Conheça o poema A um poeta, de Olavo Bilac, e confira nossa análise!
A um poeta é um poema escrito pelo poeta brasileiro Olavo Bilac, que está disponível em Tarde (1919).
Este belo poema é uma reflexão sobre o trabalho do poeta, que explora tanto as suas dificuldades, como o seu objetivo.
Dito isso, preparamos esse texto para que você conheça poema A um poeta, de Olavo Bilac. Em seguida, você poderá conferir nossa análise.
Boa leitura!
A um poeta, de Olavo Bilac
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego.Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
Análise do poema
- Tipo de verso: decassílabo rimado
- Número e tipo de estrofes: 4 estrofes: 2 quadras e 2 tercetos (soneto)
- Número de versos: 14 versos
A um poeta é um soneto construído em decassílabos rimados, portanto, é um poema que utiliza metrificação e rima.
Estes versos refletem sobre o ofício do poeta, e são construídos de maneira quase inteiramente tradicional, como veremos a seguir.
Estrutura do poema
A um poeta é um soneto, portanto, possui 14 versos divididos em 4 estrofes, sendo elas duas quadras e dois tercetos.
Poderíamos classificar este poema como tradicional quanto à disposição das estrofes, posto que apresenta duas quadras e dois tercetos, possuindo aquelas duas rimas e estes três.
Há, porém, um detalhe que o diferencia dos sonetos tradicionais, e consiste na inversão operada nas rimas das quadras: embora ambas apresentem rimas que chamamos enlaçadas, a primeira quadra rima conforme o esquema abba, já a segunda conforme o esquema baab
Os tercetos apresentam-se conforme o esquema cdc ede.
Quanto ao ritmo, todos os versos apresentam ou acentuação na sexta sílaba, conforme o padrão que chamamos decassílabo heroico, ou acentuação na quarta e oitava, conforme o padrão que chamamos sáfico.
O último verso, variação curiosa, enquadra-se neste último padrão, posto que, por posição, tem sua oitava sílaba acentuada, ainda que nela não caia o acento tônico vocabular.
Sentido do poema
A um poeta é um poema que reflete sobre o ofício de escrever um poema.
A este tipo de discurso dá-se o nome metalinguagem, isto é, trata-se de um poema cuja temática é o próprio fazer poético ou, simplificando, é um poema que fala sobre fazer um poema.
Como anunciado pelo título, o poema é direcionado “a um poeta”, e assim é sua primeira estrofe:
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!
Aqui, temos, em suma, uma descrição realista daquilo que é o verdadeiro trabalho do poeta.
Ao contrário do que pode parecer, e ao contrário do que já foi pintado por muitos artistas, como romantizando o próprio trabalho, fazer poesia não é algo leve e agradável — ao menos, não o é para o poeta sério.
O eu lírico descreve o ambiente no qual o poeta se recolhe para criar, e o compara a um claustro, onde o poeta pode isolar-se do mundo para dedicar-se inteiramente à sua criação.
Já o poeta, por sua vez, é comparado a um monge beneditino.
Os beneditinos eram conhecidos por sua disciplina e dedicação incansável a trabalhos meticulosos, portanto, o que quer o eu lírico com essa comparação é destacar o trabalho árduo que envolve a criação poética.
Tal é reforçado pelo último verso, que representa o esforço necessário e as agruras do penoso processo de criação.
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego.
Nesta estrofe, o eu lírico descreve aquilo que se objetiva com tamanho esforço.
O poeta, pois, tem de disfarçar o esforço empregado na construção do poema e fazer com que sua forma se apresente “rica, mas sóbria, como um templo grego”.
Esta comparação quer ressaltar a beleza, a elegância e harmonia da arquitetura grega, que deve servir de inspiração para o poeta.
Finalmente, os tercetos:
Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
O primeiro terceto é um reforço da quadra anterior: o eu lírico repete a recomendação de que se não deixe transparecer no poema o esforço realizado para construí-lo.
Aqui, porém, há uma nova comparação: o poema pronto é comparado a um edifício que, para ser construído, necessita de andaimes, os quais são retirados após finalizado o trabalho.
Portanto, ele recomenda que sejam escondidos tais andaimes, ou seja, que não se mostre no poema aquilo que foi necessário para escrevê-lo.
Por fim, o eu lírico diz que a arte pura é “inimiga do artifício” e “é a força e a graça na simplicidade”.
Isso quer dizer que o eu lírico recomenda que se busque uma arte simples e sincera, que não se valha de artifícios para simular algo falso: a arte deve estar em harmonia com a verdade interior do artista.
A um poeta, portanto, é uma exortação à dedicação, ao trabalho duro e à busca da simplicidade na arte poética.
Sobre Olavo Bilac
Olavo Bilac nasceu no Rio de Janeiro em 16 de dezembro de 1865.
Após os estudos primários e secundários, matriculou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, deixando-a no 4º ano.
Seguiu para São Paulo, onde ingressou no curso de direito, abandonando-o também para dedicar-se integralmente ao jornalismo e à literatura.
Participou da fundação de vários jornais, como A Cigarra, A Rua e O Meio. Trabalhou durante muitos anos no jornal Gazeta de Notícias, escrevendo especialmente artigos sobre política.
Sua intensa atividade jornalística nos primeiros anos de república garantiu-lhe a perseguição do ditador Floriano Peixoto, o que o obrigou a se esconder em Minas Gerais.
Em 1891, foi nomeado oficial da Secretária do Interior do Estado do Rio.
Em 1907, exerceu o cargo de secretário do prefeito do Distrito Federal.
Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e ocupou a cadeira 15, cujo patrono é Gonçalves Dias.
Faleceu, no Rio de Janeiro, em 28 de dezembro de 1918.
Obras de Olavo Bilac
- Poesias (1888)
- Crônicas e novelas (1894)
- Sagres (1898)
- Crítica e fantasia (1904)
- Poesias infantis (1904)
- Conferências literárias (1906)
- Tratado de versificação, com Guimarães Passos (1910)
- Dicionário de rimas (1913)
- Ironia e piedade (1916)
- Tarde (1919)
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema A um poeta, de Olavo Bilac.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de conferir o que escrevemos sobre Inscrição na areia, de Cecília Meireles.
Um abraço e até a próxima!