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Poema Língua portuguesa, de Olavo Bilac (com análise)

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Conheça o poema Língua portuguesa, de Olavo Bilac, e confira nossa análise!

Língua portuguesa é um poema escrito pelo poeta brasileiro Olavo Bilac, que está disponível em Tarde (1919).

Estes estão entre os versos mais célebres de nossa língua, a qual por eles ganhou o epíteto de “última flor do Lácio”.

Resumidamente, o poema é um elogio e uma celebração das qualidades da língua portuguesa.

Dito isso, preparamos esse texto para que você conheça poema Língua portuguesa, de Olavo Bilac. Em seguida, você poderá conferir nossa análise.

Boa leitura!

Língua portuguesa, de Olavo Bilac

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela…

Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

Análise do poema

Língua portuguesa é um soneto construído em decassílabos rimados, portanto, é um poema que utiliza metrificação e rima.

Estrutura do poema

Línguq portuguesa é um soneto, portanto, possui 14 versos divididos em 4 estrofes, sendo elas duas quadras e dois tercetos.

Poderíamos classificar este poema como tradicional quanto à disposição das estrofes, posto que apresenta duas quadras e dois tercetos, possuindo aquelas duas rimas e estes três.

Há, porém, um detalhe que o diferencia dos sonetos tradicionais, e consiste na inversão operada nas rimas das quadras: embora ambas apresentem rimas que chamamos enlaçadas, a primeira quadra rima conforme o esquema abba, já a segunda conforme o esquema baab

Os tercetos apresentam-se conforme o esquema cdc ede.

Quanto ao ritmo, todos os versos apresentam ou acentuação na sexta sílaba, conforme o padrão que chamamos decassílabo heroico, ou acentuação na quarta e oitava, conforme o padrão que chamamos sáfico.

Sentido do poema

Língua portuguesa é, resumidamente, um elogio à língua portuguesa.

Este poema, contudo, é interessante por motivos que vão muito além dos clichês patrióticos.

Assim é a primeira estrofe:

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela…

O poema é aberto com uma demonstração do gênio poético de Bilac que, referindo-se à língua portuguesa como “última flor do Lácio”, conferiu a ela um epíteto da qual ela nunca mais se separou.

Este singular epíteto é curioso porque sintetiza, além de um elogio (“flor”), a formação histórica da língua.

“Última flor do Lácio” faz referência ao fato de que a língua portuguesa foi a última língua formada a partir do latim vulgar falado na região italiana do Lácio.

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O adjetivo “inculta”, empregado logo em seguida, não possui tom depreciativo, mas refere-se ao fato de que a língua originou-se do latim vulgar, falado nas ruas, e não do latim clássico, empregado nas obras literárias.

O segundo verso, através de “esplendor e sepultura”, demonstra que a ascensão da língua portuguesa deu-se concomitantemente ao desuso do latim.

O poema prossegue com um elogio à expressividade da língua, que pode representar desde uma “tuba de alto clangor” até uma “lira singela” ou o “arrolo da saudade e da ternura”.

No primeiro terceto, a língua é comparada a “virgens selvas” e ao “oceano largo”, o que destaca, primeiro, o seu caráter de idioma jovem, ainda não trabalhado (reforçado pelo adjetivo “rude”) e, em segundo lugar, a sua gama imensa de possibilidades.

O poema é finalizado de maneira comovente:

Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

No primeiro verso, vemos que o eu lírico associa o idioma à sua recordação mais tenra, antiga e profunda: a voz materna, que simboliza o amor, dizendo “meu filho”.

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Em seguida, diz a língua ter sido veículo de expressão (e consolo) das dores sofridas por Camões.

Todas essas qualidades singulares, em suma, servem para pintar o idioma como detentor de uma vasta gama de possibilidades além de, como fica evidente, expressar a conexão íntima e pessoal travada com o eu lírico.

Língua portuguesa, portanto, é um poema que exalta a singularidade, a beleza e a força do português.

Sobre Olavo Bilac

Olavo Bilac nasceu no Rio de Janeiro em 16 de dezembro de 1865.

Após os estudos primários e secundários, matriculou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, deixando-a no 4º ano.

Seguiu para São Paulo, onde ingressou no curso de direito, abandonando-o também para dedicar-se integralmente ao jornalismo e à literatura.

Participou da fundação de vários jornais, como A Cigarra, A Rua e O Meio. Trabalhou durante muitos anos no jornal Gazeta de Notícias, escrevendo especialmente artigos sobre política.

Sua intensa atividade jornalística nos primeiros anos de república garantiu-lhe a perseguição do ditador Floriano Peixoto, o que o obrigou a se esconder em Minas Gerais.

Em 1891, foi nomeado oficial da Secretária do Interior do Estado do Rio.

Em 1907, exerceu o cargo de secretário do prefeito do Distrito Federal.

Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e ocupou a cadeira 15, cujo patrono é Gonçalves Dias.

Faleceu, no Rio de Janeiro, em 28 de dezembro de 1918.

Obras de Olavo Bilac

  • Poesias (1888)
  • Crônicas e novelas (1894)
  • Sagres (1898)
  • Crítica e fantasia (1904)
  • Poesias infantis (1904)
  • Conferências literárias (1906)
  • Tratado de versificação, com Guimarães Passos (1910)
  • Dicionário de rimas (1913)
  • Ironia e piedade (1916)
  • Tarde (1919)

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema Língua portuguesa, de Olavo Bilac.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de conferir o que escrevemos sobre Círculo vicioso, de Machado de Assis.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Poema Língua portuguesa, de Olavo Bilac (com análise). [S.I.] 2024. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poema-lingua-portuguesa-olavo-bilac-analise/. Acesso em: 25 out. 2024.