Saiba identificar quantos versos tem um poema e classificá-lo segundo a nomenclatura poética conhecendo, também, o que são formas fixas na poesia!
Muitos estudantes, ao começarem a se aprofundar no estudo da poesia, questionam quantos versos tem um poema, julgando que exista um número específico de versos que definem uma construção poética.
Não há, naturalmente, um número fixo de versos que diz o que é ou não é poesia; porém, há formas poéticas consagradas pelo tempo que, com um número fixo de versos, constituem o que chamamos em poesia de “formas fixas”.
Além disso, em poesia, as estrofes são classificadas conforme o número de versos que possuem, e é importante para o estudante conhecer-lhes a denominação, para que não enfrente dificuldade quando encontrá-la em textos de grandes artistas ou quando, a procurar quantos versos tem determinado poema, descobrir que ele se constitui de “x” quadras, “x” tercetos, etc.
Sendo assim, preparamos esse artigo para você que possui dúvidas em quantos versos tem um poema, e iremos explicar-lhe a nomenclatura poética tanto para as chamadas “formas fixas”, quanto para os tipos de estrofes.
Boa leitura!
Classificação das estrofes quanto ao número de versos
Para falar sobre as formas fixas na poesia precisamos, antes, explicar como são classificadas as estrofes.
As estrofes (ou estâncias) são grupos de versos pelos quais o discurso poético quase sempre é dividido — quase sempre, porque há poemas em forma corrida, ou seja, poemas não divididos em grupos menores de versos.
As estrofes podem ser simples, quando possuem apenas versos de mesma medida; compostas, quando determinados versos maiores mesclam-se a outros versos menores; ou livres, quando são construídas com versos de qualquer medida.
Em todos esses casos, as estrofes podem ser nomeadas conforme o número de versos que possuem, seguindo o padrão abaixo:
- Dístico: é chamada dístico a estrofe que contém dois versos.
- Terceto: é chamada terceto (ou trístico) a estrofe que contém três versos.
- Quadra: é chamada quadra (ou quarteto) a estrofe que contém quatro versos.
- Quintilha: é chamada quintilha a estrofe que contém cinco versos.
- Sextilha: é chamada sextilha a estrofe que contém seis versos.
- Sétima: é chamada sétima (ou setilha, ou setena ou hepteto) a estrofe que contém sete versos.
- Oitava: é chamada oitava a estrofe que contém oito versos.
- Nona: é chamada nona a estrofe que contém nove versos.
- Décima: é chamada décima a estrofe que contém dez versos.
Todos esses tipos de estrofes podem ou não conter rima, e podem ou não constituírem o padrão de estrofe de toda a composição.
As formas fixas na poesia
Apresentadas as estrofes, é hora de falar sobre quantos versos tem um poema de forma fixa.
As formas fixas são modelos de composição consagrados pelo tempo e amplamente utilizados num idioma; são formas, portanto, definidas, geralmente quanto ao número de versos, à organização das estrofes e, às vezes, à disposição das rimas.
Em língua portuguesa, alguns dos tipos mais encontrados são:
Soneto
Sem dúvida, é o soneto o modelo mais consagrado da língua portuguesa. Esse tipo de poema possui, basicamente, duas variações: o soneto italiano (ou petrarquiano) e o soneto inglês (ou shakespeariano).
O soneto italiano possui duas quadras e dois tercetos, e apresenta distribuição de rimas variável (embora, para que seja considerado soneto, deva obrigatoriamente rimar).
Um exemplo de Augusto dos Anjos:
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
O soneto inglês, popularizado por William Shakespeare, compõe-se de três quadras e um dístico, embora, por vezes, apareça agrupado como um soneto italiano.
Abaixo, um exemplo de Vinícius de Moraes (que, no original, é agrupado como soneto italiano, mas transcreveremos como inglês):
Apavorado acordo, em treva. O luar
É como o espectro do meu sonho em mim
E sem destino, e louco, sou o mar
Patético, sonâmbulo e sem fim.Desço na noite, envolto em sono; e os braços
Como ímãs, atraio o firmamento
Enquanto os bruxos, velhos e devassos
Assoviam de mim na voz do vento.Sou o mar! sou o mar! meu corpo informe
Sem dimensão e sem razão me leva
Para o silêncio onde o Silêncio dorme
Enorme. E como o mar dentro da trevaNum constante arremesso largo e aflito
Eu me espedaço em vão contra o infinito.
