Conheça o poema Cavador do Infinito, de Cruz e Sousa, e confira nossa análise!
Cavador do Infinito é um poema escrito pelo poeta brasileiro Cruz e Sousa, que está disponível em seu livro Últimos sonetos (1905).
Esta bela composição tem como temática a busca do homem por compreender a realidade e dela obter as justificativas para aquilo que experimenta.
O poema é recheado de simbolismo e tem como figura central o homem, munido de uma lâmpada, cavando o infinito que desconhece.
Dito isso, preparamos esse texto para que você conheça Cavador do Infinito, de Cruz e Sousa. Em seguida, você poderá conferir nossa análise do poema.
Boa leitura!
Cavador do Infinito, de Cruz e Sousa
Com a lâmpada do Sonho desce aflito
E sobe aos mundos mais imponderáveis,
Vai abafando as queixas implacáveis,
Da alma o profundo e soluçado grito.Ânsias, Desejos, tudo a fogo, escrito
Sente, em redor, nos astros inefáveis.
Cava nas fundas eras insondáveis
O cavador do trágico Infinito.E quanto mais pelo Infinito cava
Mais o Infinito se transforma em lava
E o cavador se perde nas distâncias…Alto levanta a lâmpada do Sonho
E com seu vulto pálido e tristonho
Cava os abismos das eternas ânsias!
Análise do poema
- Tipo de verso: decassílabo rimado
- Número e tipo de estrofes: 4 estrofes: 2 quadras e 2 tercetos (soneto)
- Número de versos: 14 versos
Cavador do Infinito é construído em decassílabos rimados; portanto, é um poema que utiliza metrificação e rima.
Trata-se de um soneto construído de maneira clássica, tanto na métrica, quanto na disposição das rimas e no ritmo dos versos.
Estrutura do poema
Cavador do Infinito é um soneto, portanto possui 14 versos divididos em 4 estrofes, sendo elas duas quadras e dois tercetos.
Os versos são decassílabos, isto é, apresentam, cada um deles, dez sílabas poéticas; metro este que é o mais comum e tradicional em se tratando de sonetos.
As quadras apresentam uma disposição de rimas que chamamos enlaçadas, ou seja, apresentam dois versos rimando em parelha entre dois outros que também rimam, conforme o esquema abba.
Os tercetos apresentam rimas conforme o esquema ccd eed.
Quanto ao ritmo, os versos apresentam duas variações: a primeira, com acentuação na sexta sílaba, em verso que chamamos decassílabo heroico; a segunda, em verso que chamamos sáfico, com acentuação na quarta e na oitava sílaba.
Sentido do poema
Cavador do Infinito é um poema que aborda a busca do homem por compreender a realidade circundante.
Este poema é, como o seu autor, frequentemente associado ao Simbolismo brasileiro, visto que se vale de símbolos e de uma linguagem sugestiva, meio enigmática, para expressar aquilo que deseja.
Assim é a primeira estrofe:
Com a lâmpada do Sonho desce aflito
E sobe aos mundos mais imponderáveis,
Vai abafando as queixas implacáveis,
Da alma o profundo e soluçado grito.
O título anuncia-nos um “cavador do Infinito”; nesta primeira quadra, vemos que ele dispõe da “lâmpada do Sonho”.
Esta lâmpada simboliza a imaginação, que serve de luz ao “cavador”, guiando-o em sua busca em direção ao desconhecido.
Como se percebe nestes versos, o “cavador” se encontra “aflito”, perscrutando nos “mundos mais imponderáveis”, os quais parecem não lhe oferecer as respostas que procura.
Disso, o resultado é mais e mais aflição.
Ânsias, Desejos, tudo a fogo, escrito
Sente, em redor, nos astros inefáveis.
Cava nas fundas eras insondáveis
O cavador do trágico Infinito.
Nesta estrofe, temos uma visão mais clara de que a busca do “cavador” não se trata de uma busca simplesmente objetiva, desinteressada, que quer compreender uma realidade dissociada de si mesmo.
A busca lhe suscita sentimentos pessoais fortíssimos, e por isso percebemos que, em verdade, o que deseja o “cavador” é compreender-se, entender o universo para que, em seguida, entenda a si mesmo e encontre sentido para aquilo que sente.
O Infinito aí retratado representa tanto a vastidão, quanto o mistério da realidade circundante; dando um passo adiante, poderíamos concluir que o que busca o “cavador”, em suma, é o elo que o conecta a esse todo insondável.
Finalmente, os tercetos:
E quanto mais pelo Infinito cava
Mais o Infinito se transforma em lava
E o cavador se perde nas distâncias…Alto levanta a lâmpada do Sonho
E com seu vulto pálido e tristonho
Cava os abismos das eternas ânsias!
Aqui, temos retratada, primeiramente, a natureza fugidia e inapreensível do conhecimento: é a velha história de que quanto mais se conhece, mais se percebe o quanto não se conhece.
Assim, diz o eu lírico que “quanto mais pelo Infinito cava”, mais o “cavador se perde”, transmitindo-nos a ideia de que a tal busca é, finalmente, frustrante, pois agrava cada vez mais o sentimento de incompreensão.
No último terceto, o “cavador” ergue a lâmpada ao alto, como se demonstrasse coragem diante das frustrações anteriores; contudo, é com “vulto pálido e tristonho” que prossegue a cavar.
Tal nos mostra que, a despeito dos fracassos e a despeito de parecer cada vez mais distante daquilo que procura, é preciso que o “cavador” não desista e continue a buscar.
Cavador do Infinito, portanto, é um poema que retrata as dificuldades da busca por sentido em nossas vidas e, simultaneamente, demonstra-nos que efetivá-la é uma necessidade da qual não podemos nos furtar.
Sobre Cruz e Sousa
Cruz e Sousa nasceu em 24 de novembro de 1861, em Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis), em Santa Catarina.
Nasceu livre, por ser filho de escravos alforriados, e foi criado como filho adotivo do Marechal de Campo Guilherme Xavier de Sousa e Clarinda Fagundes de Sousa.
Teve a educação patrocinada pela mesma família de aristocratas que alforriou seus pais, fazendo os primeiros estudos em Santa Catarina e, em seguida, movendo-se a São Paulo, onde cursou direito e formou-se em 1881.
Iniciou sua carreira literária como jornalista e colaborou em diversas publicações.
Publicou seu primeiro livro de poesias, Tropos e Fantasias, em 1885.
Em 1893, lançou Missal e Broquéis, obras que se tornaram marcos do Simbolismo brasileiro.
Foi apelidado “Dante negro”, em referência ao poeta italiano Dante Alighieri, e tornou-se um dos poetas mais importantes do Brasil.
Apesar do reconhecimento literário, enfrentou dificuldades financeiras e problemas de saúde.
Faleceu em 19 de março de 1898, em Antônio Carlos (MG), vítima de tuberculose.
É patrono da cadeira 15 da Academia Catarinense de Letras.
Obras de Cruz e Sousa
- Tropos e Fantasias (1885)
- Missal (1893)
- Broquéis (1893)
- Evocações (1898)
- Faróis (1900)
- Últimos sonetos (1905)
- Outras evocações (1961)
- O livro derradeiro (1961)
- Dispersos (1961
- Poemas inéditos (1996)
- Últimos inéditos (2013)
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema Cavador do Infinito, de Cruz e Sousa.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver o que escrevemos sobre Canção, de Cecília Meireles.
Um abraço e até a próxima!