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Poema O que me dói não é, de Fernando Pessoa (com análise)

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Conheça o poema O que me dói não é, de Fernando Pessoa e confira nossa análise!

O que me dói não é é um poema escrito pelo poeta português Fernando Pessoa, disponível em Poesias (1942).

O poema é datado de 5 de setembro de 1933 e, apesar de curto, é um belo exemplo da complexidade de sentimentos que o poeta era capaz de representar.

Dito isso, preparamos esse texto para que você conheça o poema O que me dói não é, de Fernando Pessoa. Em seguida, você poderá conferir nossa análise.

Boa leitura!

O que me dói não é, de Fernando Pessoa

O que me dói não é
O que há no coração
Mas essas coisas lindas
Que nunca existirão…

São as formas sem forma
Que passam sem que a dor
As possa conhecer
Ou as sonhar o amor.

São como se a tristeza
Fosse árvore e, uma a uma,
Caíssem suas folhas
Entre o vestígio e a bruma.

Análise do poema

  • Tipo de verso: hexassílabo rimado
  • Número e tipo de estrofes: 3 estrofes regulares
  • Número de versos: 12 versos

O que me dói não é é um poema construído em hexassílabos rimados; portanto, é um poema que utiliza metrificação e rima.

São versos que se enquadram no gênero lírico e expressam a complexidade da dor experimentada pelo sujeito poético.

Estrutura do poema

O que me dói não é possui 12 versos divididos três quadras (ou quartetos).

Os versos são hexassílabos, isto é, são versos que possuem, cada um deles, seis sílabas poéticas.

As rimas são posicionadas sempre no segundo e quarto verso das estrofes; o primeiro e terceiro verso, portanto, são brancos (versos sem rima).

O ritmo dos versos é variável, o que confere um caráter dinâmico ao poema, construído neste metro que, em português, o mais das vezes é utilizado como secundário em versos majoritariamente decassílabos.

Sentido do poema

O que me dói não é é um poema que explora a complexidade de sentimentos capazes de surgir em decorrência de nossa imaginação.

Esta é uma temática recorrente na obra pessoana, que dá tonalidades numerosas para aquilo que imaginamos e que também integra a nossa experiência.

Assim é a primeira estrofe:

O que me dói não é
O que há no coração
Mas essas coisas lindas
Que nunca existirão…

Aqui, diz o eu lírico que o que lhe dói não é “o que há no coração”, ou seja, o sentimento mais físico e literal que experimenta, mas sim “essas coisas lindas que nunca existirão”.

Com isso, quer ele sugerir os sonhos que têm, a realidade imaginada, os desejos que mentalmente alimenta e nunca se realizarão.

“Essas coisas lindas”, pois, refere-se àquilo que ele fantasia, que existe em seu mundo imaginário, mas não é e não será real.

Portanto, a frustração do eu lírico é proveniente da impossibilidade de realização daquilo que imagina.

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São as formas sem forma
Que passam sem que a dor
As possa conhecer
Ou as sonhar o amor.

Esta quadra busca delinear melhor o que seriam aquelas “coisas lindas” mencionadas na estrofe anterior.

Percebemos, então, que não se tratam de coisas palpáveis, materiais, facilmente descritíveis.

O eu lírico, utilizando uma linguagem autenticamente poética, mostra-nos que as “coisas lindas” a que se refere são “formas sem formas”, que “passam sem que a dor as possa conhecer ou as sonhar o amor”.

Trata-se, portanto, de algo etéreo, inapreensível, não racionalizável, que embora possa ser imaginado e sentido, como o imagina e o sente o eu lírico, não pode ser assimilado por nossa dimensão mais mundana e material.

São como se a tristeza
Fosse árvore e, uma a uma,
Caíssem suas folhas
Entre o vestígio e a bruma.

Finalmente, o eu lírico associa a tristeza que sente a uma árvore cujas folhas caem, uma a uma, perdendo-se entre “o vestígio e a bruma”.