No que se refere à disposição das rimas, é importante ressaltar que, no soneto italiano clássico, obrigatoriamente o padrão de rima da primeira quadra é repetido na segunda. Já no soneto inglês, as três quadras possuem rimas independentes.
Rondó
O rondó é uma forma fixa francesa, que possui quinze versos, distribuídos em três estrofes, segundo o esquema aabba/aabc/aabbac, de forma que o “c” representa as palavras iniciais da primeira estrofe, que são repetidas como estribilho.
Exemplo de Goulart de Andrade:
Lá, longe, entre árvores eu vejo,
Tão vario como o teu desejo…
Saindo branco de um casal,
O fumo, em lânguida espiral,
Macio como um leve adejo.Dize, será em vão que almejo,
Ouvindo a música do beijo
Viver contigo um sonho real
Lá, longe?Se ardes por mim, se eu te desejo
(Vê tu que esplêndido!)
Foge do mundo ao torvo mal,
Rosa vem para o meu rosal,
Que da invernia eu te protejo,
Lá, longe…
Na língua portuguesa, esse tipo de poema foi bastante cultivado na redondilha maior (verso de sete sílabas), e também foi adaptado para um número de estrofes variável.
Rondel
O rondel é um poema em forma fixa de treze versos, distribuídos em três estrofes, e geralmente organizado segundo o esquema ABba/abAB/abbaA, de forma que os versos em maiúscula se repetem como estribilho.
Há, porém, algumas variações, como neste poema de Olavo Bilac:
Sobre as ondas oscila o batel docemente…
Sopra o vento a gemer… Treme enfunada a vela…
Na água mansa do mar passam tremulamente
Áureos traços de luz, brilhando esparsos nela.Lá desponta o luar… Tu, palpitante e bela,
Canta! Chega-te a mim! Dá-me essa boca ardente!
Sobre as ondas oscila o batei docemente…
Sopra o vento a gemer… Treme enfunada a vela…Vagas azuis, parai! Curvo céu transparente,
Nuvens de prata, ouvi!… Ouça na altura a estrela,
Ouça de baixo o oceano, ouça o luar albente:
Ela canta!… e, embalado ao som do canto dela,
Sobre as ondas oscila o batel docemente.
Balada
A balada é mais uma forma francesa, e constitui-se de 28 versos distribuídos segundo o esquema ababbcbC/ababbcbC/ababbcbC/bcbC, de forma que a maiúscula C representa o estribilho.
Um exemplo de Filinto de Almeida, com pequena variação no último versos das estrofes, que repete somente a palavra rimada, em vez de repetir o verso completo:
Por noite velha, no castelo,
Vasto solar de meus avós,
Foi que eu ouvi, num ritornelo,
Do pajem loiro a doce voz.
Corri à ogiva para vê-lo,
Vitrais de par em par abri,
E ao ver brilhar o meu cabelo
Ele sorriu-me, e eu lhe sorri.Venceu-me logo um vivo anelo,
Queimou-me logo um fogo atroz;
E toda a longa noite velo,
Pensando em vê-lo e ouvi-lo a sós.
Triste, sentada no escabelo,
Só com a aurora adormeci…
Sonho… e no sonho, haveis de crê-lo?
Inda o meu pajem me sorri.Seguindo a amá-lo, com desvelo,
Por noite velha um ano após,
Termina enfim o meu flagelo,
Felizes fomos ambos nós…
Como isto foi, nem sei dizê-lo!
No colo seu desfaleci…
E alta manhã, no seu murzelo,
O pajem foge… e inda sorri.Dias depois, do pajem belo,
Junto ao solar onde eu o ouvi,
Ao golpe horrível do cutelo,
Rola a cabeça e inda sorri!…
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que você tenha gostado de nosso artigo e tirado suas dúvidas sobre quantos versos tem um poema, estrofação e formas fixas.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver o que escrevemos sobre a poesia parnasiana.
Um abraço e até a próxima!