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Poema Convite à Marília, de Bocage (com análise)

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Conheça o poema Convite à Marília, de Bocage, e confira nossa análise!

Convite à Marília é um poema escrito pelo poeta português Bocage, cuja data precisa de publicação é-nos um mistério.

Esta é uma composição em que Bocage mostra o porquê de ter sido considerado um verdadeiro mestre por inúmeros poetas portugueses.

À parte da técnica, o poema se trata de um convite romântico feito pelo eu lírico à sua amada, com o objetivo de que apreciem, juntos, as belezas da primavera.

Dito isso, preparamos esse texto para que você conheça Convite à Marília, de Bocage. Em seguida, você poderá conferir nossa análise.

Boa leitura!

Convite à Marília, de Bocage

Já se afastou de nós o inverno agreste
Envolto nos seus úmidos vapores;
A fértil Primavera, a mãe das flores
O prado ameno de boninas veste:

Varrendo os ares o sutil nordeste
Os torna azuis; as aves de mil cores
Adejam entre Zéfiros e Amores,
E toma o fresco Tejo a cor celeste:

Vem, ó Marília, vem lograr comigo
Destes alegres campos a beleza
Destas copadas árvores o abrigo:

Deixa louvar da corte a vã grandeza:
Quanto me agrada mais estar contigo
Notando as perfeições da Natureza!

Análise do poema

Convite à Marília é construído em decassílabos rimados; portanto, é um poema que utiliza metrificação e rima.

O poema, quanto à forma, enquadra-se no padrão que chamamos comumente soneto italiano ou petrarquiano.

Estrutura do poema

Convite à Marília é um soneto, portanto, possui 14 versos divididos em 4 estrofes, sendo elas duas quadras e dois tercetos.

Os versos são decassílabos, isto é, apresentam, cada um deles, dez sílabas poéticas.

As quadras apresentam rimas que chamamos enlaçadas, ou seja, rimam em parelha dois versos entre dois outros que também rimam, conforme o esquema abba.

Já os tercetos apresentam rimas que chamamos alternadas, cruzadas ou entrelaçadas, isto é, são rimas que se alternam, conforme o esquema cdc dcd.

Quanto ao ritmo, os versos apresentam duas variações básicas: a primeira, com acentuação na sexta sílaba, em padrão que chamamos decassílabo heroico; a segunda, com acentuação na quarta e oitava sílaba, em padrão que chamamos verso sáfico.

Sentido do poema

Convite à Marília é um soneto em que o eu lírico convida a sua amada para apreciar com ele as belezas da natureza.

Este é um belo poema por muitos motivos: desde o requinte da forma e sonoridade até os sentimentos inspirados, aqui Bocage se nos mostra com todo o seu engenho poético.

Assim é a primeira estrofe:

Já se afastou de nós o inverno agreste
Envolto nos seus úmidos vapores;
A fértil Primavera, a mãe das flores
O prado ameno de boninas veste:

Sabemos, pelo título, que o poema se trata de um convite. Nesta primeira estrofe, o eu lírico faz como que uma introdução, ou uma justificativa para o convite que será feito.

Resumidamente, o que vemos é uma narração de que “acabou o inverno, e agora estamos na primavera”.

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Tal descrição é feita, contudo, de maneira criativa e inspiradora, a pintar a chegada da primavera como um tempo de alegria e beleza após a superação dos rigores do inverno.

Varrendo os ares o sutil nordeste
Os torna azuis; as aves de mil cores
Adejam entre Zéfiros e Amores,
E toma o fresco Tejo a cor celeste:

Aqui, temos uma continuação da descrição que começou a ser feita na primeira estrofe.

O eu lírico continua a descrever de maneira vívida todo o colorido que a primavera traz à natureza, insuflando-o de uma atmosfera de paz, harmonia e paixão.

Feita a descrição, chegamos ao convite:

Vem, ó Marília, vem lograr comigo
Destes alegres campos a beleza
Destas copadas árvores o abrigo:

Deixa louvar da corte a vã grandeza:
Quanto me agrada mais estar contigo
Notando as perfeições da Natureza!

Enfim, o eu lírico convida Marília a compartilhar consigo a apreciação da natureza descrita, e fá-lo em tom inspirado, como comovido pelo cenário idílico pintado nas estrofes anteriores.

O convite representa uma temática frequente no Arcadismo, que é a fuga da cidade (simbolizada pela corte) em direção ao campo, retratado como local de paz, tranquilidade e harmonia.

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No último terceto, o sujeito poético se justifica dizendo o “quanto mais” o agrada a companhia de Marília quando a contemplar “as perfeições da Natureza”, o que nos revela seu sentimento e estabelece, em suma, um elo harmônico entre a natureza e o amor.

Convite à Marília, portanto, é um poema que celebra a associação daquilo que há de belo dentro e fora de nós.

Sobre Bocage

Manuel Maria Barbosa l’Hedois du Bocage nasceu em 15 de setembro de 1765 na vila de Setúbal, em Portugal.

Filho de um jurista, perdeu a mãe quando ainda criança, em 1774.

Em 1781, deu início à carreira militar que abandonaria anos depois, alistando-se no Regimento de Infantaria de Setúbal.

Em 1783, foi transferido para a recém-fundada Academia dos Guardas-Marinhas, desertando no ano seguinte.

Foi enviado para Goa, na qualidade de guarda-marinha, em 1786, passando pelo Rio de Janeiro e pela Ilha de Moçambique.

Em 1789, foi promovido a segundo-tenente e rumou a Damão. Abandonou este território, seguindo para Surate e, após breve passagem por Cantão, seguiu para Macau, de onde regressou a Portugal.

Em 1790, chega a Lisboa e adere à recém-fundada Academia das Belas-Letras. É neste ano, também, que publica sua primeira elegia.

O primeiro tomo de Rimas, assim como duas outras obras, são publicados em 1791, ano após o qual se segue intensa atividade literária.

Em 1794, após divergências, é expulso da Academia das Belas-Letras.

É preso em agosto de 1797 e conduzido ao Limoeiro; em dezembro, é transferido para os cárceres do Santo Ofício.

No ano seguinte, foi enviado para o Convento de S. Bento, com o fim de ser “reeducado”, sendo confinado, por ordem do príncipe regente, no Hospício das Necessidades, já no mês seguinte.

Embora tenha usufruído de ampla biblioteca nesta ordem religiosa, a estada durou menos de dois meses, quando foi solto.

Em 1802, responde ao Santo Ofício, acusado de pertencer à maçonaria.

É atingido por um aneurisma na carótida em 1805. Pressentindo a morte, teve atividade literária intensíssima, e publica diversas obras.

Faleceu em Lisboa, em 21 de dezembro de 1805, com 40 anos, vítima da mesma doença.

Obras de Bocage

  • Rimas (1791)
  • Queixumes do pastor Elmano contra a falsidade da pastora Urselina (1791)
  • Idílios marítimos (1791)
  • Eufemia ou o triunfo da religião (1793)
  • Improvisos de Bocage na sua mui perigosa enfermidade (1805)
  • Mágoas amorosas de Elmano (1805)
  • A gratidão (1805)
  • A virtude laureada (1805)
  • Obras poéticas de Bocage (1812)
  • Poesias eróticas, burlescas e satíricas (1854)

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema Convite à Marília, de Bocage.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de conferir o que escrevemos sobre Cavador do Infinito, de Cruz e Sousa.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Poema Convite à Marília, de Bocage (com análise). [S.I.] 2023. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poema-convite-a-marilia-bocage-poesia-analise/. Acesso em: 6 nov. 2024.