Conheça o poema Adormecida, de Castro Alves, e confira nossa análise!
Adormecida é um poema do poeta brasileiro Castro Alves, publicado originalmente em seu volume intitulado Espumas flutuantes (1870).
O poema é datado de “novembro de 1868” e é um belo representante do Romantismo brasileiro. Sua inspiração fica-nos explícita posto que aberto com uma citação do poeta francês Alfred de Musset.
Em resumo, Adormecida é um poema de cunho romântico-sensual que retrata a cena de uma mulher adormecida observada pelo eu lírico.
Dito isso, preparamos esse texto para que você conheça o poema Adormecida, de Castro Alves. Em seguida, você poderá conferir nossa análise.
Boa leitura!
Adormecida, de Castro Alves
Uma noite eu me lembro… Ela dormia
Numa rede encostada molemente…
Quase aberto o roupão… solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.‘Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina…
E ao longe, num pedaço do horizonte
Via-se a noite plácida e divina.De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras
Iam na face trêmulos — beijá-la.Era um quadro celeste!… A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia…
Quando ela serenava… a flor beijava-a…
Quando ela ia beijar-lhe… a flor fugia…Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças…
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!E o ramo ora chegava, ora afastava-se…
Mas quando a via despeitada a meio,
Pra não zangá-la… sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio…Eu, fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
“Ó flor! — tu és a virgem das campinas!
“Virgem! tu és a flor da minha vida!…”
Análise do poema
- Tipo de verso: decassílabo rimado
- Número e tipo de estrofes: 7 estrofes regulares
- Número de versos: 28 versos
Adormecida é um poema construído em decassílabos rimados, portanto, é um poema que utiliza metrificação e rima.
O poema consiste numa descrição sensual da mulher amada a dormir, observada pelo eu lírico apaixonado.
Estrutura do poema
Adormecida possui 28 versos divididos em 7 quadras (ou quartetos).
O poema utiliza rimas consoantes nos versos pares, portanto, o segundo verso de cada estrofe rima sempre com o quarto, não apresentando rimas o primeiro e o terceiro.
Todos os versos do poema são decassílabos, isto é, apresentam, cada um deles, dez sílabas poéticas.
Quanto ao ritmo, encontramos no poema duas variações: o chamado decassílabo heroico, com acentuação na sexta sílaba, que constitui o tipo predominante no poema; e o chamado verso sáfico, com acentuação na quarta e oitava sílaba, variação que aparece no quarto, no vigésimo segundo e no vigésimo terceiro verso.
Sentido do poema
Adormecida é um poema que, como o título sugere, descreve romanticamente a cena de uma mulher a dormir.
Assim o poema é aberto:
Uma noite eu me lembro… Ela dormia
Numa rede encostada molemente…
Quase aberto o roupão… solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.
Aqui, temos clara a imagem que servirá de base ao poema: uma mulher dorme enquanto é observada pelo eu lírico.
Já nesta estrofe percebemos como a cena vai sendo descrita com sensualidade: a mulher vê-se encostada “molemente”, de roupão “quase aberto”, cabelos soltos e pé descalço.
Ademais desta destacada sensualidade, percebemos também como o eu lírico dá à cena um caráter lânguido e suave, nesta estrofe principalmente através do advérbio “molemente” e das reticências que, além de sugerirem algo de onírico, também servem para suavizar o discurso.
Na segunda estrofe, deparamo-nos com uma janela aberta, pela qual entra um “cheiro agreste” e se pode ver uma noite “plácida e divina”.
Neste ponto, além de reforçar o caráter lânguido já sugerido na estrofe anterior, temos o adjetivo “divina” que eleva a cena a outro nível.
As duas estrofes seguintes, então, dotam a cena de movimento:
De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras
Iam na face trêmulos — beijá-la.Era um quadro celeste!… A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia…
Quando ela serenava… a flor beijava-a…
Quando ela ia beijar-lhe… a flor fugia…
Aqui, a cena crua poderia ser descrita como um jasmineiro cujos galhos balançavam, aproximando-se e afastando-se da mulher adormecida.
O eu lírico, porém, pinta-a com muito mais graça e dá-lhe o mesmo caráter doce e sensual já evocado nas estrofes anteriores.
O jasmineiro, assim, é como personificado, e cada aproximação da face da mulher dormente é descrita como uma tentativa de beijá-la.
Então, ficam o jasmineiro e a mulher, como será dito na estrofe seguinte, a brincar como “duas cândidas crianças”, de forma que a flor do jasmineiro “beija” a mulher, esta estremece e, quando tenta devolver o beijo, a flor “foge” com o balanço do jasmineiro.
Mais uma vez, temos o quê de divino da cena reforçado, desta vez por “quadro celeste”.
Assim, fica o eu lírico a admirar esta cena que parece querer evidenciar um elo entre sua amada, a natureza e o divino.
Quer dizer: a natureza e o divino, que se misturam à primeira, são também pano de fundo para que esta se manifeste em toda a sua beleza e graça.
Adormecida é finalizado com estes versos:
Eu, fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
“Ó flor! — tu és a virgem das campinas!
“Virgem! tu és a flor da minha vida!…”
Aqui, o que havíamos acabado de notar toma forma definitiva: o eu lírico estabelece, de vez, a identificação entre a natureza e sua amada nos dois últimos versos da estrofe, classificando a flor de “virgem” e a “virgem” de flor.
Portanto, Adormecida é um poema que descreve romântica e sensualmente o caráter lânguido e divino da mulher amada.
Sobre Castro Alves
Castro Alves nasceu em 14 de março de 1847, em Muritiba (BA).
Seu interesse pela poesia começou na infância, quando estudava na Escola do Barão de Macaúbas.
Cursou direito na Faculdade de Direito do Recife, quando foi tocado pelas ideias abolicionistas e começou a ser conhecido pelos seus versos.
Ficou especialmente popular pelo cunho social de sua poesia, que o tornou célebre e valeu-lhe apelidos como “poeta dos escravos” e “poeta republicano”.
Faleceu em Salvador (BA), com apenas 24 anos, vítima de tuberculose.
É patrono da cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras.
Obras de Castro Alves
- Espumas flutuantes (1870)
- Gonzaga, ou a revolução de Minas (1875)
- A Cachoeira de Paulo Afonso (1876)
- Os escravos (1883)
- Obra completa (1960)
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema Adormecida, de Castro Alves.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver o que escrevemos sobre Lira XIX, de Tomás Antônio Gonzaga.
Um abraço e até a próxima!