Tal nos sugere a imagem de algo que está a desfazer-se numa atmosfera nebulosa e indefinível; a queda das folhas, “uma a uma”, denotam uma ação inevitável, lenta e angustiante.

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O que me dói não é, portanto, é um poema que expressa uma angústia indefinível oriunda da impossibilidade de realização daquilo que podemos somente idealizar.

Sobre Fernando Pessoa

Fernando Pessoa foi um poeta e escritor português que nasceu em Lisboa, em 13 de junho de 1888.

Sua vasta obra contempla poemas, escritos filosóficos, sociológicos, astrológicos, ensaios de crítica literária, entre outros.

Em vida, Fernando Pessoa trabalhou como tradutor, correspondente estrangeiro, crítico literário e colaborador em revistas literárias, recusando alguns empregos para que pudesse se dedicar à literatura.

O poeta chegou a matricular-se na Faculdade de Letras de Lisboa, abandonando-a sem concluir o curso.

Sem dúvida, a grande excentricidade de Fernando Pessoa está em seus conhecidos heterônimos, que não são senão variações de sua própria personalidade, mas construídos com engenho incrível.

O poeta não se limitou a criar personalidades para seus heterônimos, e deu luz a uma história de vida completa para cada um deles, com data de nascimento adequando-se aos respectivos horóscopos, temperamento, estilo de vida, estilo literário e até data de óbito.

Fernando Pessoa faleceu em 30 de novembro de 1935, deixando em seu espólio cerca de 25 mil páginas de textos, que vêm sendo publicados lentamente desde então.

Os heterônimos de Fernando Pessoa

Fernando Pessoa ficou famoso por escrever sob o nome de heterônimos.

Foram muitas e muitas personalidades criadas por ele, e abaixo fazemos um resumo biográfico das quatro mais famosas:

  • Álvaro de Campos: nascido em Tavira, em 1890. Possuía temperamento emotivo e, por isso mesmo, é às vezes eufórico e exaltado. Viajou para a Escócia e para o Oriente, educou-se na Inglaterra e formou-se engenheiro.
  • Alberto Caeiro: nascido em Lisboa, em 1889, e falecido de tuberculose. Escrevia poemas, mas não possuía educação formal. Era denominado mestre por Álvaro de Campos, que o colocava como precursor e ícone do movimento literário que ficou conhecido em Portugal como Sensacionismo. Distinguia-se pela racionalidade e objetividade, e tinha uma vida ligada ao campo e aos rebanhos.
  • Ricardo Reis: nascido no Porto, em 1887. Era médico e, segundo nos conta Pessoa, “está frequentemente no Brasil”.
  • Bernardo Soares: era um “ajudante de guarda-livros” lisboeta, autor do famosíssimo Livro do desassossego. Era considerado um “semi-heterônimo” por Fernando Pessoa, porque, nas palavras do poeta, “não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e afectividade”.

Obras de Fernando Pessoa

Fernando Pessoa publicou poucas obras em vida e, até hoje, possui parte de seus manuscritos inéditos.

Seus textos em poesia e prosa já foram editados sob muitos títulos, e abaixo destacamos algumas de suas obras mais conhecidas:

  • 35 sonnets (1918)
  • Antinous (1918)
  • English poems (1921) — em três volumes
  • Mensagem (1934)
  • A Nova Poesia Portuguesa (1944)
  • Poemas Dramáticos (1952)
  • Cartas de Amor de Fernando Pessoa (1978)
  • Sobre Portugal (1979)
  • Textos de Crítica e de Intervenção (1980)
  • Livro do desassossego (1982)
  • Obra Poética de Fernando Pessoa (1986)
  • Primeiro Fausto (1986)

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema O que me dói não é, de Fernando Pessoa.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver o que escrevemos sobre Aquilo que a gente lembra, de Fernando Pessoa.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Poema O que me dói não é, de Fernando Pessoa (com análise). [S.I.] 2023. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poema-o-que-me-doi-nao-e-fernando-pessoa/. Acesso em: 14 mai. 2024.