, novo engenho é, pois, um poema em que o eu lírico, após expressar o quanto o amor não correspondido lhe machuca, admite-o como sempre presente dentro de si.

Sobre Luís Vaz de Camões

Luís Vaz de Camões foi um poeta português do século XVI, cuja biografia é repleta de mistérios e especulações.

Consta Camões ter nascido, oficialmente, em Lisboa, no ano de 1524; mas há quem diga que tal possa ter ocorrido em 1525.

Acredita-se que Camões tenha estudado Filosofia e Literatura na Universidade de Coimbra, local em que seu tio, o frade D. Bento de Camões, era chanceler.

Ainda jovem, Camões ingressou na carreira militar, tendo servido, como soldado, no Marrocos, onde perdeu o olho direito em batalha (fato célebre de sua biografia).

Regressando a Portugal, frequentou, entre 1550 e 1552, os salões da nobreza local. Em 1552, envolveu-se em uma briga de rua e feriu um suboficial da cavalaria do rei, acabando preso.

Um ano depois, recebeu o perdão do rei; partindo, em seguida, para a Índia, em 1553.

Em 1558, já em Macau, exerceu o cargo de provedor de defuntos e ausentes. Em 1559, diz-se que naufragou na costa do Camboja, salvando-se a nado com o manuscrito de Os Lusíadas em uma das mãos. Nesta mesma ocasião, perdeu sua amante chinesa Dinamene, a quem posteriormente dedicou vários versos.

Deste ponto em diante, a vida de Camões torna-se obscura e dela pouco se sabe a respeito.

Em 1567, somente, Camões é encontrado em Moçambique, em grande dificuldade financeira.

Com a ajuda de amigos, retorna a Portugal e, em 1572, publica sua obra-prima Os Lusíadas, dedicada ao rei D. Sebastião, o que lhe valeu uma pequena e irregular pensão.

Os últimos anos de Camões foram passados em doença e penúria. O poeta morreu, enfim, em 10 de junho de 1580, sem deixar dinheiro para o próprio enterro.

Obras de Luís Vaz de Camões

As obras de Camões já foram editadas com muitos títulos. Especialmente sua poesia lírica aparece por vezes dividida em Sonetos, Canções e Elegias, Redondilhas, entre outros.

Abaixo, porém, estão suas obras com os títulos das primeiras edições:

  • Os Lusíadas (1572)
  • Anfitriões (1587)
  • Filodemo (1587)
  • Rimas (1595)
  • El rei Seleuco (1645)

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema Busque Amor novas artes, novo engenho, de Camões.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa análise do poema Questão de pontuação, de João Cabral de Melo Neto.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Poema Busque Amor novas artes, novo engenho, de Camões (com análise). [S.I.] 2023. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/busque-amor-novas-artes-novo-engenho-camoes/. Acesso em: 25 out. 2024